No coração do Acre, onde as estações se misturam em um balé sutil de cores e sensações, o outono se anuncia não com o óbvio desfile de folhas cadentes, mas com uma transformação mais introspectiva da natureza. É um tempo de reflexão, onde o silêncio se torna um mestre e o vazio da carência um convite para o autoconhecimento.
Eclesiastes 5:2 nos aconselha: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus, porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra, assim sejam poucas as tuas palavras.” Este versículo bíblico ressoa com a sabedoria do silêncio, lembrando-nos que, muitas vezes, a confiança não reside na profusão de palavras, mas na serenidade de saber quando falar e quando permitir que o silêncio fale por nós.
No Acre, o outono é uma estação de transição, marcando o fim do verão chuvoso e o início do inverno seco. As árvores, embora não percam suas folhas tão dramaticamente quanto em outras regiões, ainda assim se preparam para os tempos de escassez, ensinando-nos sobre a importância de se adaptar e se preparar para as mudanças da vida.
Assim como as árvores que se despojam do supérfluo, preparando-se para a renovação, também nós podemos usar o outono da vida para nos desfazermos das folhas secas de preocupações e ansiedades desnecessárias. O silêncio nos convida a ouvir mais atentamente, a refletir mais profundamente e a falar apenas o que é essencial.
A psiquiatra Nise da Silveira, uma pioneira na compreensão da mente humana, nos ensinou que “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Sua fala nos lembra que, embora o silêncio seja um professor, é na ação consciente e refletida que encontramos nosso verdadeiro propósito e realização.
O filósofo Arthur Schopenhauer disse uma vez: “Da árvore do silêncio pende seu fruto: a paz.” No outono de nossas vidas, podemos colher os frutos da paz interior, aprendendo com o silêncio e preenchendo o vazio da carência com a plenitude do ser.
Portanto, não temamos o silêncio, nem o vazio. Eles são espaços sagrados de crescimento e compreensão. Como as árvores do Acre que, silenciosamente, se preparam para a estação seca, também nós podemos nos fortalecer e florescer após o outono de introspecção.
Que este outono que nos deixa seja um convite para você se conhecer melhor, para falar menos e dizer mais, para ser menos e ser mais. Que o silêncio do outono lhe ensine a verdadeira essência da confiança, da força e da sabedoria.
Maysa Bezerra
Coach e Escritora