Documentário vai contar a história de vida da líder comunitária Maria José Pires do Acre

Documentário vai se chamar “Entre Tantas Marias” e contará também um pouco da história do movimento que criou muitos dos bairros da periferia de Rio Branco

A história de vida e de lutas da professora aposentada Maria José Pires, de 77 anos e há mais de 40 envolvida no movimento comunitário e na história da habitação popular na cidade de Rio Branco (AC) será contada em um vídeo documentário que será concluído ao final de agosto e que tem previsão de conclusão para ainda este ano.

Maria José Pires, de 77 anos e há mais de 40 envolvida no movimento comunitário/Foto: ContilNet

“Entre Tantas Marias”, o nome do documentário, será dirigido pelo cineasta Adalberto Queiroz, também presidente da Academia Acreana de Letras (AAL), com a assistência de direção de Maria da Luz Moraes, filha da protagonista, e com a assistência de produção artística de Alberam Moraes. O documentário será financiado com recursos de edital financiado pela Fundação “Elias Mansour”.

Maria José Pires foi contemporânea de João Eduardo do Nascimento, o líder comunitário que hoje empresta seu nome a um dos maiores bairros da cidade de Rio Branco e que foi assassinado, em fevereiro de 1978, no movimento de luta pela terra.

Era um período em que a cidade de Rio Branco conhecia uma nova formação, a habitação popular dos campos de pastagens de gado no entorno da zona urbana, transformados com invasões de terras muitas vezes sob intensa perseguição policial e, não raro, enfrentamento físico entre homens em busca de terras e policiais armados.

Trajetória vai virar documentário/Foto: ContilNet

Os desesperados que buscavam ao redor da cidade um pequeno lote para construir seus barracos e viver com suas famílias eram ex-seringueiros em sua grande maioria expulsos de suas colocações nos seringais, que agora passavam a ter novos donos.

Os novos donos dos seringais e do próprio Acre eram conhecidos como “paulistas”, alusão à pele branca dos latifundiários do Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e outros estados, gente cujos traços físicos contrastavam com a morenice cabocla dos acreanos. Os conflitos no campo se estendiam para as cidades principalmente para a Capital Rio branco, cidade que passou a receber milhares de ex-seringueiros que não tinham para onde ir e buscavam refúgios nos campos que depois se tornariam bairros periféricos.

João Eduardo e outros líderes comunitários como Maria Jose Pires passaram então, com ajuda da Igreja Católica, a criar um movimento que antecederia a ação do sindicalista Chico Mendes na floresta para resistir ao avanço do latifúndio sobre o que restava dos seringais e florestas.

Líder comunitária marcou a história do Acre/Foto: ContilNet

Buscam organizar o caos que se formava no entorno urbano da cidade e, em meio a esse movimento, João Eduardo acabou atraindo o ódio de especuladores de terras, gente que também estava no movimento de ocupação, e um deles, conhecido por “Ventinha”, acabou matando-o a tiros. Mas isso é outra história, O documentário vai mesmo focar é na participação de Maria José Pires em meio a tudo isso.

De acordo com o diretor, o documentário será feito com base em imagens fotográficas daqueles tempos e a partir de depoimento de testemunhas de jornalistas como Tião Maia, atual redator do site ContilNet, do repórter-cinematográfico aposentado Oscar Xavier, do padre Leôncio Asfury e outras pessoas que acompanharam o movimento bem de perto. Em meio à história do movimento, surge Maria José com sua história de vida cujas tragédias jamais a abateram.

Maria José Pires nasceu em 1947, no município de Itapipoca, interior do Ceará. Filha de Francisco Lourenço Pires e Maria Glória Pinheiro Pires, que mudaram para a Amazônia quando ela ainda era criança. Aos Aos seis anos de idade, junto com sua família chegam ao Acre e moram no Seringal Liberdade, em Feijó.

“Entre tantas Marias” promete emocionar o público/Foto: ContilNet

Aos 15 anos casou-se com Salvio Rodrigues de Souza. Nessa união nasceram 4 filhos. Anos depois foram morar em Manaus em busca de tratamento para o marido, que veio a falecer. Nesse período seus filhos Bernardo e Emanuel também faleceram.

Aos 21 anos, viúva e com as filhas Maria da Luz e Rosa Maria, vem para Rio Branco, morando no Ramal das Três Vertentes, onde viviam com seus pais. Aí começa a sua trajetória como professora e seu envolvimento com as CEBS (Comunidades Eclesiais de Base), movimento da Igreja Católica que ajudava aos ex-seringueiros no movimento de ocupação dos campos que se tornariam os bairros da periferia de Rio Branco.

“É uma história que é também a de tantas outras Marias. Daí o nome do documentário”, disse Adalberto Queiroz.

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