Rio Branco, a capital do Acre, anteriormente chamada de Empresa, designação original da sede do seringal assim batizado, e mais tarde de Penápoles, em homenagem ao 6º presidente da República Afonso Pena, que governou o país de 1847-1909, deve seu nome ao diplomata José Maria Paranhos Fleury Júnior.
Chamado de Barão do Rio Branco, em homenagem a seu pai, o Visconde do Rio Branco, que serviu na corte de dom Pedro II, foi ele o principal articulador do Tratado de Petrópolis, assinado a 17 de novembro de 1903, na cidade fluminense.
Em respeito à sua memória e sua articulação sobre o acordo diplomático, os governantes do Território do Acre batizaram a incipiente capital com seu nome.
E neste domingo (17), o Acre celebra aquilo que é considerado uma das principais obras do “Barão do Rio Branco” na pacificação do Acre e na expansão do território do Brasil na fronteira com Bolívia e Peru. Pelo Tratado, naquele dia, o Brasil ganhava um território que sonhava ser brasileiro, que lutou por sua soberania e que se tornaria um dos maiores símbolos de resistência nacional: o Acre.
Nos dias atuais, sem disfarçar o orgulho, o Governo do Acre celebra os 121 anos do Tratado de Petrópolis, resgatando a trajetória de um povo que, contra todas as adversidades, conquistou o direito de ser parte da nação brasileira.
Assinado entre o Brasil e a Bolívia, o Tratado de Petrópolis selou o fim de disputas territoriais e trouxe para o Brasil uma região rica em recursos naturais e valores culturais únicos.
Em meio à floresta amazônica – onde o seringalismo impulsionava a economia e despertava interesse internacional – brasileiros migrantes e seringueiros estabeleceram-se em terras oficialmente bolivianas.
Essa ocupação não foi fácil nem sem embates: os acreanos, guiados por líderes como Plácido de Castro, protagonizaram a Revolução Acreana e insistiram em ser reconhecidos como brasileiros.
Com a mediação habilidosa do Barão do Rio Branco, o Tratado de Petrópolis garantiu que esse desejo se tornasse realidade, consolidando o Acre como parte do território nacional.
Nos dias atuais, o governador Gladson Cameli, prestes a chegar à metade de seu segundo mandato, diz que lembrar essa história é essencial, não apenas por suas conquistas, mas também pelo compromisso de preservar a memória cultural e histórica para as gerações presentes e futuras.
“O Acre lutou para ser brasileiro e, hoje, nosso dever é contar essa história, manter viva a nossa identidade e honrar a coragem dos nossos antepassados”, declarou Cameli.
Nos últimos anos, o governo do Estado empreendeu esforços para revitalizar os espaços que narram toda a história acreana, contribuindo para o fortalecimento do patrimônio cultural e histórico do estado. O Museu da Borracha, fundado em 1978 e situado no Centro de Rio Branco, é um dos principais símbolos dessa memória.
Com nove salas que remontam a momentos históricos da Revolução Acreana e dos ciclos da borracha, o museu foi revitalizado e, hoje, se apresenta como um ponto de encontro para o povo acreano, onde memórias e objetos da história são preservados e exibidos ao público.
“Este museu conta uma parte muito importante da nossa formação histórica, e as portas estão abertas para receber a população e visitantes”, afirma Minoru Kinpara, presidente da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour (FEM).
Outro local emblemático é o Memorial dos Autonomistas, também no Centro de Rio Branco, que celebra a luta pela elevação do Acre à condição de Estado em 1962.
O espaço abriga um mausoléu onde estão os restos mortais de José Guiomard dos Santos, o “Pai da Autonomia Acreana”, e sua esposa Lydia Hammes, reverenciando as articulações e movimentos políticos que permitiram ao Acre assumir sua identidade de Estado.
Em cada detalhe do Memorial, a história e o orgulho acreano são mantidos vivos, lembrando aos visitantes que o Acre é o único Estado brasileiro que conquistou o direito de ser parte do Brasil a partir de luta territorial.
O Museu dos Povos Acreanos e a memória viva de um povo. Há pouco mais de um ano, o governo do Acre entregou a primeira fase da revitalização do Museu dos Povos Acreanos, um projeto de grande importância cultural e turística para a região.
Com um investimento de mais de R$ 16 milhões, viabilizado com recursos próprios e do Banco Mundial, o prédio histórico do antigo Colégio Meta foi transformado em um museu multifacetado e interativo, que reúne acervos etnográficos, arqueológicos e históricos do Estado.
No Museu dos Povos Acreanos, a memória do estado é celebrada em diversos ambientes, como a Sala Chico Mendes e a Sala Floresta Acreana, que retratam o universo do seringueiro e a luta ambientalista, eternizando a imagem do mártir da floresta. A Sala das Personalidades, a Sala Interativa e outros espaços tecnológicos foram pensados para engajar o público e preservar o rico legado acreano.
“Esse é um ponto turístico que remete à nossa história e identidade. O museu é um presente para o povo acreano, uma homenagem ao que somos e ao que queremos preservar para o futuro”, destacou o governador Gladson Cameli.
O museu também conta com uma área de café, um auditório e uma praça interna, onde são realizadas apresentações artísticas e culturais, além de uma loja de artesanato, a Bem Acreano, que oferece produtos locais que valorizam a marca do Acre, como biojoias, itens de borracha, cerâmicas e souvenires que conquistam visitantes de todo o país.
Muito antes do Tratado de Petrópolis e da Revolução Acreana, as terras acreanas já abrigavam civilizações antigas que deixaram marcas impressionantes na paisagem amazônica.
Os geoglifos, misteriosas figuras geométricas escavadas no solo da região, são um testemunho da presença de povos indígenas que viviam no Acre muito antes da chegada dos europeus ao continente.
Provando o quanto a história do Acre é fascinante em momentos diferenciados, em 2024, esses monumentos pré-históricos ganharam destaque mundial ao aparecerem na série Ancient Apocalypse, da Netflix, que apresenta o ator Keanu Reeves e o pesquisador Graham Hancock discutindo a importância dessas estruturas para a compreensão da história humana na Amazônia.
Para a arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Antonia Damasceno, o potencial de transformar os geoglifos acreanos em Patrimônio da Humanidade é imenso, mas requer comprometimento coletivo e conscientização.
“Temos uma herança cultural e arqueológica de valor inestimável, mas precisamos nos apropriar dela. Isso significa educar as pessoas sobre a importância desses sítios e assegurar sua preservação para que possam se tornar um patrimônio da humanidade”, destacou Damasceno.
Comemorar o Tratado de Petrópolis é, para o Acre, honrar uma história de luta e uma identidade única, que foi forjada com suor, coragem e sangue.
Nesta data, o governo acreano se empenha para que o legado de nossos antepassados permaneça vivo, preservando o patrimônio cultural, recuperando espaços de memória e criando novas oportunidades de turismo e conhecimento histórico, lembrou o governador.