18 de junho de 2024

Descoberto em rios da Amazônia um tipo de piranha que se alimenta só de vegetais

Cientistas dizem que fama de devoradores de carne atribuída às piranhas é coisa de ex-presidente dos EUA durante uma expedição fracassada ao Brasil

A ciência revelou para o mundo nesta semana mais mistério relacionado à Amazônia: uma nova espécie de piranha que, diferente daquela conhecida e catalogada como carnívora, se alimenta de vegetais. 

Mas pesquisadores afirmam que muitas espécies descritas como “piranhas” não são carnívoras/Foto: Ardea

Portanto, uma vegetariana semelhante à piranha acaba de ser descoberta por cientistas na Amazônia brasileira e foi batizada de Sauron em homenagem a um dos famosos vilões de “Senhor dos Anéis”, do escritor J.R.R. Tolkien, anunciou nesta terça-feira o Museu de História Natural do Reino Unido, segundo noticiou o jornal “O Globo”.

O animal tem um corpo redondo e uma grande faixa preta na lateral. De acordo com os pesquisadores, diferentemente do seu homônimo, o peixe é “muito menos sanguinário” — na verdade, se alimenta basicamente de plantas. 

A espécie é uma das duas que foram recentemente nomeadas por cientistas como parte de um esforço para compreender melhor os peixes que vivem dentro e ao redor do Rio Amazonas e seus afluentes.

“O recém-descrito Myloplus sauron destaca o pouco que sabemos sobre a biodiversidade da América do Sul e o quanto ainda há para descobrir”, afirmou o museu inglês.

Curador-sênior da área de Peixes do Museu de História Natural britânico, Rupert Collins foi um dos cientistas que assinou o estudo, publicado na revista Neotropical Ichthyology. Segundo ele, a sugestão do nome partiu de um colega, e os demais logo o acharam “perfeito” para a nova espécie.

“Seu padrão se parece muito com o Olho de Sauron, especialmente com as manchas laranja em seu corpo”, explicou o cientista, em declarações reproduzidas pelo site do museu. “Com tanta biodiversidade não-descrita na Amazônia e nos rios vizinhos, o nome também é um bom lembrete para ficar de olho nas espécies não-descritas na América do Sul.”

Na nota em que destaca a recente nomeação de Myloplus sauron, o Museu de História Natural britânico ressalta que, para além da fama de vilões em filmes e séries, piranhas e espécies semelhantes não merecem tal reputação “de peixes sedentos de sangue”. 

São, sim, conhecidas por morder, com dentição afiada. Mas Rupert Collins explica que as declarações de um ex-presidente dos Estados Unidos forjaram o imaginário popular sobre esses animais.

A declaração foi feita pelo ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt em 1912, após uma fracassada expedição ao Brasil. Theodore Roosevelt veio ao Brasil para dirigir uma expedição científica com o objetivo de resolver se o rio da Dúvida era afluente do Amazonas. 

Na travessia encontrou, entre outras feras, a piranha, “o peixe mais feroz do mundo”, como ele mesmo descreveu em seu livro Through the Brazilian Wilderness (Através da Selva Brasileira). 

O ex-presidente ficou apavorado com a capacidade desses peixes de destrinchar e devorar carne: “Arrancarão o dedo da sua mão ao deslizá-la descuidadamente na água; mutilam nadadores (em cada rio do Paraguai há homens que foram mutilados); desmembraram e devoram qualquer homem ou animal ferido porque o sangue na água as excita até a loucura”.

 Apesar do perigo subaquático, os exploradores puderam cartografar e determinar que o rio certamente é um afluente do Amazonas. Rebatizam-no como Roosevelt em sua homenagem, e seu livro sobre a expedição foi um sucesso de vendas. Ao mesmo tempo se propagou a má fama das piranhas, essas vilãs da água doce

A ideia de morrer despedaçado pelo frenesi de alguns pequenos peixes é horripilante; mordidela após mordidela, comem toda a carne até os ossos em poucos minutos. Alguns especialistas especulam que aproximadamente 300-500 piranhas levariam cinco minutos para retirar a carne de um humano de 80 quilos. 

Os ataques somente ocorrem em determinados casos, quando, por exemplo, na época da seca o nível da água é baixo, a concentração de piranhas é maior, a comida escasseia ou ficam incomodadas com a colocação dos ovos enterradas no leito do rio. 

Basicamente, se sentem ameaçadas ou a fome aperta. No entanto, os ataques fatais são raros e normalmente tudo fica em uma só mordida, como uma beliscada, nos pés ou nas mãos. 

Além disso, nos incidentes com final trágico, com frequência a vítima já estava gravemente ferida ou tinha morrido antes de as piranhas lhe fincaram os dentes. Uma morte lancinante causada por esses peixes amazônicos é mais coisa de filmes de terror do que da realidade, dizem pesquisadores.

As piranhas vivem em cardumes, mas não adotam nenhuma estratégia coletiva para caçar. Suas coreografias assombrosas estão mais para caóticas.

Pelo contrário, a formação de grupos é uma estratégia de defesa; movem-se agrupadas para se protegerem dos predadores. Cientistas demonstraram que as piranhas de barriga vermelha respiravam melhor e reagiam com mais calma diante das ameaças em grupos numerosos. 

Também observaram que as piranhas selvagens formam cardumes maiores em águas pouco profundas onde são mais vulneráveis. Esses peixes não se encontram no ápice da rede trófica e precisam evitar os jacarés, os golfinhos e as aves pescadoras. 

Por isso, a hierarquia se manifesta no próprio cardume com os peixes maiores e velhos no meio e os mais jovens e inexperientes na parte externa, ao alcance das mordidas e picadas. As piranhas também têm inimigos, seu sorriso não amedronta todo mundo.

Mas pesquisadores afirmam que muitas espécies descritas como “piranhas” não são carnívoras. Algumas delas são peixes “pacu”, que não dispõem de dentes tão afiados e se alimentam de plantas e frutas. Diferenciar os animais da família Serrasalmidae é um desafio histórico para especialistas, já que as características externas pouco se distinguem, e a genética é complexa de desvendar.

“Muitas espécies foram estabelecidas usando diferenças nos dentes, mas dentes semelhantes surgiram repetidamente em peixes de parentesco distante”, explica o pesquisador. “Eles também podem parecer muito diferentes em cada fase da sua vida, com uma espécie contendo animais com muitas aparências”.

Até recentemente, os cientistas apontavam com segurança a existência de uma espécie em rios da América do Sul: a Myloplus schomburgkii, descrita em 1841. Mas novos estudos indicaram que havia nesses animais três grupos genéticos distintos. Mais tarde, ficou comprovado que era DNA de outras duas espécies: M. sauron e M. aylan.

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