“Minha vida está um inferno”, disse ao Metrópoles a mãe do menino de 11 anos que foi exposto por Pablo Marçal (PRTB), ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, por lamentar o fato de um garoto com essa idade não “conseguir escrever”.
Após a repercussão das declarações de Marçal, o menino passou a ser chamado de “analfabeto” e de “burro” por colegas, segundo a família. Nesta terça-feira (8/10), ele chegou a sofrer uma agressão na escola por causa disso.
Rosana, que é motorista de aplicativo, contou que não está conseguindo trabalhar porque está com medo que algo possa acontecer com seu filho. Ela teme pela vida do menino. “É capaz de meu filho morrer na escola”.
A mãe do menino também lamentou o fato de a repercussão do vídeo ter afetado apenas a sua família. “Ele [Marçal] está lá, vivendo a vida em paz, e as consequências estão só aqui.”
O problema atingiu também o filho mais velho de Rosana, que está sendo julgado pelos colegas por “não ter ensinado o irmão a ler”. Segundo a mulher, o jovem já venceu Olímpiadas de Matemática, ensina xadrez e vai muito bem na escola. A mãe disse que nunca teve problemas com ele, até o início das provocações ao irmão. “Ele teve que sair da aula para trazer o irmão depois do soco”, disse se referindo à agressão física.
Rosana relatou que, após a divulgação do vídeo, no dia 26 de setembro, só mandou o filho para a escola duas vezes, por causa da vergonha. Na primeira, tudo correu bem. Mas, nesta terça, ocorreu a agressão.
Em vídeo obtido pelo Metrópoles, o menino, que está no 7º ano, relatou que foi chamado de “analfabeto” por um garoto mais velho, do 9º ano. Ele contou que se defendeu após o xingamento e o mais velho reagiu dando um murro em sua cara.
Relembre o caso
O caso ocorreu no dia 25 de setembro passado e revoltou a família de um menino de 11 anos devido à exposição da criança feita por Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, nas redes sociais e até em um programa de TV. Nos vídeos, o influencer lamenta o fato de um garoto com essa idade não “conseguir escrever”.
A repercussão das declarações de Marçal fez com que o menino passasse a ser chamado de analfabeto por colegas, segundo a família. Em um áudio enviado à mãe pelo garoto, ao qual o Metrópoles teve acesso, ele chora por estar sendo alvo de chacota.
O episódio envolvendo a criança ocorreu durante uma agenda de campanha de Marçal na zona norte de São Paulo. Em meio a uma caminhada, Marçal pediu que meninos que acompanhavam o grupo assinassem o gesso no seu braço, que ele vem usando desde a cadeirada que levou de José Luiz Datena (PSDB), no debate da TV Cultura, no início do mês. O influencer pediu para o garoto escrever o nome do bairro: Morro Doce, na periferia de Perus.
A criança de 11 anos mostrou dificuldade para escrever, e Marçal soletrou as duas palavras. A cena foi gravada em vídeo e compartilhada pelo candidato em suas redes sociais, além de ter sido mencionada durante entrevista o candidato à Band News (veja abaixo).
Marçal usou o caso para ilustrar “o péssimo ensino no Brasil” e disse que a situação do menino, a quem chama pelo nome, “partiu seu coração”. “Poxa, mano, um garoto de 11 anos de idade não está conseguindo escrever”, disse, na entrevista.
Em conversa com o Metrópoles, Vlademir da Mata Bezerra, advogado da família do menino, afirmou que a criança é diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e está fazendo tratamento psicológico.
Além disso, segundo o advogado, o garoto aguarda por avaliação de um neurologista que pode confirmar o diagnóstico de autismo.
Veja:
Os vídeos publicados por Marçal e as entrevistas dadas após o acontecimento repercutiram muito no bairro onde o menino mora e, segundo o advogado da família, ele tem sido chamado de “analfabeto” por colegas e amigos.
A defesa da família disse que, quando o garoto vai brincar na rua, os amigos falam que ele não sabe escrever. No áudio enviado à mãe, o menino chora e se queixa da situação:
“Mãe, sabia que eu estava muito feliz quando eu tinha visto o Marçal? Mas eu pensei que ele não ia falar para todo mundo que eu não sei ler, não sei escrever. Agora, toda hora que eu estou indo para a rua, tem um monte de gente me xingando de analfabeto”, diz o menino no áudio. É possível ouvi-lo chorando ao final da mensagem de voz.
O advogado orientou a família a procurar o Conselho Tutelar, além de fazer uma denúncia junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e entrar com uma ação de indenização por danos morais contra o candidato do PRTB.
O Metrópoles procurou a campanha de Pablo Marçal para falar sobre o caso, mas ainda não obteve um retorno. O espaço está aberto para manifestação.