Certa manhã, Ana concordou com uma ideia fixa: “Não sou boa o suficiente.” Ela se olhou no espelho e, sem perceber, deixou a insegurança moldar seus pensamentos. No trânsito, cada erro dos outros parecia reforçar a certeza de que o mundo era hostil, no trabalho, a mínima crítica soava como confirmação de que não estava à altura. Este ciclo de pensamentos negativos pode parecer familiar. E é um fenômeno comum, porém enganoso, como alertam especialistas como a psicanalista Ana Suy. Em suas reflexões, ela enfatiza a importância de questionarmos nossos pensamentos, especialmente quando nos levam a conclusões que nos parecem enganosas e destrutivas.
Os pensamentos, segundo Suy, têm o poder de nos induzir ao erro ao aparecerem revestidos de “verdades absolutas”. Essa tendência foi abordada também pelo filósofo Clóvis de Barros, que sugere que o fluxo de pensamentos automáticos precisa ser examinado e, quando necessário, contradito. Para ele, somos muitas vezes enganados por lições precipitadas, influenciados pelo nosso humor, por experiências passadas ou pelo medo de fracassar. Assim como Ana, qualquer um de nós pode sofrer e ser vítima de uma narrativa interna que sabota.
É curioso que o cérebro funcione de maneira a preservar memórias que apoiam as crenças que já temos. Essa característica foi chamada de “viés de confirmação” e, sem controle, pode fortalecer a sensação de estarmos sempre certos — mesmo quando estamos errados. É aqui que entra o conselho: “Não acredite em tudo o que você pensa.” Ele é estranho, mas se mostra poderoso quando começamos a questionar nossas ideias, e perguntar se elas são realmente verdadeiras ou se simplesmente refletem nossos medos e fracassos.
De volta à história de Ana: após meses de autocrítica e desânimo, ela decidiu procurar ajuda. Com o apoio de uma terapeuta, começou a desafiar cada pensamento negativo que a cirurgia. Ao aceitar como “verdade absoluta” a ideia de que não era boa o suficiente, Ana aprendeu a refletir: “Será que isso é realmente verdade? Que provas eu tenho disso?” A prática foi difícil no início, mas logo trouxe mudanças significativas. Ao confrontar a voz crítica interna, Ana se deu conta de que muitos dos seus medos eram ilusões criadas por pensamentos destrutivos.
Quando nos conscientizamos de que nossos pensamentos não são sempre reais, nos damos a oportunidade de criar novas interpretações para os desafios do cotidiano. Muitos dos filósofos existencialistas, como o brasileiro Mário Cortella, falam sobre a importância de sermos “autores da nossa própria história” — o que inclui escolher quais pensamentos devemos realmente alimentar.
Não esqueçam jamais em Provérbios 4:23, que diz: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” Nesse contexto, guardar o coração pode significar cuidar daquilo que permite que ressoe em nossa mente. O que você pensa em deixar florescer? O que precisa ser contestado?
Assim como Ana, todos podemos aprender a questionar nossas certezas internas, abrir espaço para novas perspectivas e, com isso, experimentar mais leveza e desvantagens em nossas vidas. A mente é uma ferramenta poderosa, mas devemos lembrar que ela é, acima de tudo, nossa.
Maysa Bezerra
Storyteller e Estrategista