O especialistas em aeronaves Raul Marinho, em entrevista em live do Metrópoles, afirma que a queda em “parafuso-chato”, como foi a do avião com 61 pessoas que colidiu com o solo em Vinhedo (SP), nesta sexta-feira (9/8), é uma das piores que um piloto pode enfrentar. Ele considera que ela é irreversível.
“É uma das situações piores que um piloto pode enfrentar. Porque o parafuso chato é impossível de ser revertido, como foi nesse caso.”
A aeronave da Companhia VoePass, antiga Passaredo, caiu em um condomínio residencial, em Vinhedo (SP) . O voo partiu de Cascavel (PR) e tinha como destino o Aeroporto Internacional São Paulo, em Guarulhos. Estavam no avião 61 pessoas, sendo 57 passageiros e quatro tripulantes.
Gelo
A hipótese mais plausível para Marinho é que tenha havido formação de gelo nas asas do avião. Isto, diz ele, faz perder sustentação. O especialista ressalva, no entanto, que o modelo da aeronave possui dispositivos para enfrentar situações em que há formação de gelo na atmosfera, e que, além disto, os pilotos são treinados para estas situações. “É uma aeronave extremamente segura”, resumiu.
A formação de gelo nas asas, conforme explicou Marinho ao Metrópoles, faz com que a curvatura das mesmas sejam alteradas, e que o avião perde sustentação, o que é chamado tecnicamente de “stol”. “Ele deixa de ser um avião e se torna um pedaço metálico”, descreve.
A formação de gelo nas asas acontece, como explicou Marinho, quando a aeronave entra em contato com água na atmosfera a temperaturas muito baixas, abaixo de zero, inclusive. “Se foi o gelo, a gente não sabe porque não foi contornada (a situação). Só a investigação vai revelar”, frisou.
O especialista afirmou que os aviões modelo ATR-72, como o que caiu, possuem uma espécie de resistência, semelhante à dos chuveiros elétricos, com o intuito de proteger as asas da formação de gelo. Outro sistema que o modelo tem, descreve Marinho, é um dispositivo pneumático que infla e desfaz o gelo.
Altitude
O modelo ATR-72 voa em altitudes de 20 mil pés a 25 mil pés, mais baixas que as dos aviões a jato (32 mil pés a 40 mil pés). Mais baixo, a probabilidade de enfrentar as condições meteorológicas ligadas à formação de gelo são mais comuns. Por este motivo, o avião possui os dispositivos de segurança citados acima e que os pilotos são treinados para lidar com as condições.
“É um avião extremamente seguro. Ele é certificado por autoridades da União Europeia, Estados Unidos e Brasil”, frisa.
Por fim, Marinho destacou outras hipóteses para a queda como o desbalanceamento do avião (distribuição de carga) e falha de motores. Apesar disto, ele mesmo lembrou que imagens revelam que os motores funcionavam no momento da queda.
“Existem diversos acidentes em que a possibilidade mais plausível não se confirma. Depois da investigação, chega à conclusão de que foi outra coisa que causou”, disse. As investigações serão conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).