Os 24 melhores filmes da A24

Entre horrores elevados e draminhas hipster, selecionamos o que a produtora fez de melhor

Difícil pensar uma “filmografia” mais estrelada e prestigiada, na Hollywood contemporânea, do que a da A24. Embora não seja um grande diretor ou um superastro de ação, muito menos uma franquia multibilionária, a produtora e distribuidora independente atingiu um status quase intocável na indústria cinematográfica, em que o prestígio de seus títulos é quase presumido antes do lançamento.

Selecionamos o que a produtora fez de melhor/Foto: Omelete

Mas quais são os filmes da A24 que realmente valem a pena, depois do hype e das discussões no Letterboxd terem esfriado? Bom, nos juntamos para decidir (com muito critério, mas também muito coração) os 24 melhores filmes da produtora:

24. O FIM DA TURNÊ

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video e na Apple TV+.

Com frequência se critica o pequeno filme indie de estrada ou de crônica geracional por uma confortável falta de maiores ambições. Para além das caixinhas que os laboratórios de roteiro de Sundance consagraram, James Ponsoldt injeta vida, gravidade e, sim, ambição nesta história contada sob a plena influência de David Foster Wallace – um autor que afinal organizou sua breve existência em torno de lidar com tudo como uma questão de vida ou morte. (Por Marcelo Hessel)

23. A TRAGÉDIA DE MACBETH

Onde ver: Disponível na Apple TV+.

Ao remover as cores e centralizar a ação, A Tragédia de Macbeth encontra a chave para o clima do teatro Shakespeariano. Os personagens e locais iluminados pelo brilho sempre cuidadosamente posicionado são como as palavras e letras nos textos do dramaturgo inglês, enquanto a escuridão ao seu redor realça o gosto de impressionismo. Muitos filmes adaptam essas palavras; poucos parecem adaptar as próprias páginas. (Por Guilherme Jacobs)

22. O FAROL

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video e na Apple TV+.

O roteirista e diretor Robert Eggers dribla a síndrome do segundo filme recompensando o público do cinema de horror com tudo aquilo que o seu A Bruxa havia recusado: as catarses convencionadas pelo gênero em suas muitas expressões, do pequeno susto ao delírio cósmico. O gosto de Eggers por pesquisar relatos reais, reproduzidos então de forma literal no diálogo, ganha vida na prosódia de Willem Dafoe e O Farol resulta um triunfo da teatralidade. (Por Marcelo Hessel)

21. SPRING BREAKERS: GAROTAS PERIGOSAS

Onde ver: Disponível na Netflix e no Prime Video.

De repente o cinema americano de pretensão jovem redescobre as cores e luzes do neon; há uma variedade de filmes e séries que saturam suas cores para emular um cinema sensorial e de fluxo em contraponto à frieza cinza e cínica dos blockbusters militarizados dos últimos 20 anos. Poucos deles, porém, fazem isso com tanta propriedade e verdadeiro despudor quanto Spring Breakers. (Por Marcelo Hessel)

20. FALE COMIGO

Onde ver: Disponível no Prime Video.

Em uma era de “horror elevado” que precisa desesperadamente de mais faro pop e impulsos emocionais mais fortes, Fale Comigo é um bálsamo. Vindos do YouTube, os irmãos Philippou sabem exatamente como mexer com ansiedades elementais dos tempos contemporâneos e traduzi-las em imagens instantaneamente icônicas, tudo sem perder de vista o impacto emocional do seu filme. (Por Caio Coletti)

19. VIDAS PASSADAS

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video e na Apple TV+.

Em muitos sentidos o draminha de relacionamentos quintessencial da A24, Vidas Passadas coloca os personagens hipsters que são figurinha carimbada do estúdio em rota de colisão com uma série de valores e realidades concretas. Sem recorrer ao melodrama, Celine Song mina com habilidade toda a angústia que advém desse esbarrão perigoso. (Por Caio Coletti)

18. FIRST COW: A PRIMEIRA VACA DA AMÉRICA

Onde ver: Disponível na MUBI.

