Religiosa, a acreana Marina Silva, atual deputada federal por São Paulo e ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, tem fortes razões para passar o dia em orações: é que nesta terça-feira, 13 de agosto, completam-se dez anos da queda do avião em Santos, interior paulista, no qual morreu, entre outras pessoas, o então candidato à presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos. Marina Silva, candidata à vice de Campos, deveria estar também na aeronave.
No entanto, no dia da tragédia, voltava para casa, em Santos, onde passou a morar desde que deixou o Acre, em outro voo. O avião de Campos caiu em Santos, numa ocorrência muito parecida com o avião da tragédia em Vinhedo, também no interior de São Paulo. A lembrança dos dez anos do acidente que vitimou o candidato, que aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de opinião pública sobre as eleições presidenciais daquele ano, atrás de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), ocorre em meio, ainda, ao luto pelas vítimas do avião que caiu em Vinhedo, matando 58 passageiros e quatro tripulantes.
Enquanto o Brasil acompanha o drama das famílias das 62 vítimas do acidente aéreo em Vinhedo, a tragédia aeronáutica que tirou a vida do político Eduardo Campos entrou para a história como outra grande tragédia nacional. Então candidato à Presidência da República, Eduardo Campos viajava pelo Brasil durante a campanha, quando houve o acidente. Ele era considerado um político ainda jovem – tinha 50 anos – e com importante capital político, principalmente no Nordeste.
A tragédia ocorreu quando o Cessna, matrícula PR-AFA, perdeu o controle em voo e se chocou com o solo no Bairro Boqueirão, em Santos, às 10h03 daquela quarta-feira. A partida tinha sido do Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, às 9h21. Além do político, morreram quatro passageiros e dois tripulantes. Em solo, três pessoas ficaram feridas sem gravidade.
O relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre as causas do acidente foi detalhado em 259 páginas. Nelas, foram apurados dezenas de itens sobre o ocorrido.
Foram verificadas informações como formação e experiência da tripulação, gravadores de voo, protocolos de navegação, condições meteorológicas, entre outras. Embora sejam situações distintas, para se ter ideia, o relatório final do acidente com o avião da Gol, em 2008, que matou 154 pessoas, tem 261 páginas.
O zelo com a riqueza de detalhes na investigação foi construído em um contexto de circulação de muitas teorias conspiratórias, dado que o acidente envolvia um político de relevância no Brasil e em plena disputa eleitoral.
A conclusão do relatório tem 35 fatos relevantes sobre o acidente. A seção “fatores contribuintes” para a tragédia possui 13 itens. Destes, nove foram qualificados como “indeterminados”, ou seja, não foi possível afirmar com clareza que favoreceram o acidente. Outros quatro elementos aparecem como “contribuíram”.
A aproximação para o aeroporto, conforme o relatório, foi realizada de forma diferente da prevista, o que significava falta de aderência aos procedimentos e que “culminaram com uma aproximação perdida”. Isto teria ocorrido pelo nível de confiança do piloto na própria capacidade operacional, “haja vista suas experiências anteriores”.
O relatório também cita que o piloto foi submetido à desorientação espacial, ocasionada por vários fatores. O fator “indisciplina de voo” foi apontado como uma das causas da tragédia por ter feito desvios sem causa identificada.
Assim como no voo que caiu em Vinhedo, havia a atuação de uma frente fria. Quando o avião do candidato decolou, o tempo era bom no Rio de Janeiro. Em Santos, havia névoa, mas sem maiores problemas. Quando houve a tentativa de aterrissagem, o tempo já havia mudado e diminuído a visibilidade, embora não houvesse restrição para a aproximação e pouso.
Com a morte de Eduardo Campos, a então vice dele na chapa, Marina Silva, assumiu o posto de candidata à Presidência. Ela chegou a aparecer empatada com Dilma Rousseff na liderança de pesquisas. Marina foi fortemente bombardeada pelos adversários Aécio Neves e Dilma Rousseff, e acabou o primeiro turno em terceiro lugar. Dilma venceu Aécio no segundo turno.
O avião que caiu em Vinhedo (SP) havia decolado de Cascavel (PR), às 11h58, e tinha como destino o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Ele perdeu sustentação e caiu no quintal de um condomínio residencial. Todos os ocupantes da aeronave morreram.
Uma das hipóteses é que tenha havido formação de gelo nas asas, o que teria feito a aeronave perder o equilíbrio e entrar “em parafuso-chato”, colidindo com o solo na sequência. As causas são investigadas pelo Cenipa, e o Instituto Médico Legal (IML) trabalha na liberação dos corpos para os familiares.
Marina Silva, ao recordar os dez anos da morte de Campos, sente “profunda tristeza” com a morte de Campos. Marina Silva afirmou que, durante os dez meses de convivência com Campos durante a campanha, aprendeu a admirá-lo. “Durante esses dez meses de convivência aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e nos seus ideais de vida. Dez meses de intensa convivência. […] Eduardo estava empenhado com esses ideais até os últimos segundos de sua vida”, lembrou.
Marina Silva disse ainda que guarda a imagem de Eduardo Campos “cheio de alegria, sonhos e compromisso”. “A imagem que quero guardar dele é da nossa despedida. Cheio de alegria, sonhos e compromisso. É com esse respeito que peço que Deus possa consolar a sua família”, afirmou.