Para manter sua hegemonia nas regiões onde vendiam drogas, em território piauiense, os irmãos promoveram execuções de rivais.
Como afirmado por comparsas de Pequeno, em conversas interceptadas pela PF, ele comprava o quilo da cocaína por R$ 20 mil e o revendia por R$ 44 mil, “um negócio muito lucrativo”.
Um comparsa e amigo de Pequeno, identificado como Janes Nogueira da Silva, acrescentou que os irmãos deveriam ter focado em “só ganhar dinheiro”, e não em “ter matado gente demais”.
O volume de cocaína movimentado pelos irmãos era altíssimo, como mostra conversa na qual Pantera afirma à esposa ter recebido, em maio de 2023, uma tonelada da droga. Na revenda, isso renderia aos criminosos R$ 44 milhões.
Desde 2018, Pequeno estava foragido da cadeia em Osasco, cidade onde foi morto na barbearia, em 2 de dezembro de 2023, “em razão da disputa envolvendo pontos de comercialização de drogas”. Quem possibilitou a morte dele também era do PCC, estava a milhares de quilômetros de distância, no Piauí, e compunha uma célula que rivalizava por território.
Pantera assumiu a liderança do grupo e se vingou da morte do irmão, o que resultou em um banho de sangue em cidades do interior piauiense.
Arma na geladeira
Pantera foi preso em flagrante por policiais militares em Itapeva, interior de São Paulo, em 20 de maio deste ano, um dia antes de a PF iniciar o cumprimento de mandados de busca e apreensão resultantes da investigação.
A PM foi chamada no endereço do chefão do PCC para checar uma suposta denúncia de cárcere privado, feita por um vizinho. Quando os policiais chegaram ao local, Pantera permitiu que entrassem na casa, e a denúncia foi desmentida.
O criminoso acabou preso quando os PMs encontraram uma pistola calibre 380 e munições, dentro da geladeira. Após o flagrante, ele alegou manter a arma no local para garantir a própria segurança, “visto que seu irmão tinha sido assassinado”.
Terrorista: o professor de tiro
Com a quebra do sigilo telemático de Pequeno após seu assassinato, a PF descobriu que ele negociava armas com mais de um Colecionador, Atirador Esportivo e Caçador (CAC).
Um dos fornecedores identificados é Otávio Alex Sandro Teodoro de Magalhães, o Terrorista, que vendeu armas e munições para Pequeno e Pantera. O CAC também aparece em registros de vídeo (assista abaixo) treinando Pantera e Patroa no manuseio de um fuzil, arma usada em guerras.
Investigações mostram que Terrorista, que é morador de Piracicaba, no interior de São Paulo, negociava armas com outros “clientes”, para além do casal de “cangaceiros”. A lei permite que CACs comprem o material bélico, mas proíbe a revenda.
Com Terrorista foram apreendidas armas, com e sem registro, bem como munições, pólvora, explosivos de fabricação caseira, acionadores de bombas, balaclavas, drones e bloqueadores de GPS — equipamentos usados pelo “Novo Cangaço” nos “domínios de cidade”.
“Além de fornecer todo o aparato necessário para a organização criminosa praticar crimes violentos, Otávio [Terrorista] auxiliava os demais comparsas, quando presos, e os capacitava no manuseio de armas de fogo com alto poder de destruição”, destaca a PF.
Pantera, Patroa e Terrorista foram presos na última terça-feira (10/9), durante a segunda fase da Operação Baal, deflagrada pela PF e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Durante a ação conjunta, foram presos o casal, o CAC e os integrantes do PCC Jakson Oliveira Santos, o Dako, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava no núcleo financeiro da facção e nas execuções de inimigos.
O Metrópoles busca a defesa dos acusados. O espaço está aberto a manifestações.
No total, 18 suspeitos foram denunciados pelo MPSP desde o início do ano. Quatro CACs foram presos, apontados como fornecedores de armas para a facção.