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Pesquisador da Ufac diz que poluição no estado reduz expectativa de vida de acreanos

Por Tião Maia, ContilNet

O pesquisador norte-americano naturalizado brasileiro Irving Foster Brown, da Universidade Federal do Acre (Ufac), alerta que o impacto da poluição no Acre, nos últimos meses, é fator capaz inclusive de diminuir a expectativa de vida dos acreanos e de outras pessoas que vivem no estado. O pesquisador lembrou que no último dia 23 de setembro, uma segunda-feira, os níveis de qualidade do ar chegaram a 40 vezes mais que o índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Vista das duas pontes no centro de Rio Branco, e do Rio Acre, em período crítico de fumaça e seca/Foto: Juan Diaz

O alerta do pesquisador foi feito na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), durante audiência pública, na última segunda-feira (21), na qual os deputados discutiram a seca extrema do Rio Acre e as mudanças climáticas. Foster Brown mencionou que a Universidade de Chicago, nos EUA, atualmente, aponta que o Acre é uma das áreas mais impactadas do mundo com a poluição e com os fenômenos climáticos.

Os dados da academia norte-americana, segundo o pesquisador, não são apenas de 2024, mas referentes aos últimos 20 anos. Segundo ele, os dados apontam algo ainda mais assustador: os acreanos perderam entre dois e quatro anos de expectativa de vida.

“Faço a pergunta: quanto vale um ano da sua vida? Se alguém tenta tirar um ano da sua vida, como você se sente? Que tal dois anos? Agora, multiplica isso pelo número de pessoas que nós temos na região, quase um milhão de pessoas. Então, se valer um ano é uma coisa muito importante, imagine um milhão de anos. Eu não queria aumentar o medo, porque, às vezes, sou chamado de doutor apocalipse”, disse o pesquisador.

O pesquisador citou dados da plataforma internacional IQAir, que monitora a qualidade do ar globalmente. Em setembro, a concentração de partículas finas com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros, (PM 2,5) atingiu alarmantes 605 microgramas por metro cúbico (µg/m³). O limite recomendado pela OMS é de 15 µg/m³.

Foster chegou ao Acre em 1988, na condição de estadunidense querendo conhecer a Amazônia. “Na época, a concentração de CO2 era de 350 partes por milhão. Depois de 32 anos que estou aqui no Acre, morando aqui, hoje ela é de 420. Aumentou 70. O potencial de ter um aumento de mais 70 ou mais ppm, portanto, é muito grande. Isso significa que os extremos que a gente está vendo vão ficar mais severos e mais frequentes”.

Segundo ele, a situação pode ser modificada se forem consideradas as experiências das pessoas que vivem na floresta, com respeito ao meio ambiente. “O desmatamento, no nível regional, na parte leste da Amazônia, afeta as chuvas aqui. E afeta as chuvas principalmente na época seca. E o que estamos vendo é um prolongamento, nos últimos 30 anos, do período de seca. É uma coisa que está dentro do nosso controle, mas ainda não a controlamos. O que acontece hoje é porque deixamos acontecer”, alertou.

Mas o pesquisador também deu demonstrações de que não perdeu ainda a esperança. “Nós podemos ter uma virada. Uma etapa impulsiona outra. Nós temos uma cadeia de efeitos que podemos mudar, como cuidar das matas ciliares do Rio Acre, por exemplo. Este é o nosso desafio”, ressaltou.

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