Se em 2009 alguém sugerisse dar uma trilogia para o mutante interpretado por Ryan Reynolds em “X-Men: Origens Wolverine”, essa pessoa provavelmente seria caçoada eternamente.
No entanto, o inesperado aconteceu: Reynolds transformou seu personagem em um ícone da cultura pop, alcançando não apenas sucesso de crítica, mas também um estrondoso sucesso de bilheteira. A trajetória de Deadpool passou de uma ideia improvável para um fenômeno global, consolidando seu lugar como uma força dominante na cultura pop.
Utilizando sua genialidade e carisma colossal, Reynolds transformou Deadpool em um ícone pop, com o suporte visionário de diretores excepcionais no gênero de ação. Tim Miller, responsável pelo inovador “Deadpool” (2016), e David Leitch, que dirigiu a sequência eletrizante “Deadpool 2” (2018), desempenharam papéis cruciais na ampliação da singularidade e impacto do personagem. A colaboração entre Reynolds e esses realizadores foi essencial para trazer à vida e aprimorar o herói mais insano e irreverente dos quadrinhos, criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza em 1991 para a revista “New Mutants #98”.
O fabuloso uniforme amarelo
O canadense Shawn Levy, conhecido por seu trabalho em “Uma Noite no Museu” (2006) e “Free Guy” (2021), foi encarregado de dirigir o capítulo final da trilogia do Deadpool, balanceando com perfeição as façanhas absurdas dos protagonistas enquanto explora temas palatáveis alinhados às motivações de seus personagens nessa comédia dramática.
Reynolds conseguiu expandir ainda mais a mitologia do personagem ao reintegrar Hugh Jackman como Wolverine, que, pela primeira vez nas telonas, veste o icônico uniforme amarelo. Assim como ele trouxe Cable e a X-Force na sequência do filme original, demonstrando que o raio pode, sim, cair mais de uma vez no mesmo lugar, agora ele faz o mesmo ao trazer Wolverine de volta para o seu universo.
Essa escolha adiciona uma camada esteticamente significativa de nostalgia à franquia, destacando de maneira marcante o fechamento de um ciclo importante iniciado pela Fox nos anos 2000. A inclusão do uniforme amarelo simbolicamente transforma a produção em uma verdadeira celebração do legado dos X-Men e da trajetória do mercenário tagarela no cinema.
Este crossover não é apenas uma explosão de energia quântica, é uma supernova de caos e criatividade, irradiando em todas as direções com força nuclear e sem qualquer vergonha de ser ousado e escrachado. Ao manter o tom satírico e autodepreciativo que tornou Deadpool um sucesso, Levy consegue equilibrar humor, drama, ação e emoção de forma a prestar uma homenagem carinhosa às produções anteriores, enquanto introduz novos elementos que enriquecem a trama, dispensando exposições narrativas desnecessárias.
Optando por uma trama simplificada apresentando um Deadpool mergulhado em plena crise existencial, Levy dá ênfase ao desenvolvimento dos personagens, permitindo que todos brilhem individualmente, mesmo com o pouco tempo de tela disponível de alguns convidados especiais, graças à química excepcional entre o elenco, que intensifica ainda mais o bromance entre os personagens principais.
Levy, com seu dinamismo característico, sua atenção meticulosa aos detalhes e ao ritmo das coreografias permite que cada movimento dos personagens conte uma história, mesmo que curta e resumida a uma frase, mas com poses marcantes que adicionam profundidade às cenas utilizando enquadramentos criativos e vertiginosos, com sequências de ação editadas com precisão, resultando em cenas que são simultaneamente ressonantes e brutais.
Um elenco para bagunçar qualquer evento canônico
A parceria entre Ryan Reynolds e Hugh Jackman é um verdadeiro presente para os fãs, trazendo uma profundidade emocional que contrasta de maneira brilhante com o humor irreverente de Deadpool e o tom melancólico que sempre esteve presente ao redor de Logan. Reynolds e Jackman têm uma química inegável, elevando o nível da narrativa com suas atuações dinâmicas e multifacetadas.
Do lado dos antagonistas, Emma Corrin interpreta a enigmática Cassandra Nova, uma mutante de nível ômega criada por Grant Morrison em sua icônica passagem pelos títulos dos mutantes nos anos 2000 e Matthew Macfadyen assume de forma escrachadamente britânica o papel hilário do agente Paradox, dando continuidade aos eventos da Autoridade de Variância Temporal mostrados na série Loki.
As referências são elevadas ao cubo, com aparições de personagens de diferentes linhas temporais e realidades alternativas que se entrelaçam em um caos sincronizado e uma harmonia irreverente, estabelecendo uma contribuição orgânica em suas interações que nunca se tornam cansativas. Pelo contrário, esses momentos proporcionam uma excelente oportunidade para respirar, até mesmo em meio aos destroços dessa desastrosa aventura rumo à relevância.
A trilha sonora, cujo foco narrativo gira em torno da canção “Like a Prayer” da Madonna, dividindo espaço com uma playlist cuidadosamente escolhida como nos filmes anteriores, cria um contraste que complementa perfeitamente as cenas de ação e humor, intercalando entre NSync e Avril Lavigne para adicionar uma camada extra de dinamismo e envolvimento. As cenas em que os dois personagens interagem estão carregadas de referências aos filmes anteriores, desde piadas internas sobre o passado de Wolverine até comentários metalinguísticos sobre a história cinematográfica da Marvel.
Veja bem, como um doce deliciosamente açucarado, “Deadpool & Wolverine” nunca teve a pretensão de ser uma produção com a profundidade de um filme indicado ao Oscar, mas sim de oferecer o mais puro entretenimento ágil e estilizado, no estilo do TikTok, para contar a história caótica do messias da Marvel. E esse objetivo é alcançado com sucesso mesmo quando o gênero de super-heróis se encontra atualmente completamente saturado e desgastado, com produções que beiram cada vez mais a mediocridade.
A leveza narrativa é equilibrada pelo evidente carinho e dedicação que tanto o elenco quanto o diretor investiram neste universo, criando uma grande celebração. A produção foi feita com o coração, e isso transparece em cada cena, tornando a experiência genuinamente autêntica, pois não tem a menor vergonha de abraçar o espetáculo do seu material original.