Manoel Machado, ex-deputado que chegou a ser governador interino do Acre, completa 82 anos

Apontado como folclórico, ele ri até das anedotas que lhe atribuem, como a história dos dois cheques de trinta em vez de um de sessenta, e admite que não briga mais para ter pensão de governador.

O mais popular de todos os políticos em atividade no Acre nos últimos 50 anos, Manoel Machado da Rocha, nascido em Tarauacá em 18 de setembro de 1942, está completando 82 anos de idade nesta quarta-feira.

Ex-vereador por dois mandatos em Tarauacá, de 1972 a 1978, e deputado estadual de 1982 até 1994, ele já foi governador interino do Acre por pelo menos três vezes. Manoel Machado, em 1972, além de conquistar o mandato de vereador, também foi eleito presidente da Câmara de Vereadores de Tarauacá, exercendo também o cargo de prefeito em exercício em sua cidade, na época do prefeito Raimundo Ramos.

Manoel Machado com a faixa de governador do Acre/Foto cedida

Nesta quarta-feira (18), ele diz que está, na verdade, completando apenas 80 anos, já que, ao se candidatar a primeira vez, com apenas 28 anos, precisou aumentar a idade em dois anos para ter a idade exigida pela legislação na época.

Para ilustrar a jovialidade, o vaidoso político pinta o cabelo e o bigode de tal forma a esconder os cabelos brancos que teimam em aparecer.

Retrato de Manoel Machado/Foto cedida

O ex-vereador que chegou a deputado estadual, também foi presidente da Assembleia Legislativa no período de 1987 a 1989 e, nesta condição, assumiu a interinidade do Governo do Estado, na gestão do então governador Flaviano Melo, cujo vice era Édson Cadaxo. A cada vez que governador e vice viajavam, cabia a Manoel Machado assumir o governo de forma interina.

Nesta condição, em várias oportunidades em que assumiu, chegou a governar o Acre por mais de um mês, segundo revelam leis e outros documentos sancionados e assinados na época como “governador, em exercício” do Acre, razão pela qual se acha credor do Estado em relação a uma pensão vitalícia a qual recebiam, até 2022, aqueles que assumiam o governo do Estado.

Manoel, aclamado por populares, simbolizando décadas de serviço à política acreana/Foto cedida

A Justiça, no entanto, até aqui, tem negado o benefício ao governador interino sob a alegação de que ele não foi governador efetivo do Estado.

Mas, ainda que nunca venha ganhar direito à pensão, o título de governador, ainda que interino, não é nada mal para um filho de seringueiro numa família de 11 irmãos nascidos nas barrancas dos rios Muru e Tarauacá, que não frequentou a escola formal de fato, jamais se formou em qualquer curso, e que, a despeito de tudo isso, ainda era gago.

A gagueira, no entanto, nunca o impediu de cantar em festas envergando uma guitarra e tocando músicas da chamada Jovem Guarda nos clubes de Tarauacá e de Rio Branco.

Boêmio, dançarino e namorador, Manoel Machado tem um casamento e uma família estáveis, apesar de muitos filhos com antigas namoradas dos tempos de boemia. Mas é um avô dedicado e continua saudável e lúcido.

Manoel Machado, além de político, mostra seu lado boêmio tocando violão, relembrando os tempos em que animava festas com músicas da Jovem Guarda/Foto cedida

Fora da política há mais de duas décadas, já que seu último mandato de deputado estadual expirou-se em 1994, ele ainda tentou voltar ao parlamento por várias vezes, candidatando-se a vereador em Rio Branco ou à Assembleia Legislativa, mas o eleitorado, que antes o aplaudia e lhe deu vários mandatos seguidos, agora vem lhe dizendo não.

A última vez em que tentou voltar à Assembleia foi nas eleições de 2022, pelo Solidariedade, mas obteve pouco mais de 700 votos.

