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Associação de japoneses é criada no Acre e grupo prepara festival para resgatar tradições

Por Vitor Paiva, ContilNet

A cultura nipônica influenciou fortemente o Brasil, desde que o primeiro navio com japoneses, o Kasato Maru, atracou no porto de Santos, no litoral paulista, no dia 18 de junho de 1908, depois de uma viagem de 52 dias, partindo do porto de Kobe, na baía de Osaka. Apenas em 1920, o primeiro deles se estabeleceu no estado do Acre.

Yukishige Tamura, que teve longa carreira política, foi eleito, pela primeira vez, como vereador na cidade de São Paulo em 1948, conseguindo fazer as ações iniciais para realizar acordos entre os dois países, gerando assim outro “boom” migratório dos japoneses ao país tropical. 

Foram, em grande parte, os filhos deste grupo, que chegaram entre a década de 40 e 50 em terras tupiniquins, que chegaram ao estado do Acre mais tarde, por volta de abril de 1959.

Os filhos dos filhos dos imigrantes, ao chegarem ao Brasil, também ajudaram a construir a história do Acre, e mesmo a tanto tempo longe de suas raízes, buscam manter certas tradições e contato com sua cultura.

Kasato Maru foi o navio que trouxe os primeiros japoneses no começo do século passado/ Foto: Reprodução

Para isso começou-se a discutir a criação da Associação Nipo-Brasileira do Acre (Anba), em novembro de 2021. Devido à burocracia envolvida, o projeto só pôde sair do papel um ano depois. Em 23 de agosto em 2022, foi oficializado, com a participação do cônsul-geral do Japão em Manaus, Masahiro Ogino.

Eduardo Kawada é empresário e presidente da Anba, e explica como surgiu a ideia de reviver a associação no estado do Acre. “A associação antiga tinha o pai do Luciano Sasai como presidente e o meu como vice, mas a idade foi chegando e os dois faleceram, encerrando as atividades. Então, tivemos a ideia de reativar, não queria deixar a cultura japonesa morrer aqui” explicou.

Além de retomar as atividades e fomentar a cultura japonesa entre os descendentes no estado, que segundo o levantamento realizado pela associação, deve estar entre 600 e 700 pessoas, existem planos para que cursos sejam realizados no estado.

“Vamos trazer alguns cursos para cá, como o básico de língua japonesa, como Ikebana, que é a arte de flores do Japão”, conta ele sobre os planos da associação.

Representantes da Anba durante a formação do oficial da associação/Foto: Reprocução

Além disso, ele fala que o impacto cultural da cultura japonesa no Brasil não pode ser ignorado, e que por isso, durante uma das visitas do cônsul japonês em Manaus, capital do Amazonas, representando o Japão, fez a doação de 700 volumes de mangás para a Biblioteca Estadual Adonay Barbosa.

O presidente da associação ainda diz que, além dos cursos planejados, eventos culturais serão realizados, como uma mostra de cinema japonês, em parceria com a Fundação Elias Mansour e seu presidente Minoru Kinpara, que também é membro da Anba, a ser realizada ainda este ano.

Em 2024, a associação ainda vai realizar o Tanabata Matsuri, festival japonês que ocorre, tradicionalmente, na sétima noite do sétimo mês, entretanto, em solo acreano a celebração será feita nos dias 27 e 28 de julho, no Sesc Bosque. Kawada ressalta que manter a cultura dos seus antepassados viva é sim um dos grandes focos.

O evento vai contar com autoridades dos consulados japoneses, praça de alimentação com muitas comidas típicas, além de uma exposição com itens vindos diretos do Japão.

O nome do festival pode ser escrito como Sétima Noite, por isso é sempre realizado nesta data no Japão/Foto: Reprodução

O presidente da Anba diz ainda que um edital foi preenchido e enviado, para concorrer a recursos da lei Paulo Gustavo, para que algumas outras produções culturais sejam realizadas, mas não deu maiores informações já que tudo ainda está em nível de discussões.

Para além do desenvolvimento de projetos culturais, a Anba também tem sua atuação focada no desenvolvimento de seus participantes e parceiros, através de cartas de recomendação junto ao governo japonês para que seja possível realizar intercâmbios e ingressar em cursos no Japão.

Atualmente, o presidente diz que, no período de existência da Anba, duas jovens já foram enviadas à terras nipônicas, uma realizou uma especialização de curto prazo, com poucos meses no país, enquanto outra está realizando um curso de pós-graduação. 

Asami Takahara foi a segunda representante enviada pela Anba para estudar no Japão através da bolsa/ Foto: Reprodução

Ele enfatiza ainda que outras cinco cartas já foram enviadas e pontua que essas ações não estão restritas aos descendentes e qualquer um que tiver interesse de participar destes projetos serão bem-vindos.

Por fim, Kawada ressalta que, para além dos benefícios aos descendentes de japoneses radicados no estado, que tem na associação um “puxadinho” do consulado mais próximo, residido em Manaus, a Anba pode trazer investimentos por parte do governo japonês no local, que não ficarão restritos apenas aos participantes da associação.

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