Uma das principais vantagens do slow cinema de Kelly Reichardt é como ele dá amplo espaço para seus personagens respirarem, literalmente. Por vezes, não é preciso nenhum diálogo. Bastam gestos. Em First Cow, em meio às sementes do capitalismo americano, identificamos o começo e do fim de uma amizade, perpetuada pela iniciativa, e amaldiçoada pela necessidade de lucrar só mais um pouco. (Por Guilherme Jacobs)

17. X: A MARCA DA MORTE

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video, Apple TV+ e YouTube Filmes.

Adepto de explorações de gênero bem literais, o diretor Ti West finalmente parece ter encontrado uma história que realmente queria contar com X: A Marca da Morte. Vulgar, enérgico e cheio de ideias explosivas sobre sexualidade, envelhecimento e impulsos de morte, este é (de longe) o melhor dos filmes que reavivaram o terror slasher nos últimos tempos. (Por Caio Coletti)

16. A DESPEDIDA

Onde ver: Disponível somente em mídia física.

A Despedida desafia a ideia do “draminha indie simples e sincero” ao nos confrontar com cada escolha deliberadamente artificial que Lulu Wang faz na direção. A trilha sonora melodramática, a direção de arte cheia de tons pastéis, a encenação milimétrica que provoca o humor nos momentos menos prováveis. Ah, e Awkwafina sempre vai ser “a atriz indicada ao Oscar, Awkwafina” no meu coração. (Por Caio Coletti)

15. MIDSOMMAR – O MAL NÃO ESPERA A NOITE

Onde ver: Disponível no MGM+.

De acordo com Ari Aster, Midsommar foi concebido pensando num fim de namoro particularmente trágico que o diretor experimentou. O desespero da situação inunda cada segundo deste tenso terror situado quase inteiramente na luz do dia, onde o medo vem não do que está escondido nas sombras e sim de como Aster, mais uma vez, trata a co-dependência. É um veneno do qual Florence Pugh precisa gritar e sofrer para escapar. Ela consegue? Difícil ter certeza, mas quando Midsommar termina, é fácil dizer: “Bom pra ela.” (Por Guilherme Jacobs)

14. O SOUVENIR

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video, Apple TV e YouTube Filmes.

A escolha de rodar em película de 16mm pode sugerir que o quarto longa de Joanna Hogg transpira algum elitismo cinematográfico, mas na prática o que a cineasta realiza é uma versão do amour fou burguês de Trama Fantasma (lançado dois anos antes) mais direto ao ponto, sem todos os floreios de autor do filme de Paul Thomas Anderson.  (Por Marcelo Hessel)

13. BOM COMPORTAMENTO

Onde ver: Disponível somente em mídia física.

Um proto-Joias Brutas que serve como a carta de apresentação dos irmãos Safdie e é, eu diria, a principal pérola escondida desse estúdio. Adicionando à noite imprevisível de Robert Pattinson a textura da relação de irmãos, construída na tensão nervosa entre o charme do astro e a humanidade crua de Buddy Duress. (Por Guilherme Jacobs)

12. MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Onde ver: Disponível no Prime Video e na Max.

O filme de Barry Jenkins é muito maior do que a confusão que marcou a sua vitória em melhor filme no Oscar. Mergulhado em tradições centenárias de ficção negra e ficção queer, Moonlight desabrocha em tela como um conto sensual, pungente e puramente sensorial de amadurecimento e abraço de si mesmo. Uma obra-prima que recompensa revisões. (Por Caio Coletti)

11. FÉ CORROMPIDA

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video e na Apple TV.

Muito já se falou e escreveu sobre a natureza bressoniana deste clássico moderno do diretor Paul Schrader, e em boa medida a solidez e o ressoar do filme vêm dessa constatação: hoje ninguém com menos de 70 anos no cinema americano se presta a filmar dessa forma estoica, sem impregnar cada plano de verdades morais inequívocas. (Por Marcelo Hessel)

10. HEREDITÁRIO

Onde ver: Disponível na Netflix e na Max.

Chega a ser perversamente engraçado. Dá para sentir o sorriso de Ari Aster construindo sua macabra odisseia de ansiedades familiares, decepção maternal e bad vibes. Contando com uma atuação de primeira de Toni Collette, o diretor ensaia uma jornada à loucura onde o parente é tão culpado quanto o demônio, e onde sempre há espaço para mais uma cabeça decepada. (Por Guilherme Jacobs)

9. TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO

Onde ver: Disponível para aluguel e compra no Prime Video e na Apple TV.

