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Número de pessoas com Doença de Chagas chega a 12 em Cruzeiro do Sul; Embrapa adota medidas

Por Tião Maia, ContilNet

Depois do registro de 12 casos de Doenças de chagas, transmitida pelo Barbeiro, inseto que se reproduz nos cachos de açaí, produto alimentício consumido em larga escala na Amazônia, incluindo o Acre, pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agripecuária) e outros órgãos estão tomando medidas para evitar a propagação. A Secretaria Municipal de Saúde de Cruzeiro do Sul, município do interior do Acre, onde foram diagnosticado os nove casos nos últimos dias, está capacitando profissionais da cidade para os cuidados com pacientes com a doença de chegas que seguem em tratamento no Hospital do Juruá.

Inseto barbeiro, transmissor do protozoário causador da doença de Chagas/Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Paralelo a isso, a Embrapa está divulgando uma cartilha que ensina como evitar a doença. De acordo com a Embrapa, em todo o país a ingestão do açaí processado artesanalmente, sem tratamento térmico, tem sido relacionada a casos crescentes de doença de Chagas. A contaminação dos frutos pelo protozoário Trypanosoma cruzi, agente causal da doença, quando consumido causa a doença em humanos.

Estudos apontam que o inseto triatomíneo, conhecido como “barbeiro” é o responsável pela transmissão do protozoário e, consequentemente, da doença, podendo ser atraído ao fruto de açaí pela reflexão da luz, assim como pelos odores exalados no processo fermentativo do fruto, devido ao calor e umidade que favorecem sua deterioração pela contaminação natural.

Em cruzeiro do Sul, a preocupação é que esteja sendo atacada por focos da doença de chagas, com o registro de 12 pessoas diagnosticadas. Os agentes de saúde da cidade participaram, na semana passada, de cursos para poderem orientar a população sobre como se prevenir, além dos cuidados com os pacientes que apresentarem os sintomas. De acordo com o diretor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, Lindomar Ferreira, diz visa capacitar os profissionais da cidade para o enfrentamento à doença.

“A gente teve como meta e objetivo também trazer os nossos profissionais ao conhecimento e também tá capacitando e orientando pra que eles possam desenvolver um trabalho qualificado e também para as pessoas que precisam nas unidades básicas de saúde”, diz Lindomar.

Uma das preocupações dos agentes de doença em relação à doença é que, no Acre, o açaí é um produto extraído da floresta nativa da região e gera renda para muitas famílias que vivem da produção do alimento. Para evitar impactos na economia local, a Vigilância Sanitária do município também vai atuar para garantir a qualidade do produto.

O técnico da Vigilância Epidemiológica do Estado, Advagner Prado, orienta que, para evitar a transmissão, é importante manter os cuidados com manipulação dos alimentos. “Nós temos cinco fases pra fazer a higienização desse fruto: a primeira fase quando ele vem do setor primário, do campo, é fazer uma lavagem na água tratada. Logo depois fazer a imersão de 2 a 5 gotas de hipoclorito, num período de 20 a 30 minutos. Depois fazer a imersão da água fervente de até 10 segundos, não é necessário deixar de molho. Só colocar o fruto, faz uma contagem de 10 segundos e retira e faz o tratamento, a limpeza de fruto por fruto com água tratada. E só assim o fruto tá pronto para ser consumido, para ser batido. Também ter o cuidado nos equipamentos onde esse fruto vai ser processado. Essa mesma lavagem tem que ser nos equipamentos”, explica ele.

A coordenadora da Vigilância Sanitária de Cruzeiro do Sul afirma que os empresários que vendem o açaí serão orientados sobre as práticas de manipulação do alimento. “Com relação ao nosso trabalho de Vigilância Sanitária, nós já estamos fazendo a busca ativa nos locais, para identificar quais são os locais que fabricam açaí. É uma parceria com os agentes de saúde, que eles vão identificar e passar os endereços pra Vigilância Sanitária, para nossa equipe ir aos locais e orientar sobre as boas práticas de manipulação”, assegura.

As 12 pessoas diagnosticadas com Doença de Chagas em Cruzeiro do Sul, participarem de uma festa de aniversário há cerca de um mês no bairro Miritizal. Ao todo, 14 pessoas buscaram atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com sintomas da doença após a festa. Cinco casos ainda estão sob análise.

A Secretaria Municipal de Saúde suspeita que a contaminação possa ter ocorrido após as vítimas tomarem dois vinhos derivados de frutas típicas da região Amazônica: açaí e patuá. A Vigilância Epidemiológica do município segue com os estudos para esclarecer como os pacientes foram contaminados com a doença, que é transmitida pelo barbeiro. O inseto geralmente é encontrado em palmeiras e a principal suspeita é que a contaminação tenha ocorrido por meio do consumo de açaí. Os pacientes passaram sentir os sintomas após o consumo do alimento que foi produzido por um morador do local. Alguns também se alimentaram com patoá, outro alimento extraído de palmeira que também é consumido na região.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, nenhum paciente evoluiu para quadros graves. Um deles já teve alta e oito ainda estão no hospital, mas podem receber alta a qualquer momento. As famílias estão mais tranquilas com a melhora do estado de saúde dos pacientes.

Os sintomas da doença são os seguintes: na fase aguda, os principais sintomas são:

– dor de cabeça,
– febre,
– cansaço,
– edema facial e dos membros inferiores,
– taquicardia,
– palpitação e dor no peito,
– falta de ar.

Como os sintomas iniciais parecem com o de outras doenças, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima para atendimento médico imediato e realizar exames. O diagnóstico precoce é fundamental nos casos de doença de Chagas, pois quanto mais tempo leva para o paciente iniciar o tratamento, mais danos o parasito causa no organismo, principalmente no coração e sistema digestivo.

Um paciente com suspeita da doença precisa ser logo notificado e imediatamente encaminhado para exame e início do tratamento. O paciente com Chagas deve receber medicamento específico por dois meses e permanecer sob acompanhamento pelo período de 5 anos na atenção básica municipal e, quando necessário, por especialista cardiologista, infectologista e gastroenterologista.

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