Fields of Mistria agrada com gameplay amigável em early access; testamos

De início, Fields of Mistria já chama atenção pela sua qualidade de escrita e construção de mundo. O jogo se passa no reino de fantasia de Aldaria e Mistria, uma cidade interiorana, acabou sendo acometida por um forte terremoto. A situação causou não apenas destruição, mas também liberou um misterioso fluxo de magia sob o solo e que parece ter relação com o passado da região.

É sob esse contexto que o jogador é contratado por Adeline e Eiland, que são responsáveis pela gestão da cidade. Eles oferecem uma humilde fazenda e moradia gratuita em troca de ajuda em um plano de revitalização. Esse é o pontapé para que o jogador conheça uma comunidade apaixonante e inicie sua rotina, com tudo o que torna os jogos de fazendinha divertidos e aconchegantes.

De início, o jogador pode conhecer cerca de trinta habitantes, sendo que doze deles são pretendentes amorosos. O jogo também não impõe qualquer restrição de gênero e, na personalização de personagem, é possível definir os pronomes desejados para tornar a jogatina mais inclusiva. A ideia é angariar recursos com uma fazenda produtiva, coletar materiais para aumentar o ranque de Mistria e trazer a cidade à sua antiga glória.

Como é tradição em jogos desse estilo, é possível conversar e presentear os NPCs para aumentar o nível de amizade e conhecer mais sobre eles. No entanto, Fields of Mistria chama a atenção por dar várias oportunidades para bater papo ao longo de um dia, com mais de cinco mil linhas de diálogo já implementadas. Há até mesmo conversas em grupos em que os habitantes interagem entre si, tornando o mundo ainda mais crível e carismático.

Isso é interessante porque as recompensas de nível de relacionamento vão além das intenções amorosas. O jogador é recompensado por aprofundar a amizade com todos os NPCs, seja com a exibição de cutscenes divertidas ou outros tipos de brindes que podem ser úteis na fazendinha a médio ou longo prazo. Por consequência, isso instiga a curiosidade e motiva o jogador a interagir o máximo possível com os personagens.

Embora ainda esteja em Acesso Antecipado, Fields of Mistria já apresenta uma das experiências de gameplay mais polidas e diretas ao ponto dentre os jogos de fazendinha. O título traz várias mecânicas pequenas que, juntas, melhoram consideravelmente a experiência de usuário. Entre elas, vale mencionar a possibilidade de checar a localização de todos os moradores em tempo real no mapa e também de conferir o preço de venda de cada item coletado, já na tela de inventário.

Uma das mais divertidas, por sinal, é o sistema de essência. Atividades cotidianas, como colheita e mineração, garantem pontos que podem ser trocados por benefícios para o personagem em uma espécie de lojinha. Tudo isso está conectado com o misticismo da narrativa e garante melhorias passivas, como a possibilidade de gerar sementes ao regar plantações, diminuir o tempo necessário para forjar itens, recuperar stamina ao realizar tarefas braçais e muito mais.

Por coisas assim, Fields of Mistria não é um jogo punitivo — justamente por dispensar burocracias. Por exemplo, as lojas não têm um horário de funcionamento e estão sempre abertas. Além disso, é possível fabricar ferramentas e outros utensílios sem a necessidade de carregar os materiais necessários no inventário — eles podem estar guardados no seu baú, em casa, como se fosse um inventário global.

Todas essas burocracias me distanciaram um pouco dos jogos de fazendinha, pois acabavam me deixando ansioso. Era incômodo ter de memorizar as rotinas dos NPCs ou abrir um guia de terceiros para entender minimamente o que fazer no jogo. Felizmente, Fields of Mistria traz sistemas intuitivos e conveniências que antes eram possíveis apenas com modificações da comunidade em títulos mais famosos.

Encontrou um artefato, mas não sabe se ele já foi entregue ao museu da cidade para ganhar recompensas? O jogo já mostra isso com um ícone na descrição do item. Não sabe se as sementes que estão na loja valem o investimento? A interface também já traz o preço de venda por unidade da colheita. Esqueceu quais são os itens favoritos de um habitante? O menu também traz um resumo com tudo aquilo que já foi entregue pelo jogador.

Como se tudo isso já não fosse convidativo o bastante, o game ainda traz feitiços desbloqueáveis que facilitam a vida na fazenda. No momento, há três deles disponíveis e estão diretamente ligados à progressão da história. O melhor deles é um feitiço que amadurece as plantações imediatamente, acelerando a colheita em uma área de efeito.

Os visuais de Fields of Mistria são bastante simples à primeira vista, mas seus gráficos em pixel art acertam em cheio na fofura e têm uma paleta de cores muito agradável. Eles ganham ainda mais personalidade com os retratos dos personagens, que são animados e cheios de expressividade. Eles até têm roupinhas exclusivas para cada estação do ano — e os designs são impecáveis.

A estética retrô também se faz presente na trilha sonora, que remete a RPGs clássicos de Super Nintendo. A composição é muito agradável e remete ao misticismo que se esconde sob o solo de Mistria. Também chama a atenção como os personagens têm os seus próprios temas musicais, que são quase como uma recompensa ao subir o nível de relacionamento com eles.

Também vale destacar como o jogo não apresentou problemas em mais de trinta horas de gameplay. É notável como o time de desenvolvimento passou um pente fino, mesmo se tratando de um produto ainda inacabado. Naturalmente, há margem para algumas melhorias de interface, mas o estado inicial já é muito satisfatório.

Aliás, este é outro ponto importante: o Acesso Antecipado pode não ser para todos os perfis de jogadores. No estado atual, ainda não é possível ter romance com os personagens ou se casar. As minas, que estão recheadas de inimigos, também pecam na variedade e há apenas um festival disponível no momento. A ideia é que o jogo receba mais conteúdo até o fim do ano, então é natural que uma parcela do público prefira esperar o lançamento completo.