Artista acreano tem suas obras expostas no Rio de Janeiro e São Paulo

Ivan Campos leva a arte acreana a novas fronteiras com participação em exposições de destaque, explorando memórias, espiritualidade e a riqueza da Amazônia

O artista acreano Ivan Campos participou, na primeira semana de outubro, de duas importantes exposições. No dia 2 de outubro, aconteceu, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), do Rio de Janeiro, a abertura da exposição Fullgás – Artes Visuais e anos 80 no Brasil.

Ivan Campos ao lado dos materiais que marcam sua trajetória autodidata nas artes visuais, consolidando sua identidade criativa/Foto cedida

Com a curadoria de Raphael Fonseca, a intenção da exposição é proporcionar ao público, a partir das cerca de 300 obras de artistas de todo o Brasil, distribuídas em oito salas do primeiro andar do CCBB RJ, o contato com uma geração que depositou muito de sua energia existencial não apenas no fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania.

Fullgás conta com nomes como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise e Leonilson, além de artistas importantes de fora do eixo Rio-SP, como Jorge dos Anjos (MG), Kássia Borges (GO) e Sérgio Lucena (PB).

O artista acreano em meio à floresta amazônica, onde busca inspiração para traduzir em suas telas a conexão entre memória e imaginação/Foto cedida

Uma obra de Ivan Campos, datada do início da década de 1990, compõe a seleção de obras, junto a mais três artistas acreanos: Hélio Melo, Antônio Cerezo e Danilo d’Sacre. Fullgás permanece no CCBB RJ até o final de janeiro de 2025 e, em seguida, irá percorrer os CCBBs dos demais estados brasileiros.

Ivan Campos apresenta uma de suas obras, revelando a complexidade de seu trabalho que reflete os cenários e a espiritualidade da Amazônia/Foto cedida

Em São Paulo, no dia 5 de outubro, aconteceu a abertura da 38ª edição do Panorama da Arte Brasileira, intitulada Mil Graus.

A exposição, com curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza, e curadoria-adjunta de Ariana Nuala, explora contextos de variação ambiental, combustão e transformação, refletindo as condições extremas — metafóricas e climáticas — de nosso tempo.

A mostra bienal do MAM apresenta 34 artistas de 16 estados brasileiros e está ocorrendo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), onde permanecerá até o dia 26 de janeiro de 2025.

A obra Rebanhos do céu, que pertence ao acervo da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, representou o trabalho de Ivan Campos, explorando minuciosamente, em seus quase sete metros de comprimento, a exuberância da floresta amazônica a partir da visão do artista.


Quem é Ivan Campos

Acreano, nascido em Rio Branco, filho do radialista Cícero Moreira e de Gercina Braga Campos, bordadeira e funcionária pública. Quando criança, passou um longo período internado para tratamento de tétano, durante o qual ganhava diariamente de sua mãe desenhos feitos em sobras de papel de pequenas dimensões.

Campos guardou todos eles e, logo ao receber alta, começou a desenhar figuras vegetais e humanas que serviam de modelo para os bordados feitos por Gercina. Durante a infância, ele também se ocupava de colecionar histórias em quadrinhos, cujas imagens eram usadas como referência para seus decalques. Foi com esses materiais à mão – sobras de papel e histórias em quadrinhos de baixo custo – que Ivan Campos aprendeu a desenhar de maneira autodidata.

Seu trabalho em pintura veio depois, quando jovem, caracterizado pela formalização minuciosa e indicativa dos anos de aprendizagem com o desenho. Desde o começo de sua produção até sua fase mais recente, o motivo da pintura é encontrado pelo artista no ambiente em que está inserido: a floresta amazônica, com seus rios e igarapés, aspectos místicos de sua vivência com a ayahuasca e cenas de interiores sendo alguns dos mais frequentes.

Em suas telas, Campos não visa uma representação naturalista da floresta, mas reitera a indissociável ligação da percepção com a memória e a imaginação.

Retrato de Ivan Campos, cuja trajetória artística é marcada por uma produção minuciosa e premiada que enriquece a história das artes visuais no Acre/Foto cedida

Sua primeira exposição individual aconteceu em 2000, na Galeria de Artes do Sesc, em Rio Branco. Em 2005, foi laureado com medalha de ouro no 1º Salão Hélio Melo de Artes Plásticas, evento realizado pela Associação de Artistas Plásticos do Acre (AAPA), com a obra Alicerces da Terra.

No mesmo ano, duas de suas obras foram selecionadas para o Projéteis de Arte Contemporânea, da Rede Nacional de Artes Visuais – Redemergências: uma das abordagens possíveis de um novo olhar sobre a produção artística atual, organizado pela Funarte/RJ. Em 2012, participou do projeto Trajetórias – Artes Visuais, com exposição de suas obras na Galeria Chico Silva, na Usina de Arte João Donato.

Em 2018, recebeu a insígnia no Grau Cavaleiro do Quadro Ordinário da Ordem da Estrela do Acre, honraria concedida a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do Estado ou protagonizaram atuações decisivas em prol da população. Em 2024, Ivan Campos foi selecionado para o 38º Panorama da Arte Brasileira e para a Fullgás.


Nova trajetória artística

Em setembro de 2024, Ivan Campos passou a ser representado pela Galeria Almeida & Dale, que promove o trabalho e legado de artistas brasileiros entre instituições e coleções privadas em todo o mundo.

Ao longo de sua história, a galeria vem desempenhando um papel central ao revisitar a produção de artistas fundamentais na história da arte, incluindo nomes consagrados e outros ainda pouco conhecidos.

Mostras recentes incluem individuais de Lygia Pape, José Leonilson, Hélio Melo e Sidney Amaral, além de coletivas que propõem diálogos entre o acervo da galeria e a obra de artistas contemporâneos.

Sob a liderança de Antônio Almeida e Carlos Dale, a galeria organiza exposições pautadas em pesquisa aprofundada, frequentemente acompanhadas por publicações amplamente reconhecidas por sua originalidade e qualidade histórica e acadêmica.

Além de seu programa de exposições e publicações, Almeida & Dale tem como foco a preservação e divulgação de legados de artistas históricos, como Rubem Valentim (1922-1991), uma das principais figuras do modernismo afro-brasileiro, e Luiz Sacilotto (1924-2003), renomado artista concreto.

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