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Bastidores do poder: entre vitoriosos e derrotados, o que as eleições revelam

Por Samuel Willard, ContilNet

As eleições municipais no Acre se destacaram como uma das disputas mais intensas dos últimos anos, repletas de resultados surpreendentes e reviravoltas. O cenário político presenciou o fim de antigas hegemonias e o surgimento de novos tempos em diversos municípios, enquanto outros conseguiram manter seus sucessores no poder.

Em muitos lugares, as eleições foram marcadas por margens de votação extremamente estreitas entre os candidatos eleitos e os derrotados.

Em um panorama geral, o governador Gladson Cameli (PP) emergiu como a figura política mais proeminente do Acre, consolidando sua força nesta eleição. O Progressistas, sob sua liderança, elegeu quatorze prefeitos em todo o estado e conquistou as seis cadeiras de vereador mais votadas na capital, Rio Branco.

Gladson Cameli e demais representantes do Progressistas celebram a força política do partido nas eleições de 2024/Foto: Ascom

No segundo maior colégio eleitoral do Acre, Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima foi reeleito, enquanto em Sena Madureira, o deputado federal Gerlen Diniz também garantiu sua eleição.

Com o Progressistas fortalecido, a vice-governadora Mailza Assis (PP) também tem motivos para celebrar, já que se prepara para a corrida ao governo em 2026, contando com uma ampla base de prefeitos e vereadores em todo o estado.

Em Rio Branco, não podemos deixar de destacar o senador Márcio Bittar (UB), um dos principais responsáveis pela aliança de partidos que sustentou a candidatura do prefeito Tião Bocalom (PL). Bittar, um articulador nato, foi fundamental para trazer o governo para a campanha de Bocalom, o que foi decisivo para a vitória no primeiro turno. O governador Gladson Cameli também se envolveu intensamente na campanha, apoiando Bocalom e seu candidato a vice, Alysson Bestene.

Além disso, Bittar desempenhou um papel importante em outras duas articulações que influenciaram significativamente os resultados em Cruzeiro do Sul e Brasiléia. Em Cruzeiro do Sul, o PL, sob sua liderança, decidiu sair da aliança com Jéssica Sales (MDB) para apoiar Zequinha Lima (PP). Da mesma forma, em Brasiléia, o PL abandonou o palanque de Leila Galvão (MDB) para se unir a Carlinhos do Pelado, indicando o vice da chapa.

SE REINVENTAR

O MDB, um dos maiores partidos do Brasil, tem enfrentado uma crescente perda de representatividade no Acre a cada eleição. Sob o comando dos “cabeças brancas”, o partido precisa urgentemente recalibrar suas estratégias e se reinventar para recuperar os dias de glória no estado. Nas últimas eleições, o MDB apostou todas as suas fichas nas candidaturas de Jéssica Sales em Cruzeiro do Sul e Marcus Alexandre em Rio Branco, colocando outros candidatos a segundo plano e concentrando-se exclusivamente nos dois maiores colégios eleitorais do Acre.

Jéssica Sales, candidata pelo MDB, enfrentou desafios nas eleições de Cruzeiro do Sul, em meio ao enfraquecimento do partido no Acre/Foto: Reprodução

NÃO ESPERAVA

O prefeito Mazinho Serafim (POD) não previa a derrota nas urnas. Confiante na vitória de seu candidato, o deputado estadual Gilberto Lira (UB), Mazinho mobilizou todos os esforços e conduziu uma campanha intensa, superando até mesmo a dedicação que teve em sua própria eleição. No entanto, não se pode esperar que essa derrota desvie Mazinho de seus grandes objetivos. Ele é um político experiente, que conhece bem os desafios do caminho. Não é à toa que conseguiu eleger sua esposa como deputada federal e seu então vice como deputado estadual.

Mazinho Serafim, prefeito de Sena Madureira, encara a derrota nas urnas, mas continua sendo uma figura influente na política local, após eleger sua esposa como deputada federal/Foto: Ascom

FERNANDA HASSEM

Para quem ainda tinha dúvidas, agora é claro que a prefeita de Brasiléia, Fernanda Hassem (PP), se estabeleceu como uma das maiores lideranças do Alto Acre após esta eleição. Ela optou por uma sucessora que não apresentava bom desempenho nas pesquisas e, em um movimento audacioso, decidiu trocar o candidato, lançando seu vice para enfrentar a ex-prefeita Leila Galvão (MDB), que era a favorita nas enquetes. Fernanda se lançou de corpo e alma na campanha de Carlinhos do Pelado (PP), seu vice, pois, almejando uma vaga na Câmara Federal em 2026, sabia que a vitória de seu sucessor era fundamental. E assim, essa estratégia se mostrou bem-sucedida.

Fernanda Hassem emerge como uma das grandes líderes do Alto Acre, após articular a vitória de seu sucessor em Brasiléia/Foto: Ascom

NOVOS TEMPOS 

Em Feijó, as pesquisas indicavam o favoritismo do delegado Railson Silva (REP) como prefeito desde que seu nome começou a circular no ano passado. Ele quebrou uma hegemonia política dominada por antigos caciques locais, saindo vitorioso nas eleições de 2024. As expectativas são altas para sua gestão, e muitos aguardam ansiosamente as mudanças dos novos ventos que sopram na terra do açaí.

O delegado Railson Silva rompe com a antiga hegemonia política em Feijó, trazendo expectativas de mudanças para o município/Foto: Reprodução

TÁ COM MORAL

O governador Gladson Cameli (PP) conquistou prestígio junto à Executiva Nacional do Progressistas ao demonstrar a força do partido no Acre. Sob sua liderança, o Progressistas conseguiu conquistar a maioria das prefeituras e das cadeiras de vereadores no estado, consolidando sua gigante influência política que foi destaque até no site nacional do partido.

