O que para uns é simplesmente um amontoado de lixo e material descartado, para outros pode ser o princípio de uma verdadeira obra de arte. Foi com esse pensamento em mente que os meninos do coletivo Errantes realizam a exposição Urbanomarginal, que usa majoritariamente materiais reaproveitados na confecção das obras.
O reaproveitamento dos materiais ganha um destaque maior ainda, já que o dia da reciclagem é comemorado nesta sexta-feira (17), e foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), em 2005.
O evento está ocorrendo no Museu dos Povos Acreanos, das 9 às 18 horas, de quarta a sexta-feira, com visitas guiadas às 10h, 14h e 16h. Já aos fins de semana, o horário de funcionamento é das 13 às 18h, com guias às 14h, 15h e 16h e deve seguir até o dia 14 de julho.
Dentre os participantes do grupo, Diego Fontenele foi o primeiro a realizar trabalhos com materiais não tão convencionais, e acabou por influenciar os outros integrantes a também adotarem essa estética.
“Eu já usava, já fazia peças em madeiras, como sou mais velho no coletivo, comecei a ensinar os meninos algumas técnicas nesses materiais e também a fazer o estudo pra saber quais materiais usar e em quais “telas”, eles logo tomaram gosto por isso e agora a gente recebe doações de amigos de peças velhas e descartes pra ver se serve como tela alternativa, mas nós também caçamos materiais nas ruas”, explicou ele.
“Pra mim a novidade foi pintar no metal, mas a caneta de cd que é um marcador permanente fica perfeito e segura a tinta (…) É muito satisfatório ver o resultado de um ferro que estava num lixão, agora limpo e todo revestido com uma pintura minha”, revela Fontenele.
João Victor é outro participante do grupo, e fala sobre os desafios em se trabalhar com matérias primas tão diferentes do convencional. “É bem diferente, cada teste é uma evolução, é um constante teste de material e de telas, percebendo como as tonalidades se adaptam e que material é melhor para produzir cada obra”.
Ele ainda destaca que essas proposições feitas dentro do grupo, para buscarem maiores experimentações os ajuda a se desenvolverem como artistas. “O interessante é que a evolução como artista acontece de maneira cada vez mais rápida. Uma vez que não existe uma certa ‘zona de conforto’, já que precisamos estudar o material antes de utilizá-lo”, conta ele.
José Lucas fecha o trio, e fala que a aplicação desses materiais reutilizados ajudam a fomentar que outros artistas, até mesmo aqueles que não tem condições de comprar materiais, podem continuar produzindo através destes novos caminhos.
“A utilização desses materiais não tradicionais podem ajudar um artista de baixa renda se sentir mais motivado a continuar no caminho das artes, que por vezes pode desistir pelo preço dos materiais, além de que muitas obras podem vir a se destacar a partir destas telas diferentes”, explicou ele.
João Victor enfatiza ainda a importância de iniciativas como essa sobre reutilização de materiais e como isso pode servir como ferramenta para educar as pessoas sobre o uso consciente dos recursos e também reaproveitar certos materiais.
“A conscientização do descarte de materiais e do reaproveitamento, como também mostrar que é possível fazer arte sem a necessidade de materiais caros ou adequados especificamente para isso e que geralmente não são de fácil aquisição. Nossa ideia como artistas é mostrar que não é só de telas, aquarelas e outros materiais específicos que vive a arte, mas sim de tudo aquilo que o artista se apropriar e tornar próprio para receber um desenho, uma escultura e etc”, reforça ele.