“Sobrevivente” de tragédia da TAM em 2007 ainda se emociona: “Intenso”

Nesta quarta (17/7), a maior tragédia aérea do país, o voo 3054 da TAM, completa 17 anos. Ao todo, 199 pessoas morreram

Em 17 de julho de 2007, há exatos 17 anos, o Brasil testemunhou o maior acidente aéreo de sua história. O voo 3054 da TAM, que seguia de Porto Alegre a São Paulo, não conseguiu parar na pista do Aeroporto de Congonhas, atravessou a Avenida Washington Luís e colidiu com um prédio da própria companhia aérea.

Reprodução/Arquivo pessoal

O desastre resultou em 199 mortes, entre passageiros, tripulantes e pessoas em solo. Entre os óbitos, era pra estar Renato Duarte. Ele tinha uma viagem de trabalho marcada para São Paulo, no fatídico dia do acidente, mas uma série de imprevistos fez com que ele não conseguisse embarcar no voo 3054 da TAM.

“Muito difícil falar sobre o acontecido, me emociono muito. A vida é muito intensa e, em um piscar de olhos, tudo pode mudar, graças a Deus dessa vez minha vida foi guardada, mas o sentimento de que poderia ter sido eu e a dor da minha família nunca passa. Vou sentir muito o acontecido para sempre, sinto muito por todas as famílias. Sou um sobrevivente”, detalha Renato, emocionado, sobre o seu milagre.

A história foi contada à reportagem pela filha dele, Eduarda Duarte. “Desde que meu pai se livrou do maior acidente aéreo do Brasil por conta de 5 minutos, eu nunca mais duvidei do destino. O voo 3054, da TAM, fez 199 vítimas, e uma delas era para ser meu pai”, relata.

Reprodução/Arquivo pessoal

Reprodução/Arquivo pessoal

Reprodução/Arquivo pessoal

Ida ao hospital mudou toda a trajetória

Durante uma partida de futebol com amigos, no domingo, Renato fraturou o dedo. Sua viagem a São Paulo estava marcada para terça-feira, e, como um homem que sempre honrou com suas obrigações, ele sabia que um machucado não o impediria de cumprir suas obrigações trabalhistas.

O homem só não esperava que a dor da fratura iria escalonar a ponto de precisar buscar uma unidade de saúde para tratar o ferimento. Sendo assim, na terça-feira, Renato decidiu ir ao hospital, mas o atendimento demorou mais que o esperado. Essa consulta resultou no atraso que o impediu de embarcar no voo 3054.

Apesar da situação, ele não desistiu da viagem. Renato foi às pressas para o aeroporto, na esperança de ainda conseguir embarcar. Chegando lá, já era tarde demais. Frustrado, voltou para casa, onde pegou no sono.

“Não existia motivo de saúde que ia fazer meu pai dar desculpa e não ir trabalhar. Então, ele correu para o aeroporto e tentou embarcar de qualquer jeito. Ele brigou com as pessoas do aeroporto porque queria entrar naquele voo, mas não deixaram porque o embarque estava encerrado. Ele voltou para casa, muito preocupado, muito nervoso e estressado. Então, decidiu dormir”, conta Eduarda.

Susto

Enquanto isso, em casa, a mãe de Eduarda passava roupa quando, por volta das 19h, o telefone fixo começou a tocar incessantemente. O chefe de Renato estava ligando, preocupado por não conseguir contato com o funcionário e por ele não ter chegado a São Paulo.

Esperando que o chefe fosse dar uma bronca em Renato por não ter viajado, o pânico tomou conta da casa. Quando a esposa finalmente o atendeu, o patrão perguntou, desesperadamente, onde Renato estava.

“Ele [o chefe] perguntou onde o meu pai estava e minha mãe disse que estava dormindo. O chefe ficou em completo choque, ele jurava que meu pai estava no voo, até porque meu pai não avisou que não tinha conseguido embarcar”, relembra Eduarda.

Assustado e desacreditado, o patrão foi até a casa de Renato para garantir que o funcionário estava, de fato, bem.

“Eu acordei meu pai e o chefe dele pediu para ligarmos a TV. Quando ligamos, a gente viu todos os escombros do avião e do prédio em chamas. E foi um choque muito grande pra todos nós, porque por muito pouco meu pai não estava nesse voo. Naquela hora a gente só sabia agradecer, agradecer a Deus, agradecer ao universo, agradecer a tudo.

Trauma virou paixão

O impacto desse evento foi tão profundo que, por anos, Eduarda evitou pousar em Congonhas. Anos depois, por ironia do destino, ela se formou como comissária de voo.

“O pouso em si foi uma decisão um pouco inerente à minha vontade. Tive uma viagem a trabalho, pois os cursos da companhia aérea eram realizados em São Paulo e a passagem foi comprada para Congonhas, então, aceitei e fui, mas foi muito bom ver que tive a coragem de enfrentar esse medo”, conta.

“⁠Percebi que o medo é algo muito irracional e tentei me equilibrar com meus pensamentos racionais a todo o tempo, era um frio na barriga e um pensamento de ‘ok, o freio dessa aeronave é desenvolvido especialmente para pistas como essa, o peso da aeronave não está nem perto do peso limite’ e por aí vai. Após o pouso, tive uma sensação de alívio, mesmo que racionalmente soubesse que nada aconteceria e me senti superando um trauma”, relembra.

Eduarda trabalhou com pessoas que tinham participado do atendimento ao voo 3054 e estudou profundamente o acidente.

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