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De santa a demônio: como presos usam tatuagens para identificar crimes

Por Metrópoles

As tatuagens dentro do sistema carcerário não são feitas ou usadas para adornar a pele. Pelo contrário, indicam os crimes atribuídos à pessoa marcada com elas, servindo como alerta, no caso de presos perigosos, e também como sinalização para que criminosos sejam punidos, principalmente os envolvidos em crimes sexuais.

Com base em estudos e cartilhas de forças de segurança, o Metrópoles elencou os símbolos mais usados por presidiários para identificar assassinos, ladrões e estupradores.

A análise do tema, no Brasil, começou na década de 1920 com o médico psiquiatra José de Mello Moraes. Ele decidiu catalogar as tatuagens de presos na recém-inaugurada Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte paulistana.

Em 20 anos, ele produziu 2.600 fichas. Elas contribuem para a compreensão dos significados das tatuagens nas cadeias, algumas ainda mantidas e outras já em desuso.

Tatuagens no sistema carcerário revelam códigos ocultos sobre crimes e hierarquias entre detentos/Foto: Reprodução

“Detentatuadores”

As tatuagens de cadeia são feitas sem cuidados de higiene, com riscos de contaminação por doenças.

As engenhocas usadas pelos detentos tatuadores, os “detentatuadores”, podem ser feitas com pedaços de arame, agulhas, pregos e até clips de papel. Todos usados para furar a pele com tinta, geralmente de caneca esferográfica nas cores verde, azul, preta e vermelha.

Tipos e desenhos de tatuagens:

Tatuagem de Nossa Senhora Parecida, em tamanho pequeno, indica preso por homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte). Se estiver desenhada no peito, é um talismã de proteção.

O desenho, quando grande e nas costas, significa que o presidiário foi estuprado no cárcere. Em alguns casos, também marca estupradores.

Muito comum em forças policiais de elite, como no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) carioca, a faca na caveira significa, no crime, que a pessoa tatuada com ela já matou policiais, civis ou militares.

Feita em qualquer parte do corpo, geralmente no antebraço, criminosos gostam de ostentá-la na cadeia para intimidar e impor respeito aos outros presos. Já a caveira, sem a faca, identifica homicidas. Outro símbolo usado por assassinos de policiais é o palhaço.

O significado da cruz com velas, quando tatuada na cadeia, indica presos de alta periculosidade.

Quando está em braços e ombros, mostra que a pessoa já foi condenada e, se feita nas costas, significa que o criminoso vai até as últimas consequências.

Criminosos com tatuagens de palhaço e “121” são presos pela PCDF

A folha da maconha indica que o tatuado é traficante ou dependente químico.

Uma mulher nua, com a genitália a mostra, significa que o preso já usou drogas injetáveis. Já o saci Pererê, mais rara nos dias atuais, identifica traficantes de droga poderosos do lado de fora das grades e respeitados no sistema.

A carpa, geralmente nadando para baixo, mostra que o preso, além de envolvido com o tráfico, também é integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Os homossexuais costumam sofrer violência sexual no sistema e são identificados com símbolos como beija-flor, coração transpassado por uma flecha, coração com a inscrição “amor de mãe”, borboleta ou ainda a imagem de São Sebastião.

Os símbolos podem ser feitos também em presos por estupro, que passam a ser vítimas do mesmo tipo de crime pelo qual foram condenados.

A este tipo de detento ainda pode ser tatuada uma pinta no rosto, uma marca de que o preso conta com um “marido” na cadeia.

Estupradores são marcados com a imagem de uma sereia.

Os demônios identificam criminosos que matam por prazer, considerados psicopatas. É um alerta para que os outros presidiários tenham cautela ao lidar com eles.

O personagem dos filmes de terror Chuck, o boneco assassino, também é usado para marcar criminosos com esse perfil.

Assaltantes considerados traiçoeiros, covardes e perigosos são tatuados com serpentes.

Tatuar pequenos pontos nas mãos também indica quais os crimes foram praticados pelo preso, conforme a quantidade feita.

Um ponto identifica ladrões de carteira; dois pontos, estupradores; três, traficantes; quatro, criminosos especializados em furtos; e cinco, assaltantes. Dez pontos em formato de cruz identificam assassinos e chefes de quadrilha.

Os presos também costumam tatuar datas e nomes para lembrar de momentos marcantes no crime e até homenagens a comparsas.

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A pomba identifica invasores de residência e a águia o anseio por liberdade, feita geralmente no período de cumprimento de pena.

Receio dos presos

O pesquisador e servidor Cezinando Vieira Paredes entrevistou 150 presos curitibanos, constatando que eles evitam falar sobre as tatuagens.

O levantamento ajudou a concluir que entre os criminosos “há um grande receio” em comentar sobre o significado “real” das tatuagens dentro das prisões.

“Por se tratar de um código intramuros, o qual deve ser respeitado e seguido, aquele que falar corre risco de vida, devendo seguir a lei do silêncio”, destaca o pesquisador.

Cezinando acrescenta, ainda, que presos envolvidos com crimes sexuais costumam afirmar que fizeram as tatuagens por “acharem bonitas”. Esse perfil de presidiário, geralmente, foi tatuado contra a vontade.

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