“Aproveite Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo agora, antes que o Film Twitter te diga que ele é superestimado”, avisava um review no Letterboxd pouco depois do lançamento do longa nos cinemas. Quase dois anos depois, a magnum opus pop dos Daniels, que conquistou sete Oscars (para o desalento do Film Twitter), continua sendo uma história profundamente sentida e lindamente atuada, cheia de amor pelo cinema e pela humanidade. (Por Caio Coletti)

8. SOB A PELE

Onde ver: Disponível na Max.

O filme que melhor informou a sensibilidade visual do diretor Jonathan Glazer, sem negar sua tendência às artes plásticas, e ao mesmo tempo justificando-a plenamente numa narrativa de assombro e maravilhamento. O terror de slasher mais convincente que poderia ser feito a partir dessa preocupação com ser vanguardista. (Por Marcelo Hessel)

7. EX MACHINA: INSTINTO ARTIFICIAL

Onde ver: Disponível na Netflix.

De arranhar as unhas. Manipulação de dados e intenções que colocam em xeque não só a consciência de uma inteligência artificial pronta para nos substituir, como também dos instintos masculinos que a criou. Alex Garland constrói um labirinto de significados ocultos cuja saída leva a emancipação não é só da robô; é da mulher. (Por Guilherme Jacobs)

6. PROJETO FLÓRIDA

Onde ver: Disponível na Max.

Talvez Sean Baker seja o nome que melhor define o ethos da A24 como força cinéfila – ele é, afinal, um usuário inveterado do Letterboxd. E Projeto Flórida encerra o melhor do seu cinema, seja na busca por histórias marginalizadas, na disposição de achar traduções visuais e narrativas inovadoras para levá-las para a tela, ou na tendência de temperar um realismo cruel com uma pitada de fantasia cômica. (Por Caio Coletti)

5. LADY BIRD: A HORA DE VOAR

Onde ver: Disponível na Netflix.

O filme que lançou Greta Gerwig como diretora mostra, logo de cara, como ela entende as sutilezas, diversões e complexidades da feminilidade, particularmente na juventude. Através de Saoirse Ronan, ela explora a dicotomia entre a nostalgia pela nossa casa e o desejo de abrir asas e deixá-la, algo tão presente nesses anos formativos. (Por Guilherme Jacobs)

4. PRISCILLA

Onde ver: Disponível na MUBI.

De certa forma, parece que Sofia Copopla nasceu para desconstruir o mito de Elvis Presley e colocar o foco em sua esposa, Priscilla. Em pouco menos de duas horas, a diretora extrapola todos os cacoetes que definiram duas décadas de filmografia para traduzir perfeitamente o sufocamento em travesseiros de plumas de pavão que a jovem viveu ao se casar com o rei do rock n’ roll. (Por Caio Coletti)

3. A BRUXA

Onde ver: Disponível no Globoplay.

O filme central para entender – para o bem e para o mal – de onde vem e o que significa o tal horror elevado, cujo pudor de aderir a convenções mais frontais do cinema de gênero se espalha por outros sucessos da A24. De alguma forma, o diretor Robert Eggers consegue fazer com que essa recusa potencialize o que o filme tem de sugestivo e enervante – e o justifique. (Por Marcelo Hessel)

2. AFTERSUN

Onde ver: Disponível na MUBI e na Netflix.

Tão convidativo para revisitar quanto é doloroso de ver novamente. Dói de forma calorosa. Entende o apelo da mídia analógica, das filmagens caseiras até polaroides; fontes de memória e enigmas quando revisitamos os eventos capturados nelas. Nenhum filme define tão bem uma das palavras mais únicas do português: saudade. (Por Guilherme Jacobs)

1. JOIAS BRUTAS

Onde ver: Disponível na Netflix.

A grande narrativa do sonho americano – segundas chances incluídas – encapsulada num globo de neve feito de excentricidades. Ao invés de negar a universalidade desse tema, o filme a confirma pela via do frenesi e do suspense; em outras palavras, é um raríssimo thriller “elevado” da A24 que eleva o gênero sem negar sua natureza catártica. (Por Marcelo Hessel)

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