A economia brasileira deve apresentar um crescimento entre 0,6% e 0,9% no primeiro trimestre de 2024, estimam economistas e relatórios consultados pela EXAME. O dado será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 4, às 9h.
Essa será a primeira alta após o indicador permanecer estável nos dois últimos trimestres. No quatro trimestre de 2023, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, o PIB do país apresentou estabilidade.
O consenso de economistas é que os indicadores de atividade econômica do país surpreenderam positivamente nos três primeiros meses do ano, o que mostra resiliência da economia brasileira.
As estimativas apontam para uma trajetória da atividade econômica em 2024 muito semelhante à de 2023, com um primeiro semestre forte e um segundo semestre em desaceleração.
A perspectiva positiva provocou revisões de estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 entre diversos atores do mercado financeiro. A mediana de mercado do Boletim Focus, do Banco Central (BC), por exemplo, que havia iniciado o ano em 1,5% de crescimento, está em 2,02% no último relatório.
Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, os dados do primeiro trimestre vão mostrar que a economia brasileira cresceu, apesar do descolamento dos dados dos ativos financeiros, como a bolsa de valores, que caiu 9% no ano. A expectativa do economista é para um crescimento de 0,6% do PIB.
“A confiança empresarial está na máxima pela primeira vez desde 2022. Os dados de economia real estão bons, com o desemprego caindo para 7,5%, mas existe uma certa dicotomia entre os dados da economia real e os preços de ativos do mercado”, diz Gala.
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, avalia que um dos destaques do resultado divulgado na terça será a alta do consumo das famílias.
Ribeiro avalia que a resiliência do mercado de trabalho e o melhor comportamento do crédito serão responsáveis pelo maior gasto do brasileiro. A projeção da Tendências é para um crescimento trimestral de 0,6%.
“Esse crescimento do consumo das famílias tem como foco principal a compra de bens, mas também deve ter respingado em consumo de serviços”, diz Ribeiro.
De olho nos investimentos
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados e colunista da EXAME, espera uma alta de 0,9%, puxada pelo comércio, serviços e indústria, que tiveram um impulso pelo pagamento de R$ 93 bilhões em precatórios pelo governo federal.
Vale afirmou ainda que o agronegócio, destaque do primeiro trimestre do ano passo, deve apresentar resultado ruim pela quebra de safra neste ano.
“O crescimento será via empuxo fiscal (pagamento de precatórios). A grande dúvida ou curiosidade do resultado de amanhã vai ser sobre o investimento, para sabermos se tive alguma retomada ou se continua na trajetória de queda que temos vistos desde o ano passado”, diz Vale.
Impacto das enchentes do Rio Grande do Sul será no 2º tri
Vale salienta, porém, que o resultado divulgado não dará muitos indicativos sobre o crescimento no ano por não captar o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul e a redução do ritmo de corte de juros por parte do Banco Central.
“O mais interessante vai ser entender o que vai ser o segundo trimestre, com o impacto do Rio Grande do Sul e da taxa de juros elevada. Esse PIB, infelizmente, ficou velho por tudo de tão relevante e intenso que aconteceu em abril e maio”, conclui o economista da MB Associados.
Em relatório, as economistas Natalia Cotarelli e Marina Garrido do Itaú BBA estimam um crescimento de 0,7% no trimestre, e de 2,3% na comparação anual. O documento aponta que o setor de serviços deve ser o grande destaque, com crescimento de 2,9%, acima dos 1,9% observados no último trimestre de 2023.
O aumento dos benefícios sociais atrelados ao salário-mínimo também é colocado como um grande fator de crescimento do PIB nos três primeiros meses do ano.
“Indicadores mensais melhores do que o esperado durante o 1º trimestre de 2024 – particularmente no varejo e serviços prestados às famílias – reafirmam nossa visão de um início de ano mais robusto na economia brasileira”, aponta o relatório.
As economistas do Itaú BBA também apontam que a projeção do PIB de 2,3% para o ano tem viés de queda pelos possíveis impactos negativos das enchentes do Rio Grande do Sul.
A expectativa inicial é que a tragédia tenha um impacto negativo de 0,3 ponto percentual no PIB do ano.
“Este trágico acontecimento introduz uma incerteza acrescida em torno do crescimento do PIB no segundo trimestre de 2024, conduzindo a uma tendência descendente na nossa projeção anual”, aponta o relatório.