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O que representa a crítica ao “excesso de sexo” em show de Madonna

Por Metrópoles

Madonna fez um show que vai ficar para história, no Rio de Janeiro, no último sábado (4/5). A presença da Rainha do Pop na praia de Copacabana não só atraiu 1,6 milhões de fãs, mas também críticas acaloradas nas redes sociais. Muitos espectadores expressaram desconforto com as cenas explícitas, que incluíam simulações de sexo e momentos de nudez, levantando um debate sobre os limites artísticos e o conservadorismo que abrange todas as esferas do entretenimento, inclusive a indústria cinematográfica.

Apesar do “espanto” de parte das pessoas que assistiram ao show da Rainha do Pop, vale destacar que Madonna sempre foi conhecida por desafiar tabus. Durante a apresentação gratuita nas areias de Copacabana, a artista recebeu beijos na boca de seus bailarinos, simulou uma cena de masturbação feminina com uma dançarina e também de sexo oral, ao lado da brasileira Anitta, além de lamber o dedo do meio após fazer o sinal da cruz.

Enquanto para alguns a apresentação foi vista como uma celebração da independência e da liberdade, para outros representou uma afronta às supostas tradições e valores conservadores.

Buda Mendes/Getty Images

Em entrevista ao Metrópoles, a sexóloga e psicóloga clínica Alessandra Araújo afirmou que ficou surpresa ao ver tantas críticas ao show, já que Madonna costuma seguir a mesma linha desde que iniciou sua carreira.

“Uma coisa muito importante de salientar é que o show da Madonna não se desvirtuou em nada do que é a essência da própria artista. Tem se falado muito de como as performances sexuais e tudo que estava sendo manifestado ali, mas se a gente olhar para trás e verificar como ela cresceu, como ela se estabeleceu dentro do mundo artístico, a gente vê que não há nada de diferente”, explica.

O psicólogo Vitor Barros Rego também observa que a artista, aos 65 anos, ainda desafia as estruturas da sociedade. “O que temos, na verdade, é uma grande dificuldade enquanto sociedade de lidar com a nudez e também com uma mulher numa relação diferenciada sobre seu corpo num palco. No momento atual do mundo, com avanços da extrema-direita conservadora, uma apresentação como esta do show se torna uma afronta às supostas tradições que, teoricamente na mente desse pessoal, deveriam ser cultuadas”, explica.

Conservadorismo x entretenimento

Nos últimos anos, também foi observado uma diminuição das cenas de sexo e nudez em filmes e séries, até mesmo nas produções voltadas para a geração Z, o que sugere uma mudança de valores e sensibilidades em relação à exposição da sexualidade na mídia. Segundo o The Economist, o percentual de sexo e nudez nos filmes caiu 40%, enquanto o percentual de produções sem nenhum conteúdo sexual aumentou de 20% para 40%.

Vitor aponta um possível motivo para a mudança: o público mais jovem quer ver cada vez menos imagens de sexo ou nudez no cinema.

“É uma geração marcada por uma série de desamparos e, assim, com enorme dificuldade de lidarem com suas emoções, frustrações e conhecimentos sobre sua própria afetividade e sexualidade. Então, aquilo que não se conhece (sexualidade e afetividade), se torna uma ameaça”, garante o psicólogo.

Vale destacar que o estudo do The Economist também analisou outros tipos de temas sensíveis ao público mais conservador, como drogas, violência e palavrões. Ao contrário de sexo, essas outras representações não exibiram declínio.

A sexóloga Alessandra salienta ainda que manifestações com teor sexual em filmes, músicas, e apresentações, são importantes para quebra de tabu da sociedade em relação ao sexo.

“Faz as pessoas entenderem que muitas vezes o sexo não é aquele tradicional papai e mamãe, não é aquela coisa de: ‘Eu preciso transar, porque se eu não transar eu vou perder meu marido/minha mulher’. Mas mostrar que o ato sexual tem a função não só da procriação, mas também de trazer e estabelecer um relaxamento, uma conexão com o outro”, conclui.

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