Morre Jeová Santos Borges, baiano que atuou como delegado leigo no Acre, aos 99 anos

Jeová foi uma mistura de delegado de polícia e político com atuação na fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru

Morreu em Rio Branco (AC), nesta terça-feira (28), de causas naturais, o baiano Jeová Santos Borges, conhecido como “Delegado Jeová”, que em abril de 2025 completaria 100 anos de vida. Aos 99 anos de idade, lúcido, este homem nascido em Esplanada, na Bahia em 21 de abril de 1925, chegou ao Acre como um dos muitos arigós arregimentados no Nordeste brasileiro para trabalhar nos seringais amazônicos na colheita da seringa para fabricação de borracha que ajudaria as nações aliadas no teatro de operações que aconteciam na Europa, no episódio da II Guerra Mundial.

Uma mistura de policial e politico que atuou principalmente na região do Alto Acre, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru, na região de Assis Brasil, contava que, no ano de 1943, embarcou no navio Comandante Hip, rumo à Amazônia, mais precisamente para o território do Acre. Com ele, uma centena de nordestino, arregimentados pela CAETA (Companhia Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia). O navio passou por Fortaleza (CE) até Belém, no Pará, onde tiveram que trocar de navio. Embarcaram no navio de bandeira dos EUA (Estados Unidos da América), de nome “Esteif Off Delovare”. Já em Manaus, tiveram que trocar para a Chatinha Evandro Chagas, para seguirem até o Acre.

Baiano Jeová Santos Borges, conhecido como “delegado” Jeová/Foto: Reprodução

Segundo o próprio contou a historiadores que o entrevistaram em 2021, chegaram ao Acre já no ano de 1944. Aquele bando de homens ficou alojado no Galpão de uma antiga Usina de Castanha, que existia no Bairro 15, onde hoje é o Mercado Municipal do 15. Ali ficavam aguardando os seringalistas, seus futuros patrões, que vinham selecioná-los para trabalharem nos seus seringais.

Mas Jeová exerceu a atividade de seringueiro por pouco tempo. Em 1944, no governo de Luis Silvestre Coelho, ainda no território, foi para o quadro da Guarda Territorial. Mas, por desentendimento com o comando da Guarda, deixou a corporação ainda no ano de 1944.

Foi trabalhar com Carlos Alves das Neves, filho do coronel Honório Alves das Neves, como gerente da Fazenda Palmares. A partir de 1946, resolveu trabalhar por conta própria e passou de novo a cortar seringa no Seringal Cachoeira, pertencente à família Zaires, em Xapuri. Ali, além da seringa, se envolveu na formação de campo de pastagem para gado e chegou a tocar grandes fazendas. Depois, passou a ser marreteiro nos seringais que ficavam à margem do Rio Acre, do São Francisco a Baixa Verde.

Seu corpo está sendo velado na Capela do Cemitério Morada da Paz/Foto: Reprodução

A partir do ano de 1958, já conhecendo a família de do político José Augusto de Araújo, gozava de bom conceito junto àquele futuro líder e governador do Acre. José Augusto o convidou para retornar para a Guarda Territorial, mas o impetuoso Jeová não aceitou e foi gerenciar o Seringal Portiuga, nas matas da Bolívia e só voltou ao Acre nos anos de 1960. Em 1962, José Augusto, já candidato a governador do recém-criado Estado do Acre, sendo candidato. Chamou Jeová de volta para trabalhar com ele na campanha.

Jeová aceitou o convite e acompanhou José Augusto no governo até sua deposição, em 1964. Com o governador deposto, Jeová cai em clandestinidade e vai se por uma temporada nos seringais da Bolívia, só retornando ao Brasil três anos depois, em plena ditadura militar. Acabou na então Vila Plácido de Castro. Permaneceu preso até travar contato com o então deputado Augusto Hidalgo de Lima, que atuou para libertá-lo.

Na década de 70, foi nomeado como Delegado de Polícia, pelo então governador Geraldo Gurgel de Mesquita, passando por 20 anos na atividade, quando não havia a exigência de formação no curso de Direito para o cargo. Quando foi criada a exigência, por lei, deixou de ser delegado leigo e passou a ser agente de Polícia Civil, do quadro efetivo do Estado, pelo qual se aposentou.

Seu corpo está sendo velado na Capela do Cemitério Morada da Paz e será sepultado ainda esta tarde, no cemitério do mesmo nome, no bairro Calafate.

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