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Pai acusa academia por discriminação contra criança autista e caso vai parar no MPAC

Por Tião Maia, ContilNet

As humilhações e discriminação contra Pierre Feline Pinheiro, uma criança de 9 anos, doce e afável, mas sob a alegação de que ele poderia assustar às outras crianças, não ficarão impunes. O caso ocorreu na quarta-feira (7), por volta das 16h20min, na academia de jiu-jitsu Evolution Sport Center, em Rio Branco (AC).

A criança que foi portadora da Síndrome de West, doença rara diagnosticada quando ele tinha apenas seis meses de idade e que, com o passar do tempo, é causada por descargas elétricas nos neurônios, causando epilepsia e que evolui para o autismo, razão pela qual o instrutor e sócio da academia, situada na Estrada Dias Martins, 1377, no terceiro andar da Galéria BV (ao lado da loja Barriga Verde), pediu que Pierre fosse retirado das aulas “para não assustar as outras crianças”. A discriminação foi praticada pelo instrutor e sócio da academia identificado por José Roberto.

O ato criminoso de discriminação contra uma criança inocente e indefesa chegou ao conhecimento do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), que vai instaurar procedimento a fim de punir e responsabilizar criminalmente os responsáveis pela academia e o instrutor. Foi o que garantiu nesta quinta-feira (8) a procuradora de Justiça Gilcely Evangelista, coordenadora de Defesa da Saúde, da Pessoa Deficiente e Idosa do MPAC.

Sede do Ministério Público do Acre/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“Tomei conhecimento dos fatos por vídeos em rede social e achei um absurdo e um caso flagrante de discriminação contra a criança e vamos tomar todas as providências necessárias”, disse a procuradora. “Não podemos deixar, nem tolerar, que isso aconteça. Ainda há muito preconceito em nossa sociedade, que tem o dever de adotar o sistema de inclusão”, acrescentou.

O pai da criança, o médico Pedro Mariano, deve ser ouvido formalmente pelo MPAC na próxima segunda-feira (12). Foi o próprio médico que denunciou o crime contra seu filho ao postar vídeos em redes sociais nos quais sensibilizou boa parte da sociedade, principalmente pais e outras pessoas que se relacionam com crianças com algum grau de deficiência, ao revelar o caso, em lágrimas.

“Aproveitei minha folga de plantões médicos para levar meu filho ao treino. Ao chegar no local, já percebi a falta de acolhimento”, disse Pedro Mariano. “Meu filho fica eufórico no primeiro momento e demora alguns minutos para se regular, mas não é agressivo, como podem ver nos vídeos que postei da outra escolinha onde ele é acolhido e amado”, acrescentou Mariano.

Continuando sua narrativa, o pai da criança disse que Pierre, feliz da vida, estava no tatame correndo e rindo. Todos fizeram de conta que ele não estava ali, não dando nenhum tipo de atenção”, disse. “No episódio seguinte, o professor José Roberto me chamou e pediu para eu me retirar com meu filho porque as outras crianças iriam ficar com medo”.

Pedro é pai de Pierre, criança com autismo/Foto: Reprodução

Ao ouvir isso, Pedro Mariano disse que seu mundo ruiu assim com toda a amizade e consideração que havia com a academia e seus instrutores, com os quais se relacionava fazia anos. “Eu sempre suportei todos os preconceitos e olhares para e sobre nós. Porém, desta vez a ferida foi no coração e foi grande demais. Me senti fraco, deprimido e ansioso. Doeu quando meu filho ficou olhando para mim com uma pergunta no olhar que dizia: ‘o que está acontecendo, papai’. Eu me senti frágil e também chorei”, revelou o médico.

“Meu filho não fala, mas seu sofrimento era visível. Levei-o para casa e ele não quis sair do carro. Fiquei conversando com ele, dando apoio e dizendo que ele não deveria baixar a cabeça para ninguém que o tratasse mal. Mas ele começou a chorar e nesse momento pedi força a Deus. Sou um homem de muita fé e sabia que mais uma vez Deus estava comigo. Não há males que não vem para o bem”, acrescentou.

Pierre tem 9 anos/Foto: Reprodução

Após sair da academia, Pedro Mariano disse ter levado Pierre para o Quiosque do Côco, no Conjunto Tucumã e entrada do Conjunto Ipê, para a criança andar de patinete, como havia feito dias atrás, mas Pierre não aceitou. “Até postei um vídeo em que uns dias anteriores ele andava feliz de patinete e depois do episódio na academia, ele entrou em crise e foi difícil para regular ele”, revelou o pai, chorando.

Mariano pediu desculpas a amigos e familiares pela postagem e exposição nas redes sociais em relação a um problema social, mas lembrou que não lhe restava outra alternativa. “Não é só o meu filho em questão, mas todas as crianças e adultos com espectros diferentes, com transtornos mentais. Já queria psiquiatra como minha especialidade médica. Agora tenho certeza no meu coração sobre isso e vou por todos os deficientes com a minha vida do mesmo jeito que estou lutando pelo meu filho”, afirmou.

Pierre foi diagnosticado com autismo/Foto: Cedida

O médico disse ainda que vai ajuizar ação judicial exigindo providências para que casos como desta academia não voltem a acontecer. “No fundo, nunca quis prejudicar ninguém, mas, infelizmente, as providências judiciais a serem tomarás servirão de exemplos para que isso não se repita nem seja um exemplo pelo a ser seguido;

O OUTRO LADO – A academia de jiu-jitsu funcionava normalmente na manhã desta quinta-feira. Mas, pela manhã, só haviam os instrutores, inclusive o acusado do crime de discriminação José Alberto, um dos sócios do empreendimento. Embora admita o fato, ele disse que foi mal interpretado pelo pai da criança e se recusou a falar sobre o episódio. Para isso indicou outro instrutor, que seria seu sócio, que se apresentou como Thomas Bryan.

“O que houve foi um mal entendido. Nós estamos atrás de falar com o Pedro, que é nosso amigo, a fim de entender os o que está acontecendo”, disse Bryan.

Ele revirou as acusações de discriminação contra a academia ao revelar que de pelo menos os 200 alunos, e três crianças e adultos, pelo menos dez deles seriam deficientes. “Temos pelo menos dez pessoas nessas condições”, disse.

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