Morre, aos 91 anos, o cantor, compositor e agitador cultural Carlos Elias

Carlos Elias contribuiu, decisivamente, para a criação da cena musical brasiliense com projetos como o Clube do Samba e a Feira de Música

Morreu Carlos Elias, aos 91 anos, na madrugada de segunda-feira (26/8). Ele teve complicações de uma pneumonia. O cantor, compositor e dançarino foi um dos artistas que mais contribuíram para a criação da cena musical cidade, especialmente para o samba.

Ele era um mineiro muito carioca. Nascido na cidade de Laranjal, na Zona da Mata de Minas Gerais, viveu desde criança no Rio de Janeiro, onde conviveu com figuras como Nelson Cavaquinho e Zé Keti, e participou da Ala de compositores da Portela. Lá, organizou o conjunto Show da Portela, formado por ritmistas, passistas e dançarinos de gafieira.

Carlos Elias participou, ativamente, da cena musical brasiliense/Foto: Nilson Carvalho/Divulgação

Em 1962, compôs o samba enredo da Portela Rugendas – Viagens pitorescas através do Brasil (com Zé Keti, Nílton Batatinha e Marcos Balbino). Participou de shows importantes com grandes nomes do samba. Em 1966, esteve ao lado de Zé Kéti, Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho, Casquinha, Joãozinho da Pecadora, em show realizado no Teatro Opinião, com a participação especial de Billy Blanco.

Integrou, ainda, o espetáculo A fina flor do samba, produzido por Sergio Cabral e Tereza Aragão, e o show Zicartola nº 2, ao lado de Clementina de Jesus, Alvaiade da Portela, Cartola, Nelson Cavaquinho e o Conjunto Nosso Samba. Ambos apresentados no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro.

Carlos Elias era funcionário do Ministério das Relações Exteriores, chegou transferido para Brasília em 1975 e trouxe na bagagem a paixão pelo samba. Além do trabalho de cantor e dançarino, sempre se destacou na condição de produtor e articulador cultural. E, claro, uma das primeiras coisas que procurou foi por samba. Como havia poucos lugares, criou o bar Camisa Listrada, que se tornou um ponto muito concorrido de música ao vivo.

No entanto, ele liderou, ainda, duas iniciativas ainda mais marcantes na história da música em Brasília: os projetos Clube do Samba e Feira de Música, no Teatro Galpão, que acabara de ser inaugurado. Carlos Elias lembrou-se do Clube do Disco e do Clube do Jazz e Bossa do Rio de Janeiro e resolveu propor o projeto. O Clube do Samba fez muito sucesso com shows todas as semanas e durou dois anos e cinco meses, de 1978 a 1981. Segundo Carlos Elias, parou porque as pessoas não tinham tempo para ensaiar

Mas ele aproveitou o espaço e resolveu criar a Feira de Música, diretamente inspirada no evento do mesmo nome, promovido todas as sextas-feiras, no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro. A Feira de Música começou em 1980 e terminou em maio de 1981, porque Carlos Elias teve se se muar para Marselha, em missão profissional do Itamaraty. Não havia cobrança de ingressos nem pagamento de cachês para os artistas. A programação não contemplava apenas samba.

Passaram pelo palco figuras ilustres da cena musical brasiliense: Os Raimundos, Renato Matos, Zelito Passos, Forró sem nome, Littler Quail e Detrito Federal, entre outros. Com essas ações, Carlos Elias contribuiu, decisivamente, para que Brasília se tornasse um reduto da música e do samba, com a revelação de inúmeros instrumentistas, grupos, cantoras e cantores. “Carlos Elias representa o samba. Ele trouxe para Brasília toda a experiência cultural que tinha das rodas de samba do Rio de Janeiro“, ressalta Leandro Borges, produtor e diretor do documentário De bem com a vida – Carlos Elias e o Samba em Brasília. “Ele foi um grande representante da cultura da nossa cidade, amava Brasília como poucos e lutava pela cultura da capital.”

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