Ao admitir as derrotas nas vezes em que tentou voltar ao parlamento, ele culpa a si próprio. “Na verdade, eu reconheço hoje, eu relaxei com o meu povo de Tarauacá. Eu deixei de ir lá. Primeiro, porque o mandato e as atividades da política me prendiam muito na Capital. Em segundo lugar, foi porque eu relaxei mesmo”, disse certa vez.

O calejado político lembra, sem esconder o saudosismo, os dias em que viveu a glória, o ápice do poder estadual, como governador interino.

“Minha principal ação como governador foi inaugurar a sede do Banacre (Banco do Estado do Acre, já extinto) em Tarauacá, na minha cidade. Eu voltei a Tarauacá como governador só uma vez e até me arrependo disso. Eu deveria era ter transferido todo o governo para lá, até a Capital, e ter despachado as coisas como governador lá da minha cidade, como forma de homenagear aquela gente tão sofrida. Eu me arrependo disso”, contou.

Aos críticos ou pessoas que tentam folclorizá-lo com piadas nefastas, ele responde, sério, dizendo o seguinte: “Eu não sou analfabeto, não. Tenho segundo grau e sei ler e escrever. Lá em casa, quando a gente era pequeno, quem quisesse estudar, mesmo com sacrifícios, estudava. Tive duas irmãs (Adelaide Neri e Nonata Machado) que chegaram a ser até professoras, uma até da Universidade (Adelaide), de tal forma que lá em casa não tinha ninguém analfabeto não. Mas eu penso assim: se o povo diz, deixa que pensem”, acrescenta.

A história dos cheques em que, dizem os gozadores de plantão, quando a secretária o perguntou como se escrevia “sessenta”, ele mandou fazer dois no valor de trinta. Manoel Machado diz que é mentira e que ele próprio deixou a história acontecer por brincadeira.

“Foi em tom de brincadeira, lá no gabinete. Essa moça, que era minha secretária lá no gabinete, hoje até vive em Manaus e, quando a gente se encontra, rimos muito dessa história. Ela disse: ‘deputado, como se escreve sessenta?’ Eu, de brincadeira, disse: ‘faz dois de trinta, já que tu não sabes escrever sessenta’. Mas aí virou galhofa. Mas eu não fico com raiva disso, não. Sou como o meu amigo e falecido governador Edmundo Pinto. Ele dizia sempre: ‘falem mal de mim, mas falem’. Para um político, a morte é quando ele é totalmente esquecido”, disse.

Sobre a fama de jogador inveterado de baralho e que teria perdido tudo o que tinha em mesas de jogos, ele se defende: “O povo exagera muito. Eu gosto de jogar um carteado, mas nunca apostei minha vida ou o patrimônio da minha família. Fiquei pobre, por assim dizer, porque fui um político que nunca fez negociata, que nunca montou empresa para se dar bem, como muitos fizeram ao longo do tempo. E fiquei sem muitas posses porque tudo o que ganhei eu dei, ajudei às pessoas que me procuravam”, disse.

Manoel Machado admite que espera conseguir a pensão de ex-governador, um sonho que ele já nem defende com fervor, e vive de uma pensão do INSS.

“Eu recebo uma aposentadoria e minha mulher também é aposentada como funcionária pública. Dá para ir levando e eu não vivo na miséria, não. Tenho casa própria, um carrinho para andar e aqui e acolá ainda ajudo alguém que precisa mais do que eu”, disse. Sobre a ideia da pensão de governador, afirma: “Eu já corri muito atrás disso, mas desisti. Me convenceram, até amigos meus que são juízes e desembargadores, de que eu não tenho direito por não ter assumido o governo de forma efetiva, apenas de forma interina, apenas com uma expectativa de poder. Mas há pelo menos um caso, se não me engano, no Mato Grosso, de que uma pessoa, na minha mesma situação, ganhou. Mas eu desisti. Cansei de lutar sozinho por isso.”

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