“Existem seis mitos sobre a velhice: Que é uma doença, um desastre; Que somos estúpidos; Que não transamos; Que somos inúteis; Que somos impotentes; e Que todos somos iguais”, Maggie Kuhn, americana, precursora na luta pelos direitos dos maiores de 60 anos.
Maggie morreu em 1995, há quase 30 anos. Pelos conceitos (e preconceitos), continua atualíssima.
Ao ser retirada à força (da idade) do mercado de trabalho, anos 70, Maggie rebelou-se e criou o movimento Panteras Cinzentas. No final da década, em meio a protestos turbulentos contra a guerra do Vietnã, comandados por ela inclusive, arregimentou mais de 100 mil associados para o Panteras.
Maggie certamente acharia o Dia Internacional da Pessoa Idosa, “comemorado” nesse 1º. de outubro, uma piada. Como o dia da mulher, dia da criança, dia do cachorro, dia da vovó, dia do garçom, dia do borracheiro, dia da abreugrafia … dia do cunhado!
O velho não quer festejar sua velhice. Nem almeja ter um único dia pra chamar de seu. Seu tempo é curto. Quer viver todos os dias a que tem direito. O velho quer ver respeitada sua história, sua inteligência, sua vivência.
Há coisas boas na velhice? Poucas, eu diria. Mas há. Pode-se perder a paciência, dizer o que pensa, entregar-se à preguiça, fazer nada o dia todo quando é possível (fazer com que seja possível) mentir e desmentir sem culpa. Minha mãe detestava cenoura cozida. Só se permitiu recusar a “iguaria” aos 70.
A idade permite todas as vontades. Esse é o lado bom.
Escolher, por exemplo, com quem e onde você quer gastar seu (precioso) tempo.
Há coisas que aborrecem? Numerosas. Chamar o velho pelo diminutivo, e continuar conversando nos “inhos”. Põe o pezinho aqui, cuidado com o degrauzinho, quer uma aguinha? Nada mais insolente. A mania dos nem tão jovens de infantilizar ou idiotizar os idosos é insuportável, ignorância mesmo.
Lembro sempre de um anúncio de uma casa de repouso em Brasilia: “Traga seu idoso para conhecer nosso espaço”. Fico imaginando o velhinho na coleira para visitar a clinica onde sua família pretende despejá-lo dia desses. Fico imaginando também a cabeça do publicitário que “bolou” tal gracinha.
O preconceito contra a velhice é universal. Alcança os artistas. Os bem-humorados tiram de letra. “Quando se trata de envelhecimento, esperam coisas diferentes de nós do que dos homens. Alguns me perguntam: “Você não acha que você é muito velha para cantar rock n’ roll?”. Respondi:’ É melhor você perguntar para o Mick Jagger’.”, Cher, cantora e atriz americana, 78 anos. Mick tem 81.
Nos anos 80, em plena militância Maggie Kuhn alertou o mundo para o envelhecimento do Planeta. “Teremos muito mais velhos nos anos 2020 do que hoje”. Dados do IBGE indicam o número de 28 milhões de brasileiros com mais de 60 anos em 2018, ou 13% da população do País, tende a dobrar na próxima década.
Não será pouco.