Encarcerado há mais de 30 anos e internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, no Rio de Janeiro, o assassino em série Marcelo Costa de Andrade, 57 anos, conhecido como Vampiro de Niterói, comunica-se com pessoas fora do hospital e até com ex-funcionários.
Nas horas vagas, ele, que atua na faxina do hospital há mais de 10 anos, limpando o chão da casa penal, escreve cartas. Conforme revelado pela coluna True Crime, do jornalista Ulisses Campbell, que teve acesso a três desses documentos, ele chegou a enviar diversas cartas de amor para a psicóloga Solange Diniz de Carvalho.
Veja como se deu a relação entre os dois
Em 2008, ainda estudante de psicologia, Solange Diniz de Carvalho, à época com 43 anos, descobriu que o Vampiro de Niterói cometeu os crimes perto da casa dela. Interessada em ter contato profissional com o assassino, pediu um estágio no hospital psiquiátrico onde ele estava internado. Logo, ela se formou e continuou atuando na instituição.
Solange e Marcelo se conheceram no local, e um encontro rápido e casual, em que se apresentaram com um aperto de mão, foi o suficiente para que o criminoso se apaixonasse pela psicóloga. A partir de então, ele passou a escrever cartas para a mulher, de próprio punho. Com grafia difícil, Solange precisou ditar o conteúdo das cartas para que fossem reproduzidas.
Na primeira, entregue em mãos de forma camuflada, o Vampiro de Niterói fala da solidão e de como busca redenção por meio da religiosidade.
Carta 1
“Minha querida amiga Solange. Eu sou Marcelo Costa de Andrade e tenho 41 anos. Queria pedir para você escutar a programação evangélica do Pastor David Miranda, da Igreja Pentecostal Deus é Amor na rádio AM, bem perto da CBN. A programação é muito abençoada e inspiradora, e a Bíblia Sagrada é fundamental para todos nós que buscamos orientação espiritual.
Solange, gostaria muito que você escrevesse uma carta para mim. Ficarei muito contente em receber sua correspondência. Por favor, me mande o seu endereço completo com o CEP, para que eu possa responder e mantermos contato. Fiquei muito feliz em conhecer você e receber seus bons conselhos. Acredito que sua participação nas reuniões da igreja será muito boa para sua vida espiritual”, diz um trecho da carta.
Crimes após culto
Conforme consta nos autos do processo de execução penal do Vampiro de Niterói, foi a partir do culto de um pastor evangélico que começou o desejo de matar. Segundo o depoimento dele, o líder religioso teria dito que, quando a criança morre, ela vai diretamente para o céu, pois sua alma ainda é pura. A partir dos 14 anos, porém, a pessoa poderia ir para o inferno, pois já estaria comprometida com pecados mundanos. Em sua lógica distorcida, Marcelo entendeu que deveria matar os meninos da rua o mais rápido possível para que eles escapassem das garras do diabo.
O assassino confessou a morte de 13 crianças, todas com idades entre 6 e 13 anos. Os crimes ocorreram entre abril e dezembro de 1991, em Niterói, cidade vizinha ao Rio. Já preso, ele relatou, sem qualquer remorso, os detalhes dos infanticídios, como beber o sangue das vítimas. Foi dessa prática que nasceu o apelido de Vampiro de Niterói.
Exames feitos por psiquiatras atestaram que o Vampiro de Niterói tem transtorno antissocial análogo à psicopatia, além de um distúrbio mental que faz com que ele não tenha plena noção da gravidade dos atos cometidos. Com isso, ele foi considerado inimputável e acabou escapando do Tribunal do Júri.
Ao jornalista Solange contou sua preocupação e ao mesmo tempo fascínio quando recebeu a carta do assassino, pois queria estudar o Vampiro para entender melhor como a mente dele funcionava. No entanto, por questões éticas, ela não respondeu à primeira correspondência. Também não comunicou aos superiores sobre aquele contato.
Dias depois, Marcelo estava no pátio tomando sol cercado por grades, já que era considerado um preso de alta periculosidade. Mas, aproveitando-se de uma distração do policial penal, ele passou por um portão e foi ao encontro da psicóloga. O homem questionou por que sua carta não havia sido respondida e, apreensiva, ela respondeu que não poderia se corresponder com ele.
Passada uma semana, contudo, o preso enviou uma segunda carta a então universitária. Nesta correspondência, ele expressa sentimentos de afeto, desejo sexual e fantasias de proximidade física com Solange.
De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, “em respeito ao Art 41, do inciso XV, da Lei de Execuções Penais, permite a comunicação do detento com o meio exterior por meio de cartas”. Conforme a pasta, não é permitido “o envio de correspondências com conteúdos inadequados, tais como ofensas, ameaças, assédios ou qualquer outro tipo de comunicação criminosa”.