O filme “Bad boys 4 — Até o fim” obteve surpreendentes U$ 56 milhões em seu fim de semana de estreia, liderando as bilheterias americanas. Além dos protagonistas, Will Smith (Mike) e Martin Lawrence (Marcus), outro artista que ficou animado com a notícia foi Tiago Alves, ou Papatinho — algumas vezes Papato, para simplificar ainda mais. O produtor musical carioca de 37 anos fez parte da trilha sonora do filme com a faixa “Flores para ti”, em colaboração com Luísa Sonza e Becky G, nos vocais. Já com um nome estabelecido no cenário nacional, Papatinho agora busca espaço no exterior e conta ao GLOBO como foi o processo para chegar às telinhas em Hollywood.
— São vários anos indo e voltando várias vezes no avião, bem frustrado, sabe? Parece que as coisas não acontecem nunca. E, por mais que você tenha um monte de música (gravada), as músicas não saem (são lançadas) — diz Papatinho. — Mas, nessas idas, acabei conhecendo pessoas da indústria em Los Angeles, Atlanta, Miami, e, no início desse ano, em janeiro, me mandaram mensagem perguntando se eu tinha música para enviar para o filme.
Papatinho, animado com a história, conta que o convite ocorreu de forma inusitada.
— Ele (Zeke, produtor a serviço do filme) falou: “Estou subindo no elevador agora para a reunião com a Columbia Pictures, para falar do filme ‘Bad boys’. Estou pensando em trilha sonora, tem alguma coisa aí para mandar?” — rememora.
‘Você é o Papatino?’
Para realizar seu sonho de fazer música com artistas internacionais, o primeiro passo foi dado com uma ajudinha de Anitta. Em 2019, Papato produziu a música “Onda diferente”, que tinha a funkeira ao lado de Ludmilla e Snoop Dogg — que ele aproveitou para usar como sua voicetag, então, se você escutar o rapper falando “Papatinho”, saberá quem produziu a música. Além de Snoop Dogg, ainda conheceu o líder do grupo Black Eyed Peas, Will.I.Am, que é sua inspiração como produtor
— Tava na casa da Anitta, depois do Rock in Rio. Rolou uma festa lá. Aí eu vi o Will.I.Am pela primeira vez. Fiquei calado no meu canto, né? “Vou ali não”, pensei. Mas ele que veio e falou: “Papatino, você é o Papatino?”, pegou o meu telefone da minha mão e coloco o número dele. A Anitta chegou meio preocupada ainda, porque ela não gosta quando a galera fica tietando os artistas, mas eu que fui tietado, moleque — brinca.
Na colaboração, além da oportunidade de mostrar seu trabalho, Papatinho conta que aprendeu com a forma como o artista trabalhava. Ele lembra que, durante a produção da faixa “Duro Hard”, Will.I.Am poderia ter usado inúmeros equipamentos do estúdio, mas preferiu gravar da forma mais básica possível.
A gente foi para o piano, ele pegou o telefone, ligou o vídeo e começou a tocar o instrumento — descreve Papatinho. — Sem nem pedir para ninguém (que estava no estúdio) fazer barulho. Ele saiu tocando o piano assim e me mandou o vídeo por air drop, para eu pegar o áudio e samplear o piano dele. Poderia ter gravado o piano no microfone mais foda que tinha lá, na qualidade máxima, mas ele queria aquela sujeira (sonora) ali, ele queria o barulho.
Para o brasileiro, isso foi um ensinamento para a vida.
— Então esse é o tipo de coisa que você acaba aprendendo às vezes: que a música está sempre antes de qualquer coisa — resume Papato. — Para ter uma música, uma ideia de melodia boa, ela sempre será boa independente se gravada num superpiano, superestúdio ou num gravador barato.
A partir dessas colaborações, Papatinho se animou e começou a fazer suas incursões em solo americano, trabalhando com nomes comos Timberland, os rappers DaBaby, Meek Mill e o DJ Steve Aoki.
E, assim, conheceu o produtor que entrou em contato com ele para a trilha sonora.
— Eu mandei pro cara músicas de artistas que estavam na gravadora dele, inclusive. Então ele falou: “Caraca, maluco, como assim?” Isso tudo foi construído com a base de relacionamento — diz o artista.
Mesmo com muitas produções fora do Brasil, o artista continua criando em solo nacional. Ele fez sucesso com a música “Final de semana”, nas vozes de Seu Jorge e Black Alien, e, recentemente, produziu uma das faixas do álbum “Atemporal”, de Lulu Santos, projeto lançado no mês passado em que o artista trouxe releituras de seus antigos sucessos.
— Não é sobre bater de frente com a música original, é fazer uma versão Papatinho da parada. E eu não fui pelo caminho óbvio, isso chamou muito a atenção dele. Porque ele mesmo comentou que o caminho mais fácil, até óbvio, seria apenas adicionar um tambor ali na música original — disse o produtor. — Mas não, eu fui pelo caminho inverso e deixei com uma onda meio minimalista. Então ela acaba soando mais emocionante. Ele notou tudo isso e gostou tanto desse som que acabou sendo o primeiro single do projeto.
O carioca também produz músicas para seu selo Papatunes (gravadora, assessoria, distribuição e agenciamento artístico), em que já assinou a produção do início da carreira de nomes como Orochi e L7nnon, assim como iniciativas independentes com as Papatracks (com novos nomes da cena do hip-hop).
Volta às origens
Para o fim do ano, Papato pretende trazer de volta o grupo que o lançou em solo nacional, Cone Crew Diretoria. O grupo em que ele começou, em 2006, e se destacou com samples de Nina Simone no sucesso “Chama os Muleke”, voltará a se apresentar em resposta aos fãs “que são muito fiéis”, conta.
Mesmo com produções acontecendo o tempo todo, em todo lugar, ele nem cogita cansaço. E admite que é um workaholic da música.
— Trabalho todos os dias. Tenho muito tempo. Estou preparado porque tenho beat de todos os gêneros — diz Papatinho. — E, mesmo assim, quando o artista vai no estúdio, eu acabo fazendo uma do zero. Não uso as que eu já tenho. É impressionante — brinca. — É como se eu estivesse indo jogar videogame. Não estou indo trabalhar, estou indo me divertir. Eu poderia não estar produzindo tanto e ficar mais relaxado, mas não consigo. Então acaba sendo bom pra mim.