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Com 24 anos de profissão, catraieiro teme fim da profissão: “não desistimos do nosso trabalho”

Por Suene Almeida, ContilNet

O Rio Acre que banha diversos municípios do estado do Acre, mais do que um simples curso d’água, já foi e continua sendo rota de navegantes desde o início da construção do Acre até os dias de hoje. Um exemplo disso são os catraieiros, figuras emblemáticas que moldaram a navegação e a cultura ribeirinha da região.

Seu Antônio trabalha há 24 anos como catraieiro/ Foto: Juan Diaz ContilNet

Esses barqueiros não só garantem o transporte de pessoas e mercadorias, mas também desempenharam um papel importante na integração das comunidades ao longo do rio. No entanto, essa profissão que reflete intimamente a relação entre o homem e a natureza na Amazônia, e continua a influenciar a identidade cultural do Acre até os dias de hoje parece está cada vez mais ameaçada.

Antônio Viana, que dedica 24 anos dos seus 56 anos de vida à profissão conta que é com esse trabalho que ele sustenta a família a ajudou a filha a se formar na faculdade. O catraieiro reflete o medo pelo fim da profissão.

Antônio trabalha todos os dias em sua catraia atravessando a população/ Foto: Juan Diaz, ContilNet

“Quem conhece a história do Acre sabe que esse trabalho existe há mais de 100 anos, e até hoje ainda existe, mas não é dado valor. Os governantes acham que porque colocaram pontes as pessoas não nos procuram, mas muitos preferem cortar caminho com a gente do que pegar sol. Então são coisas né, somos antigos e somos escondidos. Eu tenho medo, pois se não tivermos apoio a tendência é que a profissão se acabe”, ressalta.

Sena Madureira, município em que também era costumeiro a presença de catraieiros, viu a profissão se extinguir aos poucos. Em 2023, com a inauguração da ponta que liga o Primeiro e o Segundo Distrito da cidade, as catraias foram aposentadas. Em Rio Branco, a profissão parece seguir o mesmo caminho.

Em Rio Branco apenas três portos resistiram ao tempo/ Foto: Juan Diaz, ContilNet

Seu Antônio revelou que dos oito portos existentes, na capital, apenas três ainda resistem.

“É uma coisa que pelo que a gente está vendo, a tendência é desaparecer. Antes nós tínhamos oito portos de catraia e hoje só temos três. Eu estou lutando para ver se consigo uma melhoria para os portos de catraia. Nós não desistimos do nosso trabalho”, conta.

O trabalhador expressou, ainda, o descontentamento por não ter sequer um dia dedicado a celebrar a profissão tão significativa para a cultura acreana.

“Eu vejo por aí, as pessoas fazem aniversário, recebem homenagem, mas a gente não tem sequer o dia do catraieiro, que era para ter, já que é uma coisa tão antiga e que faz parte da história do Acre”, pontuou.

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