O aluno de 16 anos que fez refém uma professora na Escola Classe 16 de Planaltina (DF) nesta quarta-feira (21/8) estaria sendo pressionado por traficantes da região devido a uma dívida de drogas que tinha com os criminosos. A declaração teria sido dada pelo próprio garoto a policiais militares que atuaram na ocorrência.
De acordo com o segundo-tenente Saulo Theles, o jovem contou que estava sob efeito de cocaína no momento em que invadiu a escola, por volta de 13h, e, usando pelo menos uma faca, fez refém a professora. “Ele disse que é usuário de droga e que hoje fez uso de cocaína. Falou que estava devendo cerca de R$ 200 para traficantes da área e que esses criminosos estavam seguindo ele. Por isso, então, ele teria feito tudo isso.”
O adolescente contou, ainda, que veio do estado do Piauí há dois anos para morar com o tio, em Planaltina. “Ele tinha falas desconexas, estava ainda sob efeito de entorpecentes”, descreve o policial.
Professora agiu rapidamente
O policial detalha a operação que salvou a professora e deteve o menor de idade. “Um sargento do Corpo de Bombeiros começou a negociação [de soltura da refém] com ele. Em determinado momento, a gente pediu que ele bebesse água e que ele desse água para a professora, momento esse em que ele se distraiu, e a professora, então, num ato de coragem, deu um tapa na faca, derrubando a arma ao solo”, explica o agente.
“Quando a faca caiu no chão, os policiais e os bombeiros entraram na sala e conseguiram render o indivíduo e resgatar a vítima.”
Clima de choque
Horas após o ocorrido, o clima no colégio ainda era de choque. Ao Metrópoles a direção da instituição de ensino informou que o adolescente, estudante do período noturno, não dava sinais de que poderia cometer algum tipo de crime.
Diretor da escola classe, Wellington Mesquita, 56, contou que o estudante nunca havia demonstrou mau comportamento e, por isso, estava acima de qualquer suspeita. “Ele aparentava ser tranquilo. Cheguei a fazer contato com um professor dele, e [o educador] disse que [o aluno] era um rapaz sossegado. Ainda estamos todos surpresos e abalados”, comentou o gestor.
Apesar de matriculado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o jovem compareceu pouco às aulas, segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF). A pasta verificou que ele estava matriculado no colégio desde o início do ano, mas assistiu a apenas uma aula no turno matutino. No segundo semestre, ele foi transferido para o período noturno, porém, só compareceu duas vezes.
Susto e medo
Funcionários confirmaram à reportagem que levaram um grande susto ao saber da notícia. “A polícia esvaziou as salas, e ficou todo mundo na quadra da escola, sem saber muito bem o que acontecia”, disse uma testemunha, que pediu para não ter o nome divulgado. “A notícia logo se espalhou entre pais e responsáveis [dos estudantes]. De repente, a porta do colégio estava cheia de gente querendo saber como estavam as crianças.”
A vendedora Marileia Costa, 44, se agilizou para buscar as filhas assim que a direção da escola entrou em contato. No entanto, ela não recebeu detalhes sobre o que se passava no colégio. “Alguns colegas disseram que ele estava em busca de dinheiro para acertar dívidas envolvendo drogas, mas não temos certeza”, comentou. Mãe de duas meninas, de 11 e 6 anos respectivamente, ela precisou correr, literalmente, para buscar as crianças. “Fiquei até mancando, mas agora estamos em paz.”
Mãe de um garoto de 10 anos, a administradora Jeane dos Santos, 44, cobra mais segurança nos arredores da EC 16. “Se não forem tomadas providências, isso vai acontecer muito mais. As crianças costumam vir [à escola] e voltar sozinhas. Hoje, poderia ter acontecido uma tragédia”, lembrou.