O dólar encerrou a sexta-feira valendo R$ 5,70, a maior cotação em quase três meses, depois de flertar com este patamar desde a sexta-feira passada. Só em outubro, a moeda valorizou 5%, saindo dos R$ 5,43 do último dia de setembro, até o valor de fechamento de hoje.
A atual cotação não era alcançada desde o último dia 5 de agosto, quando os mercados do mundo inteiro enfrentaram um dia de estresse único, no dia que ficou conhecido como segunda sangrenta. Naquele dia, o dólar encerrou o dia valendo R$ 5,74.
No acumulado da semana, a divisa registrou leve variação, de 0,12%. O dólar foi influenciado desde segunda-feira por indicadores da economia americana. Os novos dados corroboraram com a tese de analistas. Eles apostam que o Fed, o banco central americano, cortará o juros de forma mais branda já a partir da próxima reunião, que acontece no dia 6 de novembro.
Para Marco Maciel, economista-chefe do Banco Fibra, a divisa, que vinha sofrendo forte influência do lado doméstico, agora possui um aumento do impacto internacional. Isso porque tanto a disputa eleitoral nos EUA como dados recentes da atividade daquele país, que vem indicando uma maior resiliência, demonstram que o dólar tende a seguir mais forte:
— Primeiro há o risco de uma atividade num patamar relativamente mais forte, haja visto os últimos dados de mercado de trabalho. Segundo, a inflação norte-americana, em função da atividade em patamar elevado, que se acomoda num ritmo de atividade superior do que o Fomc gostaria, acaba elevando a parte curta (da curva de juros). E, na parte mais longa, há os efeitos de uma incerteza maior com relação a alguns impulsos de choques de preços na economia americana caso Donald Trump seja eleito — diz Maciel.
A percepção do especialista é que essa resistência da atividade americana deve elevar o juro americano a um patamar mais elevado por mais tempo. E, com pautas protecionistas na manga, como taxação maior a importados, um eventual retorno do republicano tende a permanecer com o juro básico elevado por mais tempo.
Mas, para o analista, os investidores seguem na expectativa do anúncio de novas medidas para contenção de gastos no país. As dúvidas persistentes do mercado sobre a condução da política fiscal seguem contribuindo com o patamar.
— Tanto o lado externo quanto o doméstico possuem forças igualmente importantes na determinação do câmbio nesse patamar. Por aqui, a incerteza continua vingando, com mercado aguardando o fim do segundo turno para que vejamos o anúncio das mudanças estruturais nos gastos — explica Maciel.
Ele se refere ao planejamento do Ministério da Fazenda de anunciar medidas estruturais de contenção de gastos após o segundo turno das eleições municipais, marcado para o próximo domingo, 27.
Segundo Maciel, uma “surpresa positiva” do anúncio não deve diminuir muito o atual patamar diante da pressão internacional:
— Ainda vejo o mercado com certa cautela em relação a apresentação dessa abordagem mais estrutural dos gastos no Brasil. Se (o anúncio) frustrar, eu vejo o juro longo acima de 13%, o que equivale a um câmbio mais próximo de R$ 5,80. Se for uma grata surpresa, o câmbio pode cair. Mas o cenário externo é um limite inferior para apreciação do real — ele diz, elencando que vê um “piso” de até R$ 5,50.
Ibovespa não se sustenta, mesmo com alta da Vale
O balanço do terceiro trimestre da Vale, divulgado na quinta à noite e melhor do que o esperado por analistas, elevou as ações da mineradora nesta sexta-feira. Mas, apesar da participação de quase 12% no índice, a valorização do papel não foi suficiente para reverter a baixa do índice.
Diante de uma maior aversão a risco global, também impactados pelos fatores Trump e juro americano, o Ibovespa teve queda de 0,13% nesta sexta, aos 129.893 pontos. Na semana, o índice desvalorizou 0,46%.
— O destaque do dia foi o balanço positivo da Vale, que segurou uma queda que seria maior, diante do peso dela no índice. Há um mau humor no mercado e vemos isso na preocupação com inflação, que impactou os juros (futuros) — afirmou Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
A apreciação dos juros futuros impactaram empresas voltadas ao mercado doméstico, que são mais sensíveis ao movimento, como a Yduqs, que caiu 3,17%, a Magazine Luiza, que cedeu 3,69% e o Assaí, que desvalorizou 2,68%.