Excesso de peso pode ter sido a causa da queda do avião no Rio de Tarauacá

Investigação aponta superlotação nos dois casos; Acre já está na rota dos piores acidentes aeronáuticos do país em 55 anos

Em Tarauacá, na segunda-feira (20), foi a segunda ocorrência de acidentes aeronáuticos registrados no Acre em três meses, em 2024. O outro acidente ocorreu em 18 de março, a poucos metros do aeroporto do município de Manoel Urbano, após a decolagem de outra aeronave de pequeno porte. Em 55 anos, o Acre já registrou, com esses mais dois casos, quatro ocorrências de acidentes graves em avião em seu território.

O avião foi retirado das águas na tarde desta segunda-feira/Foto: Reprodução

Nos dois últimos casos, a causa foi o excesso de pessoas, suspeitam as investigações a cargo da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). No caso de Manuel Urbano, por exemplo, o pequeno avião projetado e construído para o transporte de quatro passageiros além do piloto, transportava sete pessoas. Duas delas morreram e outras seguem internadas.

No caso de Tarauacá, envolvendo o avião  Cessna Aircraft 150H, fabricado há 55 anos, transportava três pessoas – o piloto, um copiloto e um passageiro. A Agência Nacional de Aviação Civil, que estuda os acidentes aeronáuticos no país, a aeronave que caiu na confluência dos rios Tarauacá e Envira, tinha capacidade para transportar apenas duas pessoas.

Por isso, segundo a Anac, não tinha capacidade e autorização para fazer táxi aéreo, embora não esteja claro se era isso que fazíamos com os comandantes da aeronave. No acidente, não houve mortes. O passageiro do avião, identificado por Genésio Rodrigues de Olinda, fraturou o nariz e está internado no Hospital “Dr. Sansão Gomes”, em Tarauacá. Até a manhã desta terça-feira (21), ele esperava ser transferido  para o Hospital do Juruá,  em Cruzeiro do Sul, cidade vizinha cujo atendimento é menos precarizado.

Avião é um Cessna 150/Foto: Reprodução

O avião que caiu em Tarauacá, segundo a Anac, saiu do município de Jordão, uma das cidades isoladas do estado, em direção à Tarauacá e buscava acessar o aeroporto local, mas caiu no rio antes de iniciar os procedimentos de pouso. 

O acidente em Manoel Urbano já consta dos anais dos acidentes aeronáuticos brasileiros como um dos mais graves do país e o quarto maior desastre do gênero no Acre em pouco mais de 55 anos. O primeiro acidente grave ocorrido no Acre foi em 1971, em Sena Madureira, com a morte de 33 pessoas, entre passageiros e a tripulação, de cujo voo ninguém sobreviveu. Todos morreram carbonizados. Entre as vítimas o então bispo da prelazia Acre e Purus, dom Giocondo Maria Grotti.

Em 2002, dia 30 de agosto, no voo da Rico Linhas Aéreas, procedente de Cruzeiro do Sul, que caiu praticamente em procedimento de pouso no aeroporto de Rio Branco, morreram 23 das 31 pessoas a bordo. Entre os oitos sobreviventes, a médica pneumologista Célia Rocha, que continua atuando na Capital Rio Branco.

Foto aérea mostra avião dentro do rio/Foto: Reprodução

Em outubro do ano passado, um avião de pequeno porte também explodiu ao cair próximo à pista do Aeroporto Internacional de Rio Branco. Todas as 12 pessoas a bordo, entre elas um bebê, morreram. Parte dos passageiros estava viajando para casa, em municípios do interior do Amazonas próximos à fronteira com o Acre, Envira e Ipixuna, após  receber tratamento médico em Rio Branco.  O voo decolou de Rio Branco às 7h20 com destino a Envira, no Amazonas. O avião tinha capacidade para levar 14 pessoas.

No caso de Manuel Urbano, sete pessoas viajavam com destino ao município Santa Rosa do Purus, outra das cidades isoladas do Acre, com sete passageiros – além do piloto, quatro homens e três mulheres. O avião caiu logo após decolar, a 1 quilômetro da cabeceira da pista, e estava a caminho de Santa Rosa do Purus, distante 150 km do município. O morto no local foi o comerciante Sidney Estuardo Hoyle Vega, cidadão peruano naturalizado brasileiro. Nove dias depois, Suanne Camelo morreu em Manaus (AM).

Além da superlotação, a aeronave não tinha autorização para atuar como táxi aéreo. As investigações continuam em busca de respostas que levem às causas do acidente aéreo. A apuração é feita pela Polícia Civil de Manoel Urbano e pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Após dois meses, a biomédica Amélia Cristina Rocha, 28 anos, e Valdir Roney Mendes, de 59 anos, passageira e piloto do avião, seguem internados na Unidade de Terapia Intensiva se recuperando dos ferimentos em Manaus.

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