O economista Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura durante a ditadura militar do país, entre 1964 e 1985, morreu, na madrugada desta segunda-feira (12), aos 96 anos, em São Paulo. Ele vinha internado desde a semana passada no Hospital Albert Einstein, na capital paulista. As causas da morte não foram divulgadas.
Além de figura central durante a ditadura militar, como ministro de três pastas diferentes em três governos seguidos, também foi embaixador do Brasil na França de 1975 até 1977. Com o fim da ditadura, passou a ser deputado federal, com vários mandatos seguidos, pelo ex-PDS (atual PP) de São Paulo.
Nascido em São Paulo no dia 1º de maio de 1928, graduou-se em economia pela USP, em 1951, e logo se tornou professor da instituição. Não demorou muito para que seus trabalhos na área se tornassem conhecidos e ele entrasse na vida pública.
“Seus trabalhos didáticos e de pesquisa são, neste momento, voltados para os estudos de problemas da economia brasileira, planejamento governamental e teoria do desenvolvimento econômico. Sua linha de pensamento baseou-se essencialmente na aplicação da teoria neoclássica no plano microeconômico e ideias keynesianas ou monetaristas no plano macroeconômico”, diz o site da USP que resume sua biografia.
Em 1966, assumiu como secretário da Fazenda de São Paulo e, no ano seguinte, como ministro da Fazenda. Então, tornou-se a âncora da economia brasileira entre 1967 e 1974, nos governos Costa e Silva e Medici, no período chamado de “Milagre Econômico”, que fez o país crescer a uma taxa anual de 11%.
Na verdade, um milagre que teve consequências nefastas para o país. As equipes econômicas das quais fez parte promoveram políticas de crédito favoráveis ao agronegócio e à indústria, além da construção de obras, como a Rodovia Transamazônica.
O resultado foi o início da escalada do endividamento externo brasileiro, que depois atingiria níveis não vistos até então. Delfim também votou a favor do Ato Institucional número 5 (AI-5), que recrudesceu a ditadura no Brasil. Em seu voto pelo AI-5, Netto afirmou que deveria ser concedida ao presidente “a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais, absolutamente necessárias para que este país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez”.
Quase 45 anos depois, em 2013, durante uma sessão da Comissão da Verdade, o economista afirmou que repetiria o voto pelo AI-5 “se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco”. “Eu não só assinei o Ato Institucional número 5 como assinei a Constituição de 1988, (mas) nunca apoiei a repressão.”
Em 2006, após cinco mandatos por São Paulo, ficou fora da Câmara. Em 2018, seu nome voltou às manchetes, quando foi investigado pela Lava Jato. Segundo a força-tarefa que coordena a operação, o ex-ministro Antonio Palocci realizou o repasse de R$ 15 milhões a Delfim.
De acordo com os investigadores, ficou comprovado que pelo menos R$ 4,4 milhões das empresas vencedoras da licitação foram pagos a ele. Os recursos foram repassados por meio de contratos fictícios de consultoria a empresas que têm como sócios Delfim e um sobrinho. O ex-ministro negou e afirmou que os serviços foram prestados.