O diretor de uma construtora de hotéis que aparece em imagens esganando e chutando a mulher, uma médica de 47 anos, em frente à filha de 3 anos do casal, vigiava a rotina da então companheira com câmeras e mantinha uma série de ameaças, segundo investigação policial.
Após 17 anos de casamento, marcado por agressões físicas e verbais, inclusive quando a vítima estava grávida, segundo ela afirmou à polícia, a Justiça expediu uma medida protetiva, em 1º de julho, para que Erwin Goering Júnior, de 53 anos, não se aproxime da vítima.
A médica afirma, segundo seu advogado, Reinalds Klemps, que era monitorada dia e noite pelo marido, por meio de câmeras de segurança. Ela precisava pedir permissão para se deslocar, inclusive quando saía de seu consultório médico, não importa para onde pretendia ir.
Erwin, de 52 anos, é diretor comercial de uma construtora de hotéis e loteamentos residenciais, onde atua há dez anos. Uma das câmeras de monitoramento usadas pelo homem (assista abaixo), registrou um flagrante de violência doméstica, ocorrido em 24 de junho, na cozinha do apartamento onde ambos moravam, no Campo Belo, zona sul de São Paulo. As imagens mostram uma discussão, a princípio verbal, entre Erwin e a vítima.
No registro, o homem chega a afirmar, mostrando o braço, que havia sido agredido pela mulher, com quem ficou casado por 17 anos. Exaltado, em um dos momentos da discussão ele insinua que a vítima teria o traído e nega ter sido infiel com ela. A briga é testemunhada pela filha de 3 anos.
“Pega suas coisas e vai embora, para de tomar o meu dinheiro, não fica aqui por interesse. Metade disso é seu. Pega essa sua metade e enfia no meio do c***. Sai da minha vida, desgraçada”.
A mulher também se exalta, diante da violência verbal, até que chama Erwin de “filhinho”, o que deixa o diretor irado. Ele se aproxima da vítima, com o dedo em riste.
“Fala direito comigo, senão você vai tomar porrada no meio da sua cara”.
Quando a mulher levanta a voz, ele a agarra pelo pescoço, com as duas mãos, ao ponto de erguê-la. Enquanto fala “não grita comigo”, ele a joga no chão, onde acerta ainda um chute na esposa.
A vítima se levanta e Erwin a desafia a gritar de novo. Quando a mulher inicia uma fala, para chamá-lo novamente de filhinho, ela é bruscamente interrompida, com mais um enforcamento, seguido de um novo chute. Ela permanece no chão. A discussão segue por alguns minutos, até que o vídeo termina.
Vídeo
Caso de polícia
A médica registrou um boletim de ocorrência cinco dias depois, por meio da Delegacia da Mulher Online. Em seu relato, obtido pelo Metrópoles, ela afirma que o diretor a expulsou do apartamento, junto com a mãe dela, que também morava no local.
Por medo de ser rejeitada pelos filhos adolescentes, de 14 e 17 anos, segue a vítima, ela não havia pedido uma medida protetiva contra Erwin em janeiro, quando registrou outro boletim de ocorrência. No documento, afirma ter sido agredida pelo marido.
Diante do segundo caso de violência física, ela decidiu solicitar a medida judicial, para que o diretor não se aproximasse mais dela.
“Desejo a medida protetiva para mim e minha mãe, pois ela também foi ameaçada e quero voltar para casa para cuidar dos meus filhos. Principalmente da minha filha de 3 anos. Reforço que estou há alguns anos sofrendo todo tipo de violência verbal, patrimonial, alienação parental e, dessa vez, fui agredida fisicamente, chutada e enforcada”, diz trecho do relato.
O pedido da vítima foi aceito pela Justiça, que determinou no dia 1º de julho que o diretor mantenha distância da agora ex-mulher, de no mínimo 300 metros. Ele também precisou sair do apartamento onde ocorreram as agressões.
Em sua decisão, a juíza Ana Paula Gomes Galvão Vieira de Moraes destacou que as provas incluídas pela vítima no processo “demonstram as agressões físicas e lesões provocadas”, acrescentando que “os fatos narrados são graves”.
O que diz a defesa
Em nota, os advogados Rinaldo Pagnatari Lagonegro Júnior e Douglas Lima Goulart afirmaram que Erwin ainda irá prestar esclarecimentos à Polícia Civil “necessários à elucidação dos fatos e comprovação de sua inocência”.
Os defensores destacaram o fato de as investigações estarem em fase inicial (inquérito policial). Acrescentaram que o diretor figura como “vítima de agressões” da médica em outro “procedimento criminal”.
Representando a médica, o advogado Reinalds Klemps afirmou ao Metrópoles, nessa quarta-feira (14/8), que aguarda o diretor “ser processado pela lesão corporal” para tomar novas medidas judiciais contra ele.
“O episódio é triste”, afirmou, lembrando que agosto é o mês de conscientização pelo fim da violência contra as mulheres. “A medida protetiva foi deferida e aguardamos ansiosamente a punição do infrator nos termos da lei.”