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Conheça o laboratório subterrâneo de Paris que revela os segredos das obras de arte

Por O Globo

Em Paris, sob o jardim das Tulherias, há um misterioso laboratório subterrâneo, digno de James Bond, onde obras de arte revelam seus segredos. Trata-se do Centre de Recherche et de Restauration des Musées de France (C2RMF), que a AFP conseguiu visitar.

Atrás de uma porta blindada a 17 metros de profundidade, esse centro altamente seguro cobre uma área de 5.900 m². Seus três níveis abrigam um conjunto técnico, um acelerador de partículas chamado Aglae e salas de exame onde os objetos de arte recebem um “check-up médico” regular.

Especialistas avaliam uma estátua de bronze de Vishnu, recém-chegada do Camboja, que será restaurada no Centro de Pesquisa e Restauração de Museus de França (C2RMF), no museu do Louvre — Foto: MIGUEL MEDINA/AFP

O centro emprega 150 especialistas, incluindo conservadores, radiologistas, químicos, geólogos, engenheiros metalúrgicos e arqueólogos, que examinam cerca de mil obras de arte francesas e estrangeiras todos os anos.

Os estudos técnicos e tecnológicos realizados no centro permitem identificar os materiais com os quais as obras foram feitas, sua procedência e idade, como foram montadas, bem como os fenômenos de alteração que são invisíveis a olho nu.

Com base nessas análises altamente sofisticadas, algumas obras são enviadas para as oficinas de restauração, localizadas em uma ala do Louvre e em Versalhes (sudoeste de Paris). A instalação também possui um auditório e um centro de documentação.

Vishnu do Cambodja

Especialisyas do C2RMF usam imagens em raio-x para determinar origem e composição da estátua de Vishnu, descoberta no Cambodja em 1936 — Foto: JULIEN DE ROSA / AFP

O C2RMF analisou obras-primas como a Mona Lisa; os vitrais da Sainte Chapelle e da Catedral de Notre Dame, um sabre do imperador Napoleão e a escultura da Auriga de Delfos, uma das mais famosas estátuas de bronze da Grécia antiga.

Recentemente, o centro recebeu os restos de uma escultura monumental cambojana do século XI para uma série de análises. Essa escultura será parcialmente restaurada antes de uma exposição programada para 2025 no Museu Guimet de Artes Asiáticas, em Paris, e depois nos Estados Unidos. Uma obra-prima da arte Khmer, descoberta em 1936 no local de Angkor, a escultura monumental é uma das poucas representações desse deus do hinduísmo em sua forma reclinada.

— Muitos fragmentos estão faltando, mas originalmente ela tinha cerca de seis metros de comprimento, um diadema e um cocar — explica David Bourgarit, engenheiro de pesquisa em arqueometalurgia, que está liderando o projeto.

Os testes são realizados em uma sala especial, com portas de chumbo, para evitar a radiação.

— Nas sobrancelhas, esses pequenos pontos brancos são claramente metal adicionado, mais denso do que o cobre, mas precisaremos fazer uma análise mais aprofundada para determinar isso — descreve Bourgarit. — Somos como a Nasa, cada um com sua própria especialidade. Nossas cenas de crime são achados arqueológicos. Tentamos entender quem os fez, como e por que, como em uma investigação policial.

Algumas áreas serão “exploradas com outras técnicas, como fotogrametria, digitalização em 3D, fluorescência de raios X, para determinar a composição de um material, ou a espectrometria”, diz ele. O objetivo é “localizar o depósito e o local de fabricação” da gigantesca estátua.

O Aglae

Esta fotografia tirada no Centro de Pesquisa e Restauração de Museus da França (C2RMF) mostra o AGLAE (Acelerador de Análise Elementar do Louvre), aparelho para a análise química de peças de arte e arqueológicas — Foto: JULIEN DE ROSA / AFP

Alguns fragmentos poderão ser examinados pelo “Acelerador de Análise Elementar (de partículas) do Grand Louvre, instalado no final da década de 1990 e o único no mundo que trabalha exclusivamente com obras de arte”, explica Quentin Lemasson, engenheiro e especialista nesse equipamento.

O Aglae pode ser comparado ao CERN (o laboratório europeu de física de partículas), localizado no subsolo entre a França e a Suíça, embora consuma mil vezes menos energia, diz Lemasson. O Aglae é linear, ao contrário do CERN, que é circular.

Com o acelerador, “criamos partículas, as aceleramos, as passamos por um longo tubo e, em seguida, surge um feixe que interage com o objeto. Dessa colisão saem diferentes tipos de radiação, algumas partículas ricocheteiam e geram energia. Isso nos permite determinar espessuras, detectar se foi usado ouro sem precisar extrair amostras ou determinar a proporção de cobre e estanho em um bronze”, explica Lemasson.

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