O verão está chegando e a guerra pelo copo do brasileiro, ao que tudo indica, está apenas começando.
Neste ano, o consumo per capita de cerveja no Brasil vem se aproximando de níveis vistos em países desenvolvidos.
Embora o crescimento do PIB, o desemprego em queda e o aumento da renda disponível tenham contribuído, outro fator que tem está por trás do aumento é a abordagem voltada para o volume, com preços mais baixos, adotada principalmente pelo Grupo Petrópolis.
Desde 2019, a empresa expandiu sua capacidade de 38 milhões para 55 milhões de hectolitros, mas seus volumes caíram cerca de 30% até o ano passado, dado os problemas financeiros que levaram à recuperação judicial da empresa.
Agora, com os volumes crescendo 10% em 2024 e acelerando nos últimos meses, a empresa “parece estar no caminho certo para alcançar uma utilização de capacidade próxima a 50% este ano (contra 41% no ano anterior)”, observa o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), em relatório.
Esse aumento se deve a uma estratégia agressiva de preços, crucial para recuperar volumes e restaurar a alavancagem operacional.
A empresa adotou por regra, especialmente no canal de varejo, vender seus rótulos entre R$ 0,10 até R$ 0,20 mais baratos do que os das concorrentes Ambev e Heineken, contaram ao INSIGHT pessoas próximas à operação.
Mas, e se a Petrópolis fosse excluída das contas, quanto o volume de cerveja cresceria? O time do BTG se propôs a fazer as contas em relatório distribuído aos clientes.
“Se excluirmos os volumes de cerveja do grupo Petrópolis do total do mercado, o crescimento anual cairia de 4,0% para 3,3%. Dos cerca de 370 milhões de litros adicionados em 2024, estimamos que 100 milhões (30%) sejam da Petrópolis”, escrevem.
A contribuição do grupo foi ainda mais evidente de abril a agosto: 60% dos 240 milhões de litros adicionais. Sem a participação da Petrópolis, o crescimento no período teria sido de apenas 2,0% em vez dos 4,4% reportados.
Quem perde?
O grupo em recuperação judicial tem conseguido ganhar mais fatias do mercado, mas o grande perdedor no cenário de disputa acirrada entre as três maiores cervejarias do país não foi a Ambev – como se poderia esperar pelo portfólio em várias categorias e pelo tamanho de vendas.
De acordo com números da Nielsen, consultoria especializada em dados de consumo, de julho a agosto de 2024, as vendas da Ambev aumentaram 3,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior, com queda de 0,9% nos volumes e alta de 4,4% nos preços.
A Heineken apresentou queda de 1,8% nas vendas, com volumes recuando 6,7% e preços subindo 5,2% no mesmo período. Por outro lado, as vendas da Petrópolis cresceram 17,3% ano a ano, com volumes em alta de 18,4% e preços reduzidos em 0,9%.
“Em termos de participação em valor, de julho a agosto, a Ambev ganhou 28 pontos-base, a Petrópolis 30 pontos-base, enquanto a Heineken perdeu 58 pontos-base”, observou o time do Citi em relatório da última semana.
Agora, mesmo que o cenário macroeconômico positivo ajude, a postura promocional da Petrópolis pode levar a receita por hectolitro a crescer menos que a inflação –ameaçando a capacidade de precificação da Ambev e Heineken, que vem focando em proteger suas margens.
Pelos números da Nielsen, na categoria premium e core plus a Ambev se deu melhor no período mais recente. O volume de Corona cresceu 53%, o de Budweiser, 23%, e o de Spaten,16%, em agosto.
Já a Heineken não viu mudanças no volume do seu principal rótulo entre agosto de 2023 e agosto de 2024, embora acumule um aumento de 9,7% em 12 meses.
Por outro lado, marcas como a Skol da Ambev (-3,4%) e a Kaiser da Heineken (-6,0%) tiveram desempenho abaixo do esperado, segundo o Citi. Nas contas do banco, no mesmo período, a Petra, da Petrópolis, cresceu nada menos do que 30%.
“A inflação da cerveja no Brasil ainda não reflete o ambiente competitivo mais acirrado, mas podemos ver isso em um futuro próximo, à medida que o setor enfrenta dificuldades para aumentar os preços no segundo semestre de 2024”, conclui o time do BTG.