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Há 125 anos, Acre se tornava um país e era criada a República Independente por Luis Gálvez

Por Matheus Mello, ContilNet

Há exatos 125 anos, no dia 14 de julho de 1899, em Puerto Alonso, agora rebatizado de Porto Acre, o espanhol Luis Galvez proclamava o Estado Independente do Acre, a conhecida República do Acre.

Naquela época, por um tratado, o Acre pertencia à Bolívia. Porém, com o ciclo da borracha, muitos brasileiros migraram para esta terra e por causa disso, houve um impasse entre os dois países pelo território.

De um lado, a Bolívia alegava que os brasileiros invadiram uma região que era dela, e do lado de cá, o Brasil não reconhecia a região como boliviana.

Proclamação foi um dos fatos mais importantes da história do Acre/Foto: Arquivo histórico

“Já que a Pátria não nos quer, criamos outra”

Os brasileiros, vindos de vários pontos do Brasil e que lá já haviam fixado residência,  não aceitavam a situação e foi aí que o espanhol Luis Gálvez Rodrigues de Arias, proclamou então o Estado Independente do Acre (República do Acre), proferindo a conhecida frase: “Já que a Pátria não nos quer, criamos outra”, que inclusive está escrita na Bandeira do Acre, que acompanha a sua estátua em frente à Assembléia Legislativa de Rio Branco, no Centro da capital.

Em entrevista ao ContilNet, o professor e historiador Marcos Vinicius, explica ainda que o governo boliviana teria a ajuda do governo norte-americano na disputa pelo território acreano, com interesse na borracha.

“Enquanto isso no Acre, os brasileiros expulsavam as autoridades bolivianas da região. Foi quando um jornalista espanhol que atuava no Pará, foi contratado para traduzir um documento secreto entre o governo norte-americano e o governo Boliviano, declarando a intenção do governo norte-americano de ajudar a Bolívia a resolver a ocupação do Acre através da formação de uma companhia comercial, com o objetivo de arrendar o Acre, explorar a borracha e pagar os direitos de arrendamento a Bolívia, o que podia resolver as dificuldades que o país tinha para então ocupar e governar essa região”.

Luis Gálvez. Foto: Reprodução

“Só que esse jornalista espanhol vazou esse documento secreto para a imprensa onde ele trabalhava na época, no Pará. Ele ficou famoso com essa história e ganhou notoriedade. Então ele se deslocou à Manaus, onde a questão acreana era mais presente, porque era lá que se arrecadava os impostos da borracha que vinha do Acre e obteve apoio do governador Ramalho Júnior, para vir para região e ajudar na conflagração que já estava acontecendo aqui no Acre”, completou.

Liderado por Luís Galvez, os seringalistas começaram a forçar o governo brasileiro, que mantinha um tratado com a Bolívia, a mudar o status da região para reconhecer que o local era ocupado majoritariamente por brasileiros.

“A estratégia então foi proclamar uma república, o Estado independente do Acre que foi proclamado no dia 14 de julho de 1899, não por acaso. Nessa data era o aniversário de 210 anos da Revolução Francesa, na queda da bastilha em 14 de julho de 1789. O que remetia então essa nova república aos ideais libertários de cidadãos instaurados pela missão francesa”, explica o historiador.

Estátua de Gálvez na Assembleia Legislativa do Acre/Foto: Reprodução

Mesmo com a república proclamada, Galvez e os seringalistas não tiveram apoio de outros países, que não reconheceram o status do novo país acreano. Ao passar dos meses, uma crise interna foi instaurada na nova república e Luis Galvez chegou a ser deposto do cargo. Foi o começo da queda da República do Acre.

“Ao contrário do que ficou consagrado pela publicação um livro de ficção, Galvez nunca foi imperador do Acre. Essa forma era como os jornais que faziam oposição ao que acontecia no Acre, o tratavam em Belém e Manaus. Como se fosse uma um imperador da borracha no Acre. Na verdade era uma república de caráter libertário. Foi organizado através de ministérios e estava sendo elaborada uma constituição. A pretensão era realizar eleições para presidência da república, num curto espaço de tempo. Mas antes disso, a República entrou em crise por conta de oposições internas, porque Galvez decretou o bloqueio da borracha e já no final do ano, seis meses depois de iniciado o estado independente, ele foi deposto por seringalistas acrianos”.

“Depois foi reempossado, até que uma flotilha de guerra do governo brasileiro, prendeu o Galvez, levou pra Bolívia. Depois aconteceram outros episódios relacionados a guerra do Acre ou a Revolução Acreana, que três anos depois resultaram na anexação do Acre ao Brasil”, completa o professor.

Mapa do Estado Independente do Acre/Foto: Arquivo Nacional

Mesmo durando pouco tempo, a República do Acre foi um movimento que revelou que haviam inúmeras soluções para a região, e que o governo brasileiro precisava se envolver diretamente para resolver o impasse com a Bolívia. Além disso, livrou o Acre se passar por um problema visto em diversos outros países: a internacionalização do território.

“A luta naquele momento, embora não tivesse clara completamente, era contra o imperialismo que ocupava a África, a Ásia e que gerava extrema miséria nesses continentes graças a superexploração das grandes potências econômicas da época. Foi uma luta muito importante e impregnou o Acre, de um caráter inovador, pioneiro e libertário que depois seria mantido ao longo da guerra do Acre. Não à toa que Plácido de Castro recria o estado independente quando começa a última etapa da guerra já em 1902”.

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