A fibromialgia é uma doença crônica caracterizada por dor muscular, fadiga, distúrbios do sono, problemas de memória e concentração, e frequentemente sintomas emocionais como ansiedade e depressão. Viver com essa dor, muitas vezes mal compreendida, é um desafio para aproximadamente quatro milhões de brasileiros.
Neste domingo (12), marca o Dia Mundial de Conscientização da Fibromialgia, buscando abrir espaço para diálogos sobre a doença. O diagnóstico da fibromialgia é baseado no histórico do paciente.
Ainda sem cura conhecida, o tratamento visa melhorar a qualidade de vida, combinando medicação para alívio dos sintomas com autocuidado, como atividade física. Em Cruzeiro do Sul, um grupo de apoio para pessoas com essa condição oferece suporte emocional e físico para ajudar mulheres locais que sofrem com ela.
O ContilNet conversa com Vângela Maria, de 40 anos, uma das coordenadoras do grupo, sobre como foi criar, se juntar e enfrentar as lutas diárias das participantes.
Juntas numa luta
Vângela conta que, juntamente com Kamyla da Silva, fundou o grupo devido à falta de tratamento e apoio adequado para as pessoas afetadas pela doença:
“Nós duas tentamos buscar melhorias para o grupo. Acredito que são mais de 40 ou 50 pessoas. Diante das dificuldades que encontramos no atendimento relacionado à nossa doença e especialidade, decidimos formar esse grupo. Aqui no Sul, não há muito apoio, tratamento ou profissionais que nos ajudem, então nossa luta, o objetivo do grupo, é buscar melhorias”, disse a entrevistada.
Ao reunir pessoas enfrentando a mesma dificuldade e buscando o mesmo objetivo, essas mulheres unem forças para garantir mais recursos e ações para fibromiálgicos. Conforme mencionado por Vângela, tudo começou quando a secretaria municipal da cidade decidiu criar uma carteirinha de prioridade para essas pessoas.
Atualmente, com cerca de 50 membros, o grupo se fortalece por meio de parcerias com órgãos municipais e legislações emergentes em todo o país nos últimos anos.
Na Câmara Federal, está em tramitação o projeto de lei nº 598/23, proposto pelo deputado José Guimarães (PT-CE), que reconhece a fibromialgia como deficiência legalmente e exige que o SUS forneça gratuitamente medicamentos para tratá-la.
Além disso, o presidente Lula sancionou a Lei 14.705 em 2023, regulamentando o tratamento da fibromialgia e fadiga crônica no SUS. Essa lei, de autoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), foi aprovada no Senado com relatoria do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Porém, a falta de pesquisas ainda é uma lacuna a ser preenchida, segundo o Senado Federal.
Luta e preconceito
Vângela já foi professora com dois contratos, mas atualmente trabalha apenas em um, devido às dores que sente. Assim como Kamyla e todas as outras integrantes do grupo, ela também possui a doença e enfrenta constantemente seus malefícios. A professora relata ter recebido diversos diagnósticos errados antes de ser diagnosticada com fibromialgia.
Nesse contexto, um dos objetivos do grupo é formalizar uma associação. Organizam-se encontros para que essas mulheres possam socializar entre si, além de estarem preparando um abaixo-assinado para entregar ao governador Gladson Cameli, reivindicando melhorias no atendimento às fibromiálgicas no Acre.
“No meu último emprego, eu saí porque, sabe, eu ouvia assim: ‘Ah, mas o que é que tu tem que tu vive em médico, não fica boa nunca, não tem cura, ela tem é crises’. Hoje eu tô bem, amanhã eu posso não sair da cama”, revela Vangela.
Ela continua falando como ninguém quer ser deficiente, como ela já foi julgada e excluída em ambientes por conta de pessoas que não sabiam de sua doença, “não havia empatia”, diz.
Hoje, afastada da sala de aula, Vangela conta que colegas já foram demitidas de empregos, após o chefe descobrir que tinha a doença.
Mais empatia
A professora explica que o grupo tem justamente o objetivo de incluir essas pessoas e combater o preconceito presente na sociedade. Enfrentando pensamentos depressivos, Vângela destaca a importância de os fibromiálgicos serem reconhecidos pelo mercado de trabalho e pelas políticas públicas.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença afeta cerca de 2% a 12% da população adulta no Brasil. Ela atinge principalmente mulheres entre 30 e 55 anos, embora, com menor frequência, também possa ser diagnosticada em crianças, adolescentes e idosos.
Em outubro de 2023, o governador Gladson Cameli promulgou o decreto aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac) que reconhece as pessoas com fibromialgia e neurofibromatose como deficientes.
A lei de Nº 4.174, de 5 de outubro de 2023, estabelece em seu artigo 1º que, pessoas que forem diagnosticadas com fibromialgia e neurofibromatose serão consideradas possuidoras de impedimentos de longo prazo de natureza física, que podem obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
“A sociedade precisa ter empatia. Um dos objetivos do nosso grupo é reunir-se para formar uma associação e começar a divulgar, fazer palestras, buscar divulgação porque muitas pessoas não sabem o que é fibromialgia”, finaliza Vangela.