A atriz pornô Stormy Daniels testemunhou nesta terça-feira (7) no processo criminal do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Ela é o pivô do caso: o político é acusado de ter pagado US$ 130 mil a Daniels para que ela não revelasse, na reta final da campanha presidencial de 2016, que os dois haviam tido relações sexuais dez anos antes, em 2006.
O pagamento em si não é um crime, mas o Ministério Público afirma que Trump registrou o pagamento como se fossem honorários advocatícios, o que torna o pagamento ilegítimo. O ex-presidente afirma que é inocente, que em 2006 ele já estava casado com Melania e que nunca teve relações com a atriz pornô.
Ela conta uma história diferente. Ela descreveu a relação sexual com Trump da seguinte maneira: “Eu estava olhando para o teto e não sabia como tinha chegado lá. Eu estava tentando pensar em qualquer outra coisa que não fosse aquilo que estava acontecendo”.
Como os dois se conheceram
Segundo o depoimento de Daniels na Justiça, em 2006 Trump teria dito a ela que ter relações com ele era a única forma que ela tinha para “deixar de morar em um acampamento de trailers (nos EUA, é comum que pessoas pobres morem em trailers).
Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, afirmou que é filha de mãe solteira e de baixa renda. Ela relatou que começou a trabalhar como dançarina de strip-tease e atriz pornô e que conheceu Donald Trump em um torneio de golfe no estado da Califórnia.
Em 2006, Trump era famoso como empresário do setor imobiliário e apresentador do reality show “O Aprendiz”.
O encontro foi intermediado pelo segurança de Trump, que a convidou para jantar com o empresário. “Nem a pau”, ela disse. No entanto, após conversar com um agente, ela disse que o jantar poderia ser uma boa história.
Quando ela chegou à suíte de hotel, Trump estava de pijamas. Ela pediu para que ele se trocasse, e ele aceitou. Daniels disse também que, na conversa, chamou Trump de arrogante e que ele duvidou que ela desse um tapa nele –e ela, então, deu um tapa nele.
Em seu depoimento, ela disse que quando estava no quarto teve um “apagão” (ela afirmou que não consumiu drogas nem álcool) e que, quando se deu conta, estava na cama, sem roupa.
Em seu depoimento, ela afirmou que Trump não usou camisinha, mas ela não o mandou parar–aliás, ela disse que não falou nada a ele– e que saiu do quarto de hotel pouco tempo depois.
Trump não reagiu durante o depoimento de Daniels. Os defensores dele afirmam que ela queria uma vaga no programa de TV “O Aprendiz”.
A equipe de advogados de Trump tinha pedido para que Daniels fosse proibida de descrever a relação com Trump. O juiz do caso, Juan Merchan, permitiu a descrição, mas disse que não poderia dar detalhes.
Os defensores de Trump afirmaram que o depoimento foi prejudicial ao cliente deles e pediram um anulamento do julgamento. O juiz já negou o pedido.
Pagamento pelo silêncio
Daniels contou que anos depois da relação, em 2011, ela foi ameaçada em um estacionamento e que, depois dessa ocasião, ela resolveu não revelar nada sobre o encontro com Trump.
No entanto, na campanha eleitoral de 2016, Trump foi acusado diversas vezes de mau comportamento sexual, e ela mudou de ideia. “Minha motivação não era dinheiro, era revelar a história”, ela afirmou.
A atriz disse aos jurados que chegou a ficar preocupada com a possibilidade de não receber os US$ 130 mil do acordo se Trump perdesse as eleições de 2016 (ele derrotou a adversária Hillary Clinton. A votação aconteceu em novembro daquele ano. Um mês antes, em outubro, Daniels chegou a cancelar as negociações, mas depois as conversas foram retomadas.
Os jurados viram documentos que mostram esse vaivém das negociações.
Daniels afirmou que em 2018 o jornal “Wall Street Journal” a procurou para falar sobre a relação dela com Trump e que, na ocasião, ela honrou o acordo pelo qual ela ficaria em silêncio que disse ao repórter que não teve relação com Trump. Só que o jornal publicou a história mesmo assim.
O julgamento de Trump
Esta é a primeira vez que a ex-atriz pornô fala à Justiça sobre o caso.
No julgamento, o primeiro a um ex-presidente dos EUA, Trump é acusado de haver ocultado contabilmente o pagamento a Daniels durante a campanha de 2016, quando foi eleito presidente. O dinheiro, segundo a Promotoria, foi uma forma de comprar o silêncio da ex-atriz pornô.
O ex-presidente também responde a outros três processos criminais, mas este é o primeiro a ir a julgamento.
Em fevereiro, Trump tentou impedir na Justiça que ela fosse convocada a depor. Nesta terça, ele se queixou por não ter sido avisado com antecedência sobre a convocação da ex-atriz pornô.
Donald Trump é acusado criminalmente de falsificar registros contábeis para encobrir um pagamento de US$ 130 mil (cerca de R$ 657 mil) à atriz pornô Stormy Daniels. O pagamento teria ocorrido na reta final da campanha presidencial de 2016.
Os promotores dizem que Trump obscureceu a verdadeira natureza desses pagamentos e os registrou falsamente como despesas legais. Ele nega e já se declarou inocente de 34 acusações criminais de falsificação de registros comerciais. Trump, que já faz campanha eleitoral, foi obrigado a comparecer ao tribunal durante as sessões.