Abre o olho, Márcio Bittar: MDB aplica rasteira no PL e mostra como será chapa de 2026

Na campanha que virá, uma possível aliança de Márcio Bittar com o MDB e seus velhinhos, quiçá todos estejam vivos até lá, está descartada

Para o MDB e seus dirigentes vetustos, os chamados “Cabeças Brancas” que dão as cartas no Acre no que restou do partido que foi fundamental para a derrubada da ditadura militar que solapou a democracia no país de 1964 até 1985 sob o comando de combativo Ulysses Guimarães, o senador Márcio Bittar ainda é um velho comunista daqueles de meter medo.

Talvez, os macróbios arquivistas da fundação “Ulysses Guimarães”, instituição que homenageia o velho dirigente e cuida da memória da sigla, tenham encontrado velhos documentos relacionados ao atual senador que começou sua já longeva carreira política como um quadro importante do MDB, sendo inclusive um deputado estadual muito combativo pela sigla. As gerações mais recentes da política local e nacional talvez, por isso mesmo, desconheçam a importância do MDB no espectro político do país. Às tais convém lembrar que a sigla, no enfrentamento mais duro à ditadura dos generais que governou o país por seguidos 21 anos, tinha em seus quadros políticos e personalidades com pendores esquerdistas e até comunistas juramentados e aprendizes de tudo isso, como era o Márcio Bittar daqueles tempos.

Na campanha que virá, uma possível aliança de Márcio Bittar com o MDB e seus velhinhos, quiçá todos estejam vivos até lá, está descartada/Foto: ContilNet

O MDB da época dava abrigo àqueles personagens da política nacional para que eles, na fata de outras siglas na época em que eram permitidos só dois partidos (MDB e Arena), pudessem fazer política. Mas isso é só história, passado. Ao MDB de hoje o que interessa é ser pragmático em busca de voltar ao poder do qual, no Acre, está afastado desde os anos de 1990.

É neste contexto em que, pragmático como sempre foi o MDB, principalmente o do Acre, não quer saber da história de suas origens e muito menos da de Márcio Bittar. É o que se depreende dos fatos registrados.

Vejamos:

Em Rio Branco, o PL, sobre o qual o senador é filiado ao UB (União Brasil), tem influência principalmente por sua ligação com o líder máximo da sigla, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o Partido e o MDB estão tal e qual azeite e vinagre. Mas, na Capital, o MDB que tem um candidato competitivo, o ex-prefeito petista Marcus Alexandre, não era mesmo um projeto de coligação ou apoio do PL face às ligações de Márcio Bittar com o atual prefeito Tião Bocalom e com o próprio governador Gladson Cameli, que patrocina o candidato a vice na chapa, Alysson Bestene, representante do PP na aliança.

Mas, em Cruzeiro do Sul, a segunda cidade mais importante e também a segunda em número de eleitores no Acre, além da não menos importante cidade de Brasiléia, o PL de Bolsonaro e Márcio Bittar foram rifados pelos velhinhos do MDB. Nem é preciso dizer que a imposição dos velhinhos na composição do MDB com o PSD do senador Sérgio Petecão em Cruzeiro do Sul afastou Márcio Bittar. Afinal, o PL foi retirado das tratativas para indicar o vice na chapa da emedebista Jéssica Sales sem qualquer comunicado à direção ou a Márcio Bittar, apesar das históricas relações do senador com o ex-deputado e ex-prefeito Vagner Sales, pai e ideólogo da candidatura da filha e ex-deputada à Prefeitura da segunda maior cidade acreana. E não foi por falta de nomes na sigla. Um deles, o da ex-vereadora Lucila Bruneta, que foi inclusive secretária municipal de saúde na gestão de Vagner Sales, agora filiada ao PL, mostra o tamanho da rasteira sofrida pelo PL de Cruzeiro do Sul. O PL se achava, sim, no direito de poder indicar o vice do MDB em Cruzeiro do Sul e, ao final, viu o espaço que deveria ser seu ocupado pelo advogado Tota Filho, ligado ao PSD de Petecão.

