Em memória, conheça o ex-seringueiro Antônio Soares, o “Brabo” do Bar da Sobral, ponto de boêmios

Em 2017, tivemos o privilégio de conhecer essa figuraça que faleceu alguns anos atrás; em sua memória, vai uma crônica

O ex-seringueiro Antônio Soares de Souza, o Brabo, poderia ser confundido com o Kirk Douglas, a considerar os óculos refinados, o cordão de ouro para fora da camisa e os cabelos engomados. E por nunca ter se envolvido em pau de peia, vale o contrário, é homem pacato, popular e politizado.

Antônio Soares de Souza, conhecido como Brabo/Foto: Juan Diaz, ContilNet

No seu bar, do Cortezano ao jucá, da Pitú à Pirassununga e ao conhaque Presidente, as prateleiras estão cheias de birita, para o deleite da moçada, a maioria trabalhadores braçais que encostam no boteco, geralmente no fim de tarde, para tirar a reima do dia pesado.

Prateleiras do Bar do Brabo/Foto: ContilNet

As garrafas compõem um visual interessante. Brabo não as guarda em estoque. As coloca em amostra no estilo marketing agressivo. Um isqueiro BIC enrolado numa liga sobre o balcão serve aos caprichos de quem bebe e ainda fuma. Até seis anos, ele vendia bem.

– Hoje tá mais fraco por causa da violência. As pessoas têm medo de gente ruim e vou no máximo até a meia-noite – diz.

Emenda outro assunto:

– Eu vou ser sincero. Tem muita gente com medo da polícia. Existe muita gente-boa na polícia, mas também tem gente inocente apanhando dela, só por causa de marginais. Aí, os tiras não querem saber quem é bom, quem é ruim.

Mas a polícia gosta do Brabo. Em 2010, ganhou um diploma da PM por ser grande parceiro da instituição na comunidade. O certificado, mandou pregar na parede, bem na entrada.

Brabo gaba-se de ter conhecido José Afonso Cândido da Silva, o Marrosa, homem que na década de 1980 foi um dos maiores traficantes da região, concentrando seus ‘corres’ no bairro Preventório, a três quilômetros do bar dele. Foi morto pela polícia numa operação chefiada pelo delegado Enock Pessoa, os dois já falecidos há muito tempo.

– O Marrosa vinha sempre aqui. Mas não era esse sujeito que pintavam, não. Era educado, sereno e muito meu amigo. Ele só não gostava de ser contrariado e nem da polícia.

Sobre o amigo, ele confessa:

– O danado me convidou pra vender maconha, mas eu o repreendi, dizendo que preferiria uma boa morte a estar preso ou sendo levado de camburão pra Penal.

Continua:

– Sou digno, moço. Meu pai me ensinou assim. A ser justo e correto. Disso não abro mão até partir dessa Terra.

Para encurtar a história, contou que só entrou no ramo dos birinaites para sair da peleja com a seringueira. Negou a si mesmo a vida aporrinhada de seringueiro, dizendo que iria para a cidade vender “nem que fosse caixas de fósforo”.

Com duas notas de cinco contos [bem, não se sabe ao certo qual era a moeda vigente na época] pegou o batelão e tomou rumo. O pé era o vento e o mocotó, um instrumento. Tocou para Rio Branco. Aqui, montou um boteco no bairro Novo Horizonte. Vinte anos depois, mudou-se para a Sobral onde abriu o Bar do Brabo.

Em 2017, para esta entrevista, tinha 56 anos de casado. Brabo teve 14 filhos e recorda-se com saudade do dia em que deixou o Seringal Revisão, às margens do rio Juruá, para onde fora enviado com a família desde Quixadá, no Ceará.

– Ali, foi a primeira vez que me chamaram de Brabo, um nordestino sem conhecer nada da floresta.

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