Ao menos quatro grandes incêndios, que somam uma área de influência de 625 mil hectares, mais de cinco vezes a cidade do Rio, ameaçam o Parque Nacional do Pantanal e comunidades que vivem no seu entorno, inclusive populações indígenas. Na última sexta, um raio deu origem ao fogo, segundo o Ibama, e desde então as chamas estão sendo combatidas por brigadistas do instituto, assim como do ICMBio e do Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
A fronteira entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é um dos grandes locais de preocupação do momento no país: quatro cidades dessa região concentram um terço de todas as queimadas do Brasil em outubro. Nessa área de fronteira, mais precisamente a sudoeste de Cuiabá (MT) e ao norte de Corumbá (MS), há ao menos quatro grandes incêndios que, somados, têm uma área de influência de 625 mil hectares. Pelo menos 95% desse território já pode ser considerado área queimada.
— O fogo é tão intenso que está sendo registrado por um satélite geoestacionário que está a 35 mil km de distância da superfície terrestre — explica Henrique Bernini, pesquisador de sensoriamento remoto.
O maior evento acontece na Barra do São Lourenço, ao norte de Corumbá. O fogo começou por causa de um raio que caiu na floresta na última sexta-feira, segundo o Ibama. No final de semana, a linha de fogo chegou a uma extensão de 40 km. Agora há uma linha de 20 km e outra de 25 km.
Além da floresta, a preocupação é com os moradores da comunidade local, onde vivem cerca de 100 pessoas. Por isso, os brigadistas estão criando aceiros (faixa onde a vegetação é removida para impedir a propagação de fogo) no entorno das casas. A situação ainda é grave, mas há previsão de chuva para esta sexta (18), o que pode amenizar a situação.
— Estamos perguntando quem tem problema de saúde para priorizar essas casas para aceiros. Tem bastante idoso, gente com problema respiratório — afirmou Manoel Garcia, chefe da Brigada Alto Pantanal, do IHP.
Os brigadistas também estão monitorando a área dentro do Parque Nacional. Uma das preocupações é a população de tuiuiú, também conhecidos como jaburu, ave típica do Pantanal.
— Estamos monitorando, encontramos três filhotes em um ninho, e o fogo está a 750 metros de lá. Amanhã vamos cedo para lá fazer um aceiro no entorno, para não deixar o fogo chegar no ninho — disse Garcia.
Nessa área de combate, há seis brigadistas do IHP, além de 15 do ICMBio e 38 do Prevfogo/Ibama. Chefe de operações do Prevfogo / Ibama, Charles Pereira explicou que há duas frentes de combate: uma para impedir que o fogo destrua a estrutura e a sede do Parque Nacional, para onde o incêndio está direcionado; e uma segunda para proteger a comunidade de Barra do São Lourenço.
Os brigadistas, que contam com apoio de indígenas, estão usando barcos e helicópteros, mas os fortes ventos dos últimos dias foram um problema.
— Temos a preocupação para que o fogo não pule o Rio Paraguai e chegue na Serra do Amolar, onde vive a população indígena Guatós. Então estamos fazendo trabalho de combate às chamas e de proteção às comunidades e sede do parque, e também monitoramento por satélite — disse Pereira, que lamenta a situação atípica. — O fogo vem causando destruição principalmente para a fauna. Aqui é um verdadeiro corredor ecológico.
Recordes negativos no Mato Grosso
As quatro cidades com mais focos de queimadas no Brasil em outubro estão no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul: Poconé (MT), Barão de Melgaço (MT), Cáceres (MT) e Corumbá (MS). Juntos, esses municípios, que circundam o Parque Nacional do Pantanal, reuniram 1.712 focos nos 17 primeiros dias de outubro. Isso representa um terço (33.5%) de todo o fogo do país no período.
Entre os estados, Mato Grosso lidera os números no mês: 3.181 focos (17,3% do total). Com isso, a proporção do fogo no Pantanal em relação ao resto do país aumentou nas últimas semanas. Considerando o ano inteiro, o bioma teve 6% das queimadas do Brasil. Mas só em outubro a porcentagem subiu para 9.6% do total.