Dia das Mães: Jornalista e advogada revela os desafios e as realizações de ser uma mãe LGBT

Janaira Silva destaca a sua mensagem para sua comunidade: “Nós podemos ser o que nós quisermos”

Janaira Silva, de 43 anos, não se prende a rótulos, como mostra em seu currículo. Educadora há mais de 24 anos, ela também atua como advogada e jornalista. Natural de Cruzeiro do Sul, Janaira conversa com o ContilNet sobre uma parte de si mesma que sempre a fez sonhar e que finalmente realizou: ser mãe.

A mãe da Camila deixa claro como a solução para problemas, como este, está em um sentimento que resolve, sara, e cicatriza tudo: o amor/Foto: Cedida

Historicamente, políticos e a sociedade não veem a maternidade LGBTQIAPN+ como normal. Isso é evidente na aprovação, apenas em março deste ano, do direito à licença-maternidade para mães não gestantes em uniões homoafetivas, ocorrida apenas em março deste ano.

A homoparentalidade, quando uma pessoa homossexual tem ou pretende ter filhos, é vista por muitos como tabu, algo que nem deveria existir. Contudo, neste domingo de Dia das Mães (12), Janaira, mãe de Camila, compartilha suas conquistas e os desafios presentes nesse contexto, que são numerosos.

Sonho de ser mãe

Janaira revela que vem de uma família de baixa renda; no entanto, ainda menor de idade, começou a trabalhar, justamente “para contribuir” dentro de casa. Filha única e mulher lésbica, ela relata como se cobrava para não ser dependente financeiramente de seus pais. 

No entanto, tinha o sonho de ser mãe. Janaira conta que sempre gostava de crianças e orava a Deus pedindo que Ele trouxesse um filho ou filha para ela.

“Eu quero ser mãe, eu quero ter essa experiência, eu quero me doar para alguém, eu quero imprimir minha identidade em alguém, quero me dedicar a uma pessoa”, ela diz sobre seus pedidos na época.

Até que Deus trouxe Camila para Janaira. A advogada prefere não detalhar o momento para preservar a filha, mas menciona o primeiro contato visual que teve com a ainda pequena Camila e como, naquele momento, ela já sabia que seria sua mãe:

Janaira detalha como Deus trouxe Camila para ela/Foto: Cedida

“Ela ficou olhando fixamente nos meus olhos e eu acho que foi nesse momento que ela me escolheu para ser mãe dela”, a entrevistada contou.

Após a conclusão do processo de guarda, Janaira contou com bastante apoio de sua família, especialmente de sua mãe. Segundo a jornalista, “”ter mãe nunca é demais, né? Uma mãe já é bom. Duas mães é uma maravilha. Então é uma criança que foi muito amada”.

Desafios de ser mãe

Janaira se esforçava para alcançar estabilidade aos 23 anos. Trabalhou como professora em contrato provisório até ser aprovada em dois concursos públicos, um pelo Estado do Acre e outro pela prefeitura municipal de Cruzeiro do Sul. Além disso, atuava como radialista na rádio TV Integração e fazia alguns trabalhos freelancer.

Janaira enfatiza que sempre deixa Camila livre para seguir seus sonhos/Foto: Cedida

Mesmo com toda essa agitação, ela sempre encontrava maneiras de animar e participar ativamente da vida da filha:

“Sempre tentei participar, por exemplo, dos aniversários dela. Ou sempre dava um jeito para que naquele dia, que fosse feriado na escola, fazer uma festinha de aniversário, ou então fazer um monólogo como a vovozinha que iria contar uma história, ou ainda levar músicos e fazer uma serenata para minha filha”, relembra.

A professora relata que, enquanto cursava jornalismo e direito, muitas vezes precisava levar sua filha consigo para conseguir estudar. Isso acontecia tanto para não faltar às aulas quanto para mostrar a ela o que significa ser uma mulher de luta. 

“Por muitas noites eu tive que voltar para casa com ela dormindo”, diz.

Durante esse período, Janaira sentia que sua família ainda não aceitava sua sexualidade. Ela relata que até mesmo chegou a negar isso. Isso também se refletia em comentários jocosos sobre seu papel como mãe.

“Eu fui tratada assim muitas vezes, como uma pessoa que fosse contaminar alguém. Se alguém tivesse contato comigo, ia passar a ser como eu sou, como eu era, né? Eu já ouvi relatos de uma amiga que alguém falou assim: ‘Onde foi que ela sentou que eu não quero sentar! Deus me livre de pegar isso”, revela.

Essas situações, especialmente uma em que atuava como jurada em um Tribunal de Justiça, a motivaram a ingressar na área do Direito e lutar contra o assédio moral e a LGBTfobia. Atualmente, Janaira se dedica mais à vara de direito da família. 

Continuando a exercer todas as suas profissões, a advogada – que sonhava em defender as pessoas do assédio moral -, jornalista – que costumava “apresentar” o Jornal Nacional para sua avó quando criança -, e também professora – que tem paixão por geografia e globalização – expressa sua mensagem para sua comunidade:

“Nós podemos ser o que nós quisermos porque nós somos multifacetados. Nós temos múltiplos talentos”.

O que é ser mãe?

“A Constituição estabeleceu uma licença maior para a mãe, vislumbrando a condição de mulher. Se as duas são mulheres, as duas são mães, é o Supremo que vai dizer uma pode e a outra está equiparando a licença-paternidade? Estamos replicando o modelo tradicional, homem e mulher”, declarou o ministro Alexandre de Moraes, na aprovação da lei citada no início da reportagem.

“Eu quero ser mãe, eu quero ter essa experiência, eu quero me doar para alguém”, diz/Foto: Cedida

Tais conquistas garantem que essas discussões estejam mais presentes na criação de filhos de pessoas LGBTQIAPN+, como Camila, além de garantir que suas mães possam exercer seus direitos como progenitoras e conselheiras. 

Nesse sentido, Janaira enfatiza que sempre deixa Camila livre para seguir seus sonhos. Como demonstra sua trajetória, rótulos nunca funcionaram com ela. Ela deixa claro que sua maior motivação é que sua filha seja uma mulher íntegra:

“Eu quero que, acima de tudo, ela faça a diferença porque ela não veio para terra a passeio. Ela tem uma missão a cumprir aqui e ela precisa somar na vida das pessoas”, afirma Janaira.

Ela sempre encontrava maneiras de animar e participar ativamente da vida da filha/Foto: Cedida

Sobre a maternidade, ela conta como descobriu dividindo toda sua vida com sua filha:

“Eu falei para minha filha: ‘eu te amo tanto, eu te amo mais do que muita mãe biológica ama seus filhos, desde o momento que eu te conheci eu já te dei 50% de tudo que é meu, inclusive do amor do meu pai e da minha mãe”.

Para Janaira ser mãe é “se doar sem medida, é amar sem medida, é abraçar, é acolher, é ter um olhar, é conseguir enxergar o filho e tentar suprir as necessidades”. Janaira segue falando como as mães poderiam ter mais atitudes como essas para ter filhos mais emocionalmente fortes. 

Entretanto no final, a mãe da Camila deixa claro como a solução para problemas, como este, está em um sentimento que resolve, sara, e cicatriza tudo: o amor.

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