O alto escalão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, está “escalando sozinho” uma crise com o Brasil. A possibilidade de uma resposta à série de ataques a Lula e à diplomacia brasileira está sendo analisada, mas interlocutores envolvidos na discussão acreditam que o Palácio do Planalto e o Itamaraty devem manter o silêncio, para não perder a interlocução que têm com Maduro e com a oposição do país caribenho.
Nesta quinta-feira, o governo venezuelano convocou o encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em Caracas, Breno Hermann. O país também chamou imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce a representação da Venezuela em Brasília.
Com a medida, que na linguagem diplomática significa uma forma de demonstrar descontentamento com o país de origem do diplomata, Maduro reforça seu inconformismo com o veto informal do Brasil, na semana passada, ao ingresso da Venezuela no Brics.
Apesar desses movimentos que, na diplomacia, podem preceder até o rompimento de relações, o governo brasileiro não pensa, neste momento, fazer o mesmo.
Conforme explicou um importante diplomata, o governo Maduro está, até aí, atuando “dentro da coreografia diplomática”. Adotou o “pacote convencional”, ao convocar o embaixador estrangeiro para esclarecimentos e o nacional para consultas.
Questionado se não haveria um limite para as ofensivas de Maduro, que se superado levaria o governo brasileiro a reagir, o interlocutor respondeu que Maduro não seria insensato a ponto de testar esse limite. A avaliação é que ele está “totalmente isolado”.
Um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, divulgado nesta quarta-feira, informa a convocação de Hermann — a embaixadora Glivânia Oliveira não se encontra no país — e faz duras críticas ao assessor para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, chamado de “mensageiro do imperialismo norte-americano”. Diz, ainda, que ele tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”.
Amorim quer manter interlocução
A palavra “interlocução” foi usada várias vezes pelo assessor especial de Lula, na última terça-feira, para justificar a posição do Brasil de se manter em silêncio e deixar Maduro e seus auxiliares falando sozinhos.
Ao participar de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Amorim admitiu que existe “mal-estar” nas relações com o vizinho, lembrou que os dois países têm uma fronteira de cerca de 2 mil quilômetros e disse que o Brasil precisa insistir em ser um interlocutor junto à Venezuela, apesar dos atritos diplomáticos ocorridos após a eleição presidencial no país.
— Se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], temos de manter uma interlocução. Estamos mantendo uma interlocução, mas diminuiu o nível dessa interlocução desde a eleição — afirmou Amorim à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.