Boxeadora Imane Khelif, alvo de preconceito de gênero, conquista ouro em Paris

A boxeadora argelina conquistou a medalha de ouro na categoria até 66kg, nesta sexta-feira (9)

A boxeadora argelina Imane Khelif conquistou a medalha de ouro na categoria até 66kg, nesta sexta-feira (9/8), nos Jogos Olímpicos de Paris. Khefif derrotou a chinesa Liu Yang.

No início das Olimpíadas, Imane sofreu preconceito de gênero por parte de espectadores, que questionaram se ela seria mesmo “uma mulher”. A boxeadora foi alvo de diversas mensagens transfóbicas, mesmo sendo uma mulher cis — que não é transsexual.

A argelina Imane Khelif, medalhista de ouro, posa no pódio durante a cerimônia de medalhas da categoria final feminina de boxe até 66kg durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024/Foto: MOHD RASFAN / AFP

A polêmica começou após a luta de Imane contra a italiana Angela Carini, que desistiu depois de 46 segundos de luta. Khelif é da Argélia, um país muçulmano onde comunidade LGBTIQ+ é amplamente reprimida. A mudança de identidade não é permitida e a homossexualidade é punida socialmente. As autoridades têm até o poder de aplicar castigos corporais.

Mesmo assim, na internet, a extrema direita começou a chamar Khefif de “um homem lutando com mulheres”.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que o Comitê Olímpico Internacional (COI) estava “humilhando as mulheres”. “Qual ser humano não se sensibiliza com a dor da lutadora italiana, indignada e impotente por ser obrigada a lutar com alguém que não é de sua categoria? Qual a dificuldade de fazer uma olimpíadas trans?”, escreveu em suas redes sociais.

O deputado federal Nikolas Ferreira também compartilhou mensagens transfóbicas sobre a atleta. No X (antigo Twitter), ele compartilhou uma publicação que dizia que Imane e outra boxeadora de Taiwan não teriam passado nos testes de DNA por “terem cromossomos XY”. O COI desmentiu essa informação.

Desclassificação de campeonato de mundial

Khelif precisou falar que era uma mulher e pedir pelo fim dos ataques. “Quero dizer ao mundo inteiro que sou mulher e continuarei mulher. Eu dedico esta medalha ao mundo e a todos os árabes. E digo a vocês, vida longa à Argélia”, disse.

Porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, disse que a polêmica ocorreu por conta de “rumores” já conhecidos. “Isso deveria ficar absolutamente claro para todos. Esta não é uma questão de transgêneros. Eu sei que você sabe disso, mas acho que houve alguns relatos errôneos sobre isso. E acho que é muito, muito importante dizer que isso não é uma questão sobre transgêneros”, enfatizou Adams.

A polêmica em torno do gênero de Khelif começou após ela ser desclassificada do Campeonato Mundial Feminino, na Índia, em 2023. A Associação Internacional de Boxe (IBA), que não é reconhecida pelo COI desde 2019, a retirou da competição após realizar testes que determinaram que “não atendiam aos critérios de elegibilidade”.

No entanto, a IBA não divulgou publicamente quais foram os resultados dos testes.

Khelif já havia participado das Olimpíadas de Tóquio, onde foi eliminada na primeira fase. Após a polêmica, o COI emitiu um comunicado onde informou que “todos os atletas participantes do torneio de boxe nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem as regras de elegibilidade e inscrição da competição, assim como todas as regras médicas aplicáveis”.

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