“Divertida Mente 2” chegou aos cinemas na quinta-feira (20), acompanhando a chegada da personagem principal Riley, à adolescência e as mudanças emocionais relacionadas à puberdade. Entre as novas emoções apresentadas na trama está a Ansiedade, que logo quer estar no controle das situações e está sempre preocupada com o futuro.
Apesar de ser voltada para o público infantil, a animação retrata um tema que merece a devida atenção de adultos e do público jovem: a ansiedade na adolescência. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas entre 10 e 19 anos. Além disso, em todo o mundo, a ansiedade é a 8ª principal causa de doença e incapacidade entre todos os adolescentes.
O psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica à CNN que, durante a adolescência, existe uma “expansão do mundo” visto até então na infância, fazendo com que o adolescente entre em contato com novas situações e pessoas. Além disso, é um marco para importantes mudanças sociais e do próprio corpo.
“Isso tudo pode levar ao aumento da ansiedade diante do desconhecido, insegurança relacionada a competências e reações diante de ameaças abstratas e situações sociais”, afirma Kanomata.
Na maioria das vezes, a ansiedade é uma reação normal que, apesar de ser incômoda, é adaptativa e de curta duração, segundo o psiquiatra. No entanto, quando a emoção se torna intensa e desproporcional ao contexto, pode levar a reações inapropriadas e causar sofrimento, prejuízo e comprometimentos funcionais. “Deve-se ficar atento diante da possibilidade de uma ansiedade patológica”, reitera o profissional.
Principais sintomas e sinais de alerta
Identificar os principais sintomas e sinais de alerta de ansiedade em adolescentes é fundamental para dar início ao tratamento. Eles podem ser percebidos por pessoas ao redor do adolescente — como pais, familiares, amigos, professores ou outros adultos responsáveis — e pelo próprio jovem.
Segundo Kanomata, alguns sintomas de ansiedade na adolescência incluem:
- Preocupação constante;
- Estado de tensão e alerta constantes;
- Postura de evitação diante de situações temidas;
- Desregulação emocional;
- Problemas de sono;
- Dificuldade de concentração;
- Queda no desempenho escolar;
- Queixas de dores frequentes, como dor de cabeça, no estômago e aperto no peito.
Riscos que a ansiedade pode oferecer ao adolescente e à vida adulta futura
Quando a ansiedade não é devidamente tratada, podem ocorrer dois cenários, segundo o psiquiatra: se prolongar e persistir ao longo da vida ou, então, regredir, mas com alta taxa de recorrência com o passar dos anos.
“Isso pode levar ao sofrimento e a prejuízos clinicamente significativos, resultando em uma pior qualidade de vida”, explica Kanomata.
O especialista alerta, também, para os riscos que a ansiedade pode oferecer no desenvolvimento de outras comorbidades clínicas, como obesidade, hipertensão, queda da imunidade e insônia, e condições psiquiátricas, como depressão, abuso e dependência de álcool e outras substâncias.
Esses riscos à vida adulta são, inclusive, abordados e alertados pela OPAS. A entidade ressalta que não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes pode prejudicar a saúde física e mental na idade adulta, limitando futuras oportunidades.
Como lidar e tratar a ansiedade em adolescentes?
Lidar com a ansiedade na adolescência pode ser um grande desafio. No caso dos pais, abordar o assunto, muitas vezes, representa um trabalho árduo e difícil.
“Os adolescentes podem se sentir envergonhados e relutantes em aceitar que possa ter um problema, pois requer que olhem a si próprios e entrem em contato com sentimentos negativos, fragilidades, preconceitos, medo de serem excluídos do círculo social, sensação de inadequação quando se comparam aos outros, receio de que os pais banalizem e não compreendam seus sentimentos”, elenca o psiquiatra.
Por isso, para ajudarem os filhos adolescentes a superarem esses primeiros obstáculos, é importante promover um ambiente seguro e sem julgamentos, em que os filhos possam expressar seus sentimentos, segundo Kanomata. Explicar o que é a ansiedade, quando ela pode se tornar um problema, sem preconceitos, e incentivar a busca por ajuda profissional também é um passo fundamental.
Já do ponto de vista dos próprios adolescentes, é importante que eles percebam que superar a ansiedade será um processo mais fácil com apoio dos pais, familiares, amigos e profissionais, conforme aponta o psiquiatra.
“Os adolescentes podem sentir dificuldade em interpretar seus próprios sentimentos, então compreender a sensação de estar ansioso e suas manifestações físicas e psíquicas diminuem o medo de algo desconhecido, bem como facilita na identificação de fatores gatilhos para a ansiedade”, afirma.
O que pode ajudar
A OPAS recomenda algumas atitudes que podem ajudar a promover a saúde mental dos adolescentes. Alguns exemplos são:
- Intervenções psicológicas individuais online, em grupo ou autoguiadas;
- Intervenções focadas na família, como treinamento de habilidades do cuidador.
- Intervenções nas escolas, como mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro e positivo, ensino sobre saúde mental e habilidades para a vida e programas escolares de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental;
- Intervenções baseadas na comunidade.
Em momentos de crise, Kanomata orienta o adolescente a realizar técnicas de relaxamento e combate ao estresse, como:
- Afastar-se do fator estressor;
- Desfocar a atenção para outra atividade calmante, como ouvir música, caminhar, ler, fazer uma massagem, entre outras;
- Estruturar uma rede de apoio a que possa recorrer nas crises, como amigos, familiares, professores, profissionais de saúde, entre outros;
- Aplicar técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda.
O que pode atrapalhar
Algumas atitudes podem piorar o quadro de ansiedade e a saúde mental dos adolescentes. Do ponto de vista dos pais e responsáveis, Kanomata recomenda evitar práticas como:
- Criticar e culpabilizar os adolescentes por decisões e situações que achem estar relacionadas à ansiedade;
- Minimizar ou invalidar o sofrimento;
- Reagir de forma inadequada e demonstrar irritabilidade;
- Negar que os filhos possam ter algum problema que mereça ajuda profissional.
Caso esteja precisando de apoio emocional, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece ajuda voluntária e gratuita a todas as pessoas que estão se sentindo solitárias ou que precisam conversar de forma sigilosa, sem julgamentos ou críticas. Para entrar em contato com o CVV, basta discar 188 (disponível 24 horas por dia), usar o chat, mandar um e-mail ou comparecer a um dos postos de atendimento (endereços disponíveis no site).