COMEMOROU

O presidente da FIEAC, José Adriano (PP), celebrou sua conquista como deputado federal com um mergulho na piscina. Como primeiro suplente do Progressistas, ele assumirá a cadeira deixada por Gerlen Diniz, que foi eleito prefeito de Sena Madureira.

0 VOTOS

É surpreendente pensar que alguns candidatos a vereador nas eleições deste ano nem votaram em si mesmos. Um detalhe curioso é que a maioria desses candidatos é formada por mulheres, que muitas vezes são essenciais para que os partidos cumpram a cota de gênero. Essa situação levanta questões interessantes de como a figura feminina é usada na política.

DA FICÇÃO A VIDA REAL

A deputada estadual Michelle Mello (PDT) compartilhou uma analogia em suas redes sociais, fazendo referência a filmes como Jogos Vorazes, Star Wars, Matrix e V de Vingança. Ela destaca como, nas telas, o público se alinha à resistência, questionando por que esse entendimento não se traduz na vida real. A analogia de Michelle parece ser uma indireta direcionada à reeleição de seus desafetos políticos, o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (PL), e o prefeito de Plácido de Castro, Camilo Silva (PP).

SURPREENDEU

O ex-presidente da Fundhacre, João Paulo Silva (POD), surpreendeu a todos ao se tornar o candidato mais votado da chapa do Podemos. João Paulo superou nomes conhecidos, como os vereadores Pastor Arnaldo Barros e Hildegard Pascoal, que não conseguiram se reeleger.

João Paulo Silva, ex-presidente da Fundhacre, surpreende ao ser o candidato mais votado da chapa do Podemos, superando figuras políticas tradicionais nas eleições municipais/Foto: Reprodução

EM TARAUACÁ

A eleição para prefeito em Tarauacá foi uma das mais disputadas, resultando na derrota da prefeita Maria Lucinéia (PDT) para o ex-prefeito Rodrigo Damasceno (PP). Essa derrota não apenas encerra o mandato de Néia, mas também indica um futuro complicado para o grupo do ex-deputado federal Jesus Sérgio (PDT), marido da prefeita, que esperava uma vitória para relançar sua carreira política em 2026. Sem o mandato, o desafio se torna ainda mais difícil.

MUDANÇA SIGNIFICATIVA

A Câmara Municipal de Rio Branco passou por uma mudança notável, não apenas com o acréscimo de quatro cadeiras, mas também pela renovação expressiva de seus parlamentares. Apenas sete vereadores foram reeleitos, resultando em uma impressionante renovação de 66%. Das 21 cadeiras, duas continuam ocupadas por mulheres: Elzinha Mendonça (PP), que foi reeleita, e Lucilene da Droga Vale (PP).

PEQUENA FAGULHA 

O PT fez seu retorno à Câmara de Vereadores de Rio Branco com a eleição de André Kamai, mas, em contrapartida, perdeu a única prefeitura que administrava em Xapuri.

OS DESAFIOS DO PSD 

O PSD, sob a liderança do senador Sérgio Petecão, não conseguiu eleger vereadores em Rio Branco. Com apenas um candidato com real potencial de votos, o partido acabou ficando fora da Câmara Municipal, refletindo os fracassos  enfrentados por Petecão nas últimas eleições.

NÃO SERÁ FÁCIL

Com a derrota nos principais colégios eleitorais do Acre, onde o PSD estava presente, o senador Sérgio Petecão (PSD) sabe que enfrentará tempos difíceis pela frente. Com 2026 se aproximando, é fundamental que Petecão saia fortalecido agora para disputar a reeleição. Embora seu partido tenha conseguido eleger um prefeito, quatro vices e vinte e cinco vereadores no interior, os desafios são significativos. Conhecido anteriormente como “100% popular”, Petecão já enfrentou uma derrota nas eleições para o governo em 2022 e agora amarga mais contratempos em 2024, o que pode complicar sua reeleição em 2026.

O senador Sérgio Petecão enfrentou desafios nas eleições de 2024, com o PSD não elegendo vereadores em Rio Branco, e busca se reerguer para 2026/Foto: Reprodução

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2024

•O voto evangélico no Acre já não é uma garantia de sucesso eleitoral, como demonstram diversos exemplos nesta eleição. A utilização de grandes estruturas e da máquina pública se torna cada vez mais comum na campanha de candidatos. Isso é evidente, por exemplo, na eleição dos vereadores mais votados em Rio Branco.

•Contudo, contar com grandes estruturas não assegura uma vitória se não houver, pelo menos, a simpatia da militância contratada. Além disso, pesquisas de intenção de voto não garantem resultados; a verdadeira contagem acontece apenas quando as urnas se fecham.

•Ter padrinhos políticos influentes também não é uma certeza de vitória. A hegemonia política no Acre se torna cada vez mais rara, e o povo tem mostrado que, quando não está satisfeito, expressa sua insatisfação nas urnas.

•Gladson Cameli se destaca como a maior liderança política do Acre nos últimos tempos, enquanto Márcio Bittar tem demonstrado um notável poder de articulação, aproximando-se do governo e garantindo, assim, uma reeleição tranquila em 2026.

•O MDB enfrenta a necessidade urgente de novas lideranças políticas. É preciso que o deputado Jarude entenda que não é o Pablo Marçal. Por fim, o Leão do Juruá já não ruge com a mesma força de antes.

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