Está marcado para esta terça-feira (22), em Pelotas, na Região Sul do Rio Grande do Sul, o velório coletivo das vítimas do acidente com nove mortos ocorrido na noite de domingo (20) na BR-376, em Guaratuba (PR). A cerimônia será realizada na sede campestre do clube Centro Português 1º Dezembro. Até a atualização mais recente desta reportagem, não havia confirmação do horário do velório.
O Ministério do Esporte providenciou o translado dos corpos junto à Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo a Aeronáutica, será usado um avião C-105 Amazonas, do 1º Esquadrão do 9º Grupo de Aviação – Esquadrão Arara. Ele deve pousar em Pelotas a partir do começo da tarde.
Os mortos são sete atletas, com idades entre 15 e 20 anos; o coordenador do time; e o motorista da van que transportava a delegação para um torneio realizado em São Paulo.
- Oguener Tissot (coordenador), 43 anos, natural de Pelotas
- Samuel Benites Lopes, 15 anos, natural de São José do Norte
- Henry Fontoura Guimarães, 17 anos, natural de Pelotas
- João Pedro Kerchiner, 17 anos, natural de Pelotas
- Helen Belony, 20 anos, natural de Pelotas
- Nicole da Cruz, 15 anos, natural de Pelotas
- Angel Souto Vidal, 16 anos, natural de Pelotas
- Vitor Fernandes Camargo, 17 anos, natural de Pelotas
- Ricardo Leal da Cunha (motorista), 52 anos
As vítimas eram vinculadas à iniciativa “Remar para o Futuro”, realizada em parceria com o clube Centro Português e a Academia de Remo Tissot, em um projeto que contava com o apoio da Prefeitura de Pelotas e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Duas pessoas sobreviveram ao acidente: o atleta João Pedro Milgarejo, de 17 anos (veja mais detalhes abaixo), e o motorista do caminhão envolvido no acidente. Os dois já receberam alta do hospital.
‘Projeto da vida’
Foi com o objetivo de incentivar a prática do remo em Pelotas que Oguener Tissot, de 43 anos, idealizou o projeto “Remar para o Futuro”. O acidente chocou familiares.
Primo de Oguener, Fábio Arduim lamentou a perda do coordenador do projeto. “O nome do projeto era o Oguener. Esse projeto era a vida dele”, disse.
‘Sonhos destruídos’
Familiares e amigos das nove vítimas do acidente se reuniram após a tragédia. Um centro de acolhimento foi montado na sede do clube onde os adolescentes treinavam.
Ex-integrante do projeto “Remar para o Futuro”, Davi Rubira, foi ao local confortar os familiares das vítimas. “É inacreditável. Não tem palavras para descrever o que está todo mundo sentindo aqui. A gente só quer apoiar, confortar todos os familiares. Como a gente já falou, foram muitos sonhos destruídos, dilacerados”, lamentou.
Vizinha do clube, a terapeuta ocupacional Roberta de Souza classificou o time como uma “gurizada maravilhosa”. “Meninas, meninos com um futuro pela frente. Estou muito chateada mesmo. A gente se encontrava seguido aqui”, falou.
‘Um milagre’
Ainda em choque e com sentimentos conflitantes, a mãe de João Pedro Milgarejo, o único integrante da equipe de remo que sobreviveu ao acidente , diz sentir gratidão pela vida do filho, mas o pesar pela perda dos outros jovens.
João Pedro teve poucas escoriações e nenhuma lesão grave, o que a mãe Graciele Timm Nolasco atribui a “um milagre”. “Graças a Deus ele tá bem. Ele é um milagre. Minha definição hoje é gratidão, porque meu filho nasceu de novo. Só o psicológico dele que a gente vai ter que tratar. Vai ser muito difícil”, desabafou Graciele.
Até a tarde de segunda-feira, João Pedro não sabia da morte dos colegas a pedido da mãe. “Eu pedi para todos que não falassem nada para ele. O emocional dele vai [ficar] muito abalado”, afirma a mãe.
