Sem mandato desde 1994, quando perdeu a reeleição para o que seria seu quarto mandato de deputado estadual consecutivo, além de dois mandatos, de 1972 a 1978 em Tarauacá, Manoel Machado da Rocha, que chegou a ser presidente da Assembleia Legislativa do Acre de 1987 a 1989, quando assumiu o governo do Acre deforma interina por várias vezes, ainda conserva ares de pop-star da política.
Embora não tenha conseguido votos suficientes para voltar ao parlamento nas vezes em que se candidatou a Câmara de Vereadores de Rio Branco e à Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), o ex-deputado, do alto de seus 82 anos, ainda conserva um nicho de popularidade muito grande junto a população local, conforme mostra o vídeo que ilustra esta reportagem.
Risonho, nonachão, vivendo como pensionista do INSS e gozando de boa saúde, Manoel Machado que também atende pelo apelido de Teta, é tietado por onde passa – tal e qual, embora com menor intensidade, nos tempos em que é um dos políticos acreanos mais festejados e prestigiados e também quando empanava uma guitarra, com suas roupas coloridas, e entoava canções da Jovem Guarda nos clubes da cidade. O impressionante é que, embora gago, na hora de cantar, ele solta a voz com a dicção perfeita e sem gagueiras. “Coisa que só Dddddeeusss, explica”, gaguejando.
Isso mostra que o tio da deputada federal Socorro Neri (PP) – mas com a qual não tem parceria política, continua muito popular entre todos os políticos com ou sem mandato em atividade no Acre nos últimos 50 anos, Manoel Machado da Rocha, nascido em Tarauacá em 18 de setembro de 1942 e completou 82 anos este ano, embora ele próprio diga que é, biologicamente, muito mais novo.
Segundo ele, sua idade teve que ser aumentada no passado para que ele, no início da longeva carreira política, pudesse se candidatar
O bigode e os cabelos negros? – conforme pergunta eleitorado vídeo, ele explica que, para mantê-los assim, aí, sim, recorre à pintura e a outros produtos químicos. O resto, no entanto, ele diz, é tudo original e continua nos trinks, como ele diz..
Sua condição de ex-governador do Estado em várias oportunidades, quando assumiu, e chegou a governar o Acre por mais de um mês, segundo revelam leis e outros documentos sancionados e assinados na época como “governador, em exercício” do Acre, o levaram a reivindicar uma pensão vitalícia a qual recebiam, até 2022, aqueles que assumiam o governo do Estado. Mas, diante de seguidas negativas na Justiça, acabou por desistir da ideia.
Mas, ainda que nunca venha ganhar direito à pensão, o título de governador, ainda que interino, não é nada mal para um filho de seringueiro numa família de 11 irmãos nascidos nas barrancas dos rios Muru e Tarauacá, que não frequentou a escola formal de fato, jamais se formou em qualquer curso, e que, a despeito de tudo isso, ainda era gago. Boêmio, dançarino e namorador, Manoel Machado tem um casamento e uma família estáveis, apesar de muitos filhos com antigas namoradas dos tempos de boemia. Mas é um avô dedicado e continua saudável e lúcido.
A última vez em que tentou voltar à Assembleia foi nas eleições de 2022, pelo Solidariedade, mas obteve pouco mais de 700 votos. Ao admitir as derrotas nas vezes em que tentou voltar ao parlamento, ele culpa a si próprio. “Na verdade, eu reconheço hoje, eu relaxei com o meu povo de Tarauacá. Eu deixei de ir lá. Primeiro, porque o mandato e as atividades da política me prendiam muito na capital. Em segundo lugar, foi porque eu relaxei mesmo”, disse certa vez.
O calejado político lembra, sem esconder o saudosismo, os dias em que viveu a glória, o ápice do poder estadual, como governador interino. “Minha principal ação como governador foi inaugurar a sede do Banacre (Banco do Estado do Acre, já extinto) em Tarauacá, na minha cidade. Eu voltei a Tarauacá como governador só uma vez e até me arrependo disso. Eu deveria era ter transferido todo o governo para lá, até a capital, e ter despachado as coisas como governador lá da minha cidade, como forma de homenagear aquela gente tão sofrida. Eu me arrependo disso”, contou.
Aos críticos ou pessoas que tentam folclorizá-lo com piadas nefastas, ele responde, sério, dizendo o seguinte: “Eu não sou analfabeto, não. Tenho segundo grau e sei ler e escrever. Lá em casa, quando a gente era pequeno, quem quisesse estudar, mesmo com sacrifícios, estudava. Tive duas irmãs (Adelaide Neri e Nonata Machado) que chegaram a ser até professoras, uma até da Universidade (Adelaide), de tal forma que lá em casa não tinha ninguém analfabeto não. Mas eu penso assim: se o povo diz, deixa que pensem”, acrescenta.
A história dos cheques em que, dizem os gozadores de plantão, quando a secretária o perguntou como se escrevia “sessenta”, ele mandou fazer dois no valor de trinta. Manoel Machado diz que é mentira e que ele próprio deixou a história acontecer por brincadeira.
“Foi em tom de brincadeira, lá no gabinete. Essa moça, que era minha secretária lá no gabinete, hoje até vive em Manaus e, quando a gente se encontra, rimos muito dessa história. Ela disse: ‘deputado, como se escreve sessenta?’ Eu, de brincadeira, disse: ‘faz dois de trinta, já que tu não sabes escrever sessenta’. Mas aí virou galhofa. Mas eu não fico com raiva disso, não. Sou como o meu amigo e falecido governador Edmundo Pinto. Ele dizia sempre: ‘falem mal de mim, mas falem’. Para um político, a morte é quando ele é totalmente esquecido”, disse.
Sobre a fama de jogador inveterado de baralho e que teria perdido tudo o que tinha em mesas de jogos, ele se defende: “O povo exagera muito. Eu gosto de jogar um carteado, mas nunca apostei minha vida ou o patrimônio da minha família. Fiquei pobre, por assim dizer, porque fui um político que nunca fez negociata, que nunca montou empresa para se dar bem, como muitos fizeram ao longo do tempo. E fiquei sem muitas posses porque tudo o que ganhei eu dei, ajudei às pessoas que me procuravam”, disse.
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