ContilNet Notícias

Acre é pioneiro na inclusão de dentistas em UTIs e se destaca ao apresentar pesquisas no Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva

Por Agência de Notícias do Acre

Elevando o nome do Acre a nível nacional, uma equipe de profissionais do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) e do Hospital da Criança representou o estado no 29º Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI), que ocorreu em São Paulo entre os dias 14 e 16 de novembro em São Paulo.

Comitiva apresentou resultados de pesquisas feitas no Acre em Congresso Nacional. Foto: cedida

Três trabalhos desenvolvidos pela equipe do Huerb foram aprovados e expostos no encontro, que aborda novas tecnologias, humanização e reintegração plena dos pacientes atendidos nas UTIs.

“A aplicação das novas tecnologias no diagnóstico, monitorização, tratamento e acompanhamento da evolução dos pacientes internados nas nossas terapias intensivas associada a um cuidado humanístico centrado no paciente, respeitando as necessidades e as características individuais de cada ser humano é nossa meta principal deste congresso”, destacou Carmen Silvia Valente Barbas, presidente do CBMI 2024.

Foram apresentados os trabalhos:

– Análise do tempo de normossialia diante do uso da atropina 1% versus fotobiomodulação com laser de baixa intensidade, do cirurgião dentista Antonio Freire;

– Atuação da Odontologia Hospitalar na prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica: um estudo de caso-controle na Amazônia Ocidental brasileira, da cirurgiã-dentista Wânia Tojal;

– Mudanças na percepção de familiares de pacientes admitidos na UTI após acolhimento multiprofissional – um estudo na Amazônia Ocidental, da enfermeira Áurea Rodrigues.

“Os trabalhos abordaram novos manejos para regressão da sialorreia de forma mais efetiva do que as técnicas atualmente existentes, já que a saliva em abundância nos pacientes intubados pode escoar para os pulmões causando pneumonia, o que pode ser grave”, explica o cirurgião-dentista Antonio Freire, que participou dos três trabalhos.

A outra linha de pesquisa elaborou um instrumento para avaliar a mudança de percepção de familiares internados em UTI quando toda a equipe se reunia para explicar o trabalho desenvolvido. Segundo ele, atualmente não há como avaliar essa visão.

“O familiar respondia a um questionário antes da visita e imediatamente depois da visita, o que nos mostrou que o acolhimento dos familiares demonstra uma mudança de entendimento sobre o que acontecia em uma UTI, já  que o pensamento, de modo geral, era de que a UTI era um lugar onde as pessoas estavam cheias de máquinas prestes a morrer”, pontua.

Já após os esclarecimentos e suporte dado pela equipe de médicos, foi constatado um entendimento mais real do atendimento dado àquele paciente e como cada profissional que compõe a UTI atua na recuperação desse paciente.

A profissional que atende no Hospital da Criança também abordou a assistência odontológica com a redução da pneumonia, uma vez que na boca existem bactérias que podem ser migradas aos pulmões, causando risco de morte.

Na área de nutrição, foi apresentado um estudo sobre os desafios e resultados da adequação nutricional em UTI do Acre, proposto pelos nutricionistas Eduarda Araújo e Celso Ritter.

“A importância em se realizar e apresentar esses estudos está baseada em sua relevância. Quando se observa a literatura vigente, nenhuma pesquisa no mundo desenvolveu trabalhos direcionados a esses tópicos. Na prática, vemos redução dos quadros de hipersalivação, reduzindo a incidência de macerações, infecções em boca e risco de pneumonia broncoaspirativa, também um melhor vínculo com os familiares dos pacientes e qualidade na assistência aos pacientes”, pontua Freire.

Mudança na percepção de familiares admitidos em Unidade de Terapia Intensiva: um estudo transversal na Amazônia Ocidental foi um dos estudos apresentados. Foto: cedida

Impacto dos estudos

Freire avalia, ainda, que essas pesquisas são importantes para a melhoria da qualidade assistencial, mas também são um incremento científico no estado do Acre, por serem estudos que passaram por um crivo ético e metodológico e todos testaram e aprovaram a hipótese levantada.

“A Odontologia da UTI II do Huerb desenvolveu um Ensaio Clínico Randomizado, que é o estudo mais relevante e mais complexo de todos os estudos clínicos existentes. A cirurgiã-dentista do Hospital da Criança desenvolveu um estudo de caso-controle, que avaliou grupo de pacientes que recebeu assistência odontológica rotineira em relação a um grupo de pacientes quando a odontologia não estava inserida no hospital, verificando que o risco de desenvolver pneumonia estava associado à ventilação mecânica”, classificou.

Acre é um dos pioneiros a implantar dentistas em UTIs do estado. Foto: cedida

Dentre as demandas em Odontologia Hospitalar, destaca-se a importância da presença do cirurgião dentista diante das necessidades apresentadas pelos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva. Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que exista dentistas em todas as UTIs do Brasil.
“Isso é, tendo em vista que, diante da internação, a boca é colonizada por bactérias que também causam pneumonias. Além disso, as fissuras da boca, o trauma com o tubo, os machucados por mordedura involuntária, o controle da hipersalivação ou hipossalivação são práticas rotineiras na UTI. O dentista também controla os focos de infecção já instalados na boca, como extração dentária, drenagem de abscessos e auxílio na determinação de medicações antifúngicas e antivirais quando há manifestações bucais”, explica o cirurgião dentista.

Porém, ele explica que, como é apenas uma recomendação, a presença do profissional não é obrigatória, “tornando o estado do Acre um dos pioneiros a implantar dentistas em todas as UTIs públicas, o que não é realidade em outros locais do país”, completa.

O treinamento, atualização, profissionalização e valorização da equipe multiprofissional que atua nas nossas Terapias Intensivas foram destaques desse encontro.

“O planejamento terapêutico multidisciplinar visando o conhecimento aprofundado da doença aguda do paciente crítico, iniciando de forma precoce os cuidados de proteção cerebral, pulmonar, renal e neuro-muscular associado às técnicas avançadas de reabilitação, propiciarão uma melhor recuperação do paciente crítico, permitindo uma reintegração e sua volta à família e ao trabalho”, findou Carmen Silvia Valente Barbas, presidente do CBMI 2024.

Sair da versão mobile