O jovem atleta, de 17 anos, dedicou a medalha de ouro conquistada no Campeonato Brasileiro ao pai falecido e à mãe. O registro com a declaração do adolescente ao lado de três companheiros foi compartilhado no perfil oficial da Confederação Brasileira de Remo.
Manifestações de pesar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte da delegação. “Não há palavras que possam descrever a dor de perder um filho ou neto. A dor é irreparável. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”, disse.
Natural de Pelotas, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que “esses jovens eram exemplos de dedicação, superação e orgulho para todos nós. Estavam no auge de suas carreiras, conquistando medalhas e levando o nome do nosso Rio Grande ao topo em uma competição de grande relevância nacional, o Campeonato Brasileiro Unificado, disputado em São Paulo“.
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), decretou luto oficial de sete dias. “Eles partiram de forma inesperada, deixando uma dor imensa em todos nós. Que possamos encontrar consolo nas lembranças que eles nos deixaram, e na esperança de que seu legado de amor, determinação e companheirismo continue vivo em cada um de nós, inspirando nossas ações e nossas vidas”, disse.
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP), destacou que quatro vítimas eram beneficiárias do programa Bolsa Atleta. “Em nome de toda a comunidade esportiva, expressamos nosso profundo pesar por essa tragédia que afeta a todos. Desejamos força e coragem para enfrentarem essas perdas irreparáveis e colocamos o Ministério do Esporte à disposição para auxiliar naquilo que for necessário”, falou.
A presidente da Confederação Brasileira de Remo, Magali Moreira, divulgou uma nota em nome da entidade em que “se solidariza com a dor de amigos familiares dos atletas, da equipe do Centro Português e Remar para o Futuro, atingidos pela tragédia”.
O clube de futebol Grêmio Esportivo Brasil, que perdeu três integrantes de sua delegação em um acidente de ônibus em 2009, manifestou pesar pela tragédia. “Neste momento difícil e de grande dor, desejamos força aos familiares, amigos e toda a comunidade pelotense”, afirmou, em nota.
O Esporte Clube Pelotas também lamentou o acidente. “O Esporte Clube Pelotas está de luto pela tragédia envolvendo os atletas do projeto vitorioso Remar para o Futuro que retornava para cidade após competição em São Paulo”, disse a entidade.
Grêmio, Internacional e Juventude, clubes gaúchos da série A do Campeonato Brasileiro de futebol, também se solidarizaram diante da tragédia.
O acidente
O acidente ocorreu após uma carreta contêiner tombar sobre a van que transportava a equipe de remo na BR-376, por volta das 21h40 de domingo, em Guaratuba, no litoral do Paraná.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente aconteceu no km 665, sentido Santa Catarina. A van saiu de São Paulo e tinha como destino o município de Pelotas. Por conta do acidente, a rodovia ficou interditada por 15 horas e chegou a registrar 22 quilômetros de congestionamento. A pista no sentido Santa Catarina foi liberada às 11h57 de segunda, de acordo com a concessionária Arteris Litoral Sul.
A PRF informou que a suspeita é que a carreta perdeu os freios e colidiu na traseira da van. Com o impacto, a van bateu em outro carro, rodou na rodovia e, em seguida, foi arrastada para fora da pista pelo caminhão, que tombou sobre ela.
Investigação
A Polícia Civil do Paraná (PC-PR) investiga se a carreta que tombou sobre uma van que transportava integrantes de um time de remo perdeu os freios antes do acidente. A polícia pretende ouvir o motorista do caminhão, um homem de 30 anos.
“O procedimento vai ser devidamente instaurado pela Delegacia de Delitos de Trânsito de Curitiba, inicialmente pela prática do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor. Já temos a identificação do condutor do caminhão, que provavelmente será ouvido nas próximas horas para que possa contribuir no esclarecimentos dos fatos”, disse o delegado Edgar Santana.