A mesma coisa deve ocorrer na Brasiléia. Ali, o PL enviou inclusive o seu dirigente regional Edson Bittar para as últimas tratativas para indicar o vice da ex-prefeita e agora candidata a um novo mandato Leila Galvão e não foi sequer recebido pelo MDB. No dia em que deveria ocorrer a reunião, Leila Galvão e o marido e seu articulador político Nelsinho Moreira saíram da cidade e deixaram o velho Édson a ver canoas (uma vez que, em Brasileia, longe do mar, não passa navios). E tal desprezo ao PL no município também não se deu por falta de nomes, já que em Brasiléia os vereadores Wilde Amorim e Blandina, agora filiados à sigla bolsonarista, tinham disposição e interesse de composição com o MDB.

O desprezo ao PL nada tem a ver com as eleições que se avizinham. Tem a ver com 2026. É na eleição geral futura, quando Márcio Bittar deve concorrer à reeleição na chapa em que o PL de Bolsonaro vai apresentar candidatura à presidência – se não o ex-presidente, se permanecer inelegível, gente como o atual governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, ou de outro de seu tamanho político. No desenho em que o PL, Márcio Bittar e o bolsonarismo não aparecem na mesma foto, o que se enxerga é o MDB buscando se aproximar ainda mais do petismo através da imagem e da estrutura do PSD de Petecão, que faz parte da base do presidente Lula no Congresso.

Na hipótese de o MDB ganhar a eleição em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Brasiléia, em 2026, o PSD de Petecão estará em que palanque? No de Bolsonaro ou no do PT de Lula? Ainda que mal pergunte, convém mesmo perguntar?

Respondida a primeira pergunta, eis a segunda: na disputa por uma das vagas ao Senado (já que a primeira, mostram os números de pesquisas, já está assegurada ao atual governador Gladson Cameli), o MDB vai de Petecão e do petista Jorge Viana ou apoiará Cameli e Márcio Bittar caso obtenha vitória nos dois maiores colégios acreanos agora em 2024?

Terceira pergunta: e se a atual deputada federal Socorro Neri, cortejada pelo MDB, voltar a integrar a sigla e ser candidata ao Senado, ela deixará de ser a companheira de chapa de Jorge Viana?

Deixo a cargo do leitor as respostas. Mas o que vê-se é que, no caso de agora, o PSD de Petecão pode ter atirado nos pés de sua maior liderança local, o senador Sérgio Petecão. Em Rio Branco, ainda que sua vice seja a esposa do senador, a senhora Marfisa Galvão, é óbvio que em caso de eleição, Marcus Alexandre dificilmente deixará de apoiar como candidato in pectore ao Senado o ex-senador e ex-governador Jorge Viana, principal responsável pela sua vinda para o Acre, seu ex-chefe imediato, mentor político e amigo pessoal.

À Márcio Bittar e ao PL de Bolsonaro, agora, só cabem o empenho máximo para fazer de Tião Bocalom prefeito de novo da Capital Rio Branco. E, a continuar a guerra de propaganda em relação ao passado, com o PL e aliados de Bocalom buscando colar cada vez mais a imagem do PT, de Jorge e Lula no candidato Marcus Alexandre, o pragmático MDB poderá dar o troco exibindo, ainda que contraditoriamente, as ligações do ultraliberal e direitista Márcio Bittar com o velho Partido Comunista da extinta União Soviética cujo dirigente máximo a época da cortina de ferro, Josef Stalin, é responsável pela morte de milhões de opositores. Coisa mesmo capaz de estarrecer até as almas mais duras da política.

A diferença é que, enquanto Márcio Bittar não se envergonha de seu passado, embora renegue-o, Marcus Alexandre, como Pedro às vésperas da crucificação de Cristo, renegaria Lula, Jorge Viana e o PT (não necessariamente nesta ordem), toda vez que pudesse.

Documento inédito e em russo atesta participação do brasileiro Márcio Bittar em curso sobre ser comunista na extinta União Soviética, em 1984/Foto: Reprodução

O fato é que, assim como apareceu o velho documento ligado Bittar à extinta União Soviética, a campanha de 2024 sequer começou direito, já se enxerga a de 2026. Na campanha que virá, uma possível aliança de Márcio Bittar com o MDB e seus velhinhos, quiçá todos estejam vivos até lá, está descartada. Isso mostra que, a política, passado e presente, às vezes tão distantes, parecem andar juntos.

Poesia à parte, é necessário se dizer ao também pragmático Márcio Bittar: abre o olho